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Cápsula do tempo: Al Capone e a poderosa arma do fisco

O norte-americano de ascendência italiana Al Capone cometeu todos os crimes que é possível imaginar, mas só a fuga ao fisco permitiu que acabasse por ser preso. Morreu faz hoje 70 anos.
25 Janeiro 2017, 09h05

Os pais eram imigrantes italianos quando, nos Estados Unidos, isso queria dizer que faziam parte das bordas mais frágeis da sociedade. Cresceu na rua quando a rua era um lugar de batalhas, de pancadaria e de algumas mortes. Fez parte de bandos de jovens que tinham como único divertimento esconder a falta de esperança nas peripécias dos desatinos de grupo. Chamava-se Alphonse Gabriel Capone e, em 1930, tinha fama garantida para o resto da vida: era o mais terrível dos bandidos, frio, calculista e sem escrúpulos – mas, ao mesmo tempo, parecia que nada nem ninguém lhe podia tocar.

A Lei Seca (1920-1933) fê-lo crescer em dólares, em fama e em violência: numa das mais estranhas alturas da sociedade norte-americana, Capone controlava parte substancial da venda ilegal de todos os líquidos que tivessem ao menos um resquício de álcool, mesmo que fosse apenas isso, álcool. Mas não só. O seu império dividia-se em vários ramos: prostituição, apostas ilegais, corrupção que permitia manter tudo isso – num ‘trust’ que chegou a facturar mais de 100 milhões de dólares.

As tentativas de o levar à barra dos tribunais esbarravam indefinidamente em álibis poderosos, mas principalmente numa rede corrupta de polícias, políticos e membros da alta finança que não podiam ficar indiferentes à dimensão que o grupo Capone tinha atingido.

Até que alguém se lembrou que podia ser apanhado nas malhas do fisco. E foi isso que aconteceu. Escapou aos crimes, à violência, à corrupção, à chantagem, ao roubo e a tudo o mais que possa ser recordado como o menu da alta criminalidade de então, mas não escapou à fuga aos impostos. De algum modo, Al Capone é o espelho de uma América que ainda hoje dificilmente se entende fora dela: o dinheiro, por muito sujo ou ensanguentado que seja, merecia respeito e consideração.

Foi a autoridade fiscal que conseguiu mantê-lo por 11 anos dentro da prisão – e esse tempo foi o suficiente para cair em desgraça no seio do sindicato, o do crime, que o tinha venerado como uma figura cimeira. Como acontece sempre, as grades de ferro são suficientes para fazer desaparecer amigos, desobrigar corruptores passivos e afugentar ‘empreendedores’ que querem lançar-se na muito pouco nobre arte do sector. Saiu doente, sozinho e esquecido e morreu exactamente assim, em 25 de janeiro de 1947.

Qualquer semelhança entre a história de Al Capone e os grupos de elite que a autoridade fiscal de diversos países – incluindo Portugal – vai criando para perseguir fugas ao fisco, corrupção e lavagem de dinheiro, está muito longe de ser pura coincidência.

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