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Cápsula do tempo: António Champalimaud, o criador de impérios industriais

Quando morreu, a 8 de Maio de 2004, deixou o esboço de uma fundação e uma vida repleta de episódios romanescos. A sua vida dava, verdadeiramente, um filme.
8 Maio 2017, 07h35

Figura incontornável da economia e da sociedade do século XX português, António de Sommer Champalimaud desaparaceu a 8 de Maio de 2004, aos 86 anos, depois de uma vida em que construiu dois, (ou talvez mesmo três)  impérios empresariais, um em Portugal – que perderia com as nacionalizações de 1975 – outro no Brasil, para onde foi viver por essa altura, e um terceiro novamente em Portugal, depois de ter assegurado a compra do Banco Totta & Açores.

A sua vida empresarial foi sempre rodeada de polémica, a que nunca virou costas, e o antigo regime, anterior a 1974, teve de se haver com as suas investidas, que tolerava mas de que verdadeiramente não gostava. A mais célebre terá sido quando Champalimaud concluiu a compra do Banco Português do Atlântico (BPA) a Artur Cupertino de Miranda, prevendo ficar com parte substancial do mercado financeiro (e de seguros) português nas suas mãos – uma vez que já contava com uma participação maioritária no Banco Pinto e Sotto Mayor (BPSM).

O governo de então, liderado por Marcello Caetano, não gostou da ousadia – mas a única forma de resolver a questão, engendrada por um economista que haveria de ir longe, Carlos da Câmara Pestana, foi produzir um decreto-lei que proibia a concentração de bancos sem a autorização do Estado. O problema é que o decreto assumir a retroactividade (precisamente para poder opor-se à compra já efectuada do BPA), o que Marcelo sabia ser muito pouco hortodoxo. No final a compra desfez-se, mas Marcelo nunca se perdoaria por tão grosseiro atropelo à legalidade constitucional, assim como Champalimaud nunca perdoaria ao regime.

Outro caso tremendamente polémico foi o da herança Sommer, dirimida em tribunal por causídicos de grande linhagem – Champalimaud recorreu a Salgado Zenha, não se importando minimamente com o facto de o futuro candidato à presidência ser já na altura conotado com a oposição. O Empresário haveria de fugir do país, para o México, na sequência do caso.

Quando regressou a Portugal e comprou o Totta & Açores – que era, antes das nacionalizações, da família Mello, a que Champalimaud estava ligado pelo seu primeiro casamento (era cunhado de José Manuel e Jorge de Mello) – entrou em nova polémica, desta vez por suspeitas de que o banco acabaria por ir parar às mãos dos espanhóis do Santander.

Finalmente, Champalimaud acabou por deixar de ter negócios em Portugal. Mas, quando morreu, deixou no seu testamento 500 milhões de euros para a criação de uma fundação destinada à investigação na área da investigação biomédica. A Fundação D. Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud – os seus pais, é hoje uma das mais importantes instituições nacionais de investigação.

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