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Carlos Silva deixa BCP porque já acabou o processo de reestruturação do banco

Numa carta enviada ao presidente do conselho de administração do banco, a que o Jornal Económico teve acesso, Carlos Silva considera que o resultados apresentados “mais do que expressam o fim de um ciclo na vida do banco, mas simbolizam o início de uma nova era”.
22 Fevereiro 2018, 18h23

O vice-presidente do BCP Carlos Silva vai abandonar a instituição financeira liderada por Nuno Amado, considerando que os resultados registados pelo banco no ano passado marcam o final de um processo de reestruturação e o “início de uma nova era”.

Os resultados líquidos do Banco Comercial Português (BCP) foram multiplicados por mais sete no ano passado, face a 2016, para 186,4 milhões de euros, beneficiando de uma melhoria da margem financeira e de uma redução significativa das imparidades.

Numa carta enviada ao presidente do conselho de administração do banco, a que o Jornal Económico teve acesso, Carlos Silva considera que o resultados apresentados “mais do que expressam o fim de um ciclo na vida do banco, mas simbolizam o início de uma nova era”.

Numa missiva com nove parágrafos, o também presidente do conselho de administração do Banco Atlântico diz que, “estando consolidado, com sucesso, o ciclo de turnaroud do banco [comercial português]”, dá por concluída a sua “missão” nos órgãos de gestão do Millennium BCP, “pelo que deixa de fazer sentido a integração de quaisquer órgãos sociais [do banco] num novo mandato”.

Esta posição alinha com o facto de o grupo de maiores acionistas do BCP, liderado pela Fosun – que tem uma participação de 25,16% –, estar em conversações com o Banco Central Europeu (BCE) para elaborar a lista dos órgãos sociais para o próximo mandato, reduzindo o número de administradores da instituição financeira, como noticiou o Jornal Económico.

Tal como aconteceu com a CGD, o BCE recomenda um máximo de 15 administradores, face aos atuais 19 que tem o BCP. Menos administradores, mais independentes no grupo de não-executivos (e, por isso, menos ligados aos grandes acionistas) e mais mulheres (20% do total do conselho). O supervisor quer também que sejam cumpridas no conselho de administração as regras de experiência. Aos administradores não-executivos, cuja função deve ser principalmente fiscalizadora, o BCE pede três anos de experiência em gestão e conhecimentos teóricos no setor bancário. Já ao presidente-executivo (CEO) são pedidos 10 anos de experiência prática recente em áreas relacionadas com serviços bancários e financeiros, sendo que grande parte dela em cargos de topo.

Recuperação e elogios

Na carta endereçada a António Monteiro, Carlos Silva recorda que a banca europeia “passou por desafiantes e complexos ciclos de transformação”, em consequência da crise.

“Ao longo dos últimos três ciclos de gestão do Millennium BCP foi possível, através de uma criteriosa escolha de equipas de gestão executivas, com o apoio incondicional dos principais acionistas, o compromisso dos colaboradores, bem como dos demais stakeholders, ir encontrando as equações que permitiram, por um lado, concretizar, com sucesso, os ciclos de reforço de capitais próprios do banco e, por outro, adequar a performance operacional e melhorar de forma rigorosa os riscos de balanço”, acrescenta.

Carlos Silva elogia António Monteiro e, também, a comissão executiva do banco, liderada por Nuno Amado.

“Considero que o principal desafio estratégico do Millennium BCP para o novo ciclo de gestão está estritamente relacionado com a capacidade do banco liderar a sua contínua transformação”, diz o gestor, acrescentando a certeza de que “os futuros membros dos órgãos sociais do banco e toda a equipa de profissionais irão desempenhar, com sucesso, a estratégia definida pelos acionistas nestes novos tempos, que continuarão a ser desafiantes”.

O problema Fizz

Carlos Silva tem sido notícia por estar envolvido no julgamento da chamada “Operação Fizz”, em que o antigo procurador Orlando Figueira é acusado de ter sido corrompido pelo ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente.

Nesta altura, a justiça está a investigar a veracidade das declarações de Orlando Figueira que alega que o advogado Daniel Proença de Carvalho, agindo em nome de Carlos Silva, lhe terá prometido emprego e o pagamento das despesas com a sua defesa, caso o procurador se mantivesse em sigilo determinadas matérias.

Carlos Silva tem sido referido inúmeras vezes no julgamento e os juízes decidiram agendar a inquirição do banqueiro angolano para os dias 6,7 e 8 de março, presencialmente, depois de este se ter disponibilizado para prestar declarações através de videoconferência.

Silva contratou o procurador português Orlando Figueira para este sair do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) para trabalhar numa empresa do grupo Banco Privado Atlântico, mas Figueira acabou por ser contratado pelo BCP.

O Ministério Público está convencido de que estes contratos eram fictícios e serviram para justificar o pagamento de luvas ao antigo procurador, por este ter arquivado investigações em que o ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente era suspeito.

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