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Carros, férias e (muito) luxo. Os segredos do financiamento norte-coreano

Acredita-se que, com negócios ilícitos em que o regime de Kim Jong-un esta envolvido, o país consiga centenas de milhares de euros, que lhe permitem a à elite desfilar de Mercedes Benz, passear de iate reluzente ou beber os mais caros licores do mundo.
22 Junho 2017, 13h34

Apesar da crise económica que se abateu sobre a Coreia do Norte, impulsionada pelas constantes sanções internacionais, o regime do líder Kim Jong-un e uma pequena elite burocrática continuam a desfrutar de uma vida de luxo. Carros, estâncias de férias e produtos provenientes das mais sofisticadas marcas de luxo. Enquanto o país se afunda na crise, as importações de produtos de luxo ascendem aos 579,3 milhões de euros e representam mais de metade das compras processadas pelo país a parceiros estrangeiros.

A Coreia do Norte até pode ser o país mais isolado do mundo, liderado pelo enigmático Kim Jong-un, mas no que toca à aquisição de bens de luxo, a história é outra. Segundo especialistas contactados pelo canal norte-americano ‘CNN’, este tipo de despesas são pagas com recurso a um mealheiro que o Governo norte-coreano enche com base em negócios ilícitos em que está envolvido.

O país está acusado de crimes como venda de armas, tráfico de drogas, contrafação de dinheiro, pirataria informática e até mesmo tráfico de espécies em vias de extinção. Acredita-se que com estes negócios Kim Jong-un consiga centenas de milhares de euros, que lhe permitem desfilar de Mercedes Benz, passear de iate reluzente ou beber os mais caros licores do mundo.

“A Coreia do Norte venderá qualquer coisa a qualquer pessoa, desde que paguem”, afirma à CNN Anthony Ruggiero, ex-diretor-adjunto do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, argumentando que com o montante angariado Kim Jong-un pode continuar o seu programa de desenvolvimento nuclear e adotar um estilo de vida sem contenções financeiras, enquanto o resto do país vive na mais mísera penúria.

“Esse rendimento vai diretamente para os bolsos ou as contas bancárias da liderança norte-coreana, com um impacto desproporcionalmente elevado em comparação com o fluxo comercial”, disse Sheena Greitens, professora da Universidade do Missouri e especialista em financiamento norte-coreano.

A China é o maior parceiro económico da Coreia do Norte, representando 85% das importações do país e um volume total de cerca de 2.65 mil milhões de euros, em bens de primeira necessidade. Dados oficiais sobre as importações do país mostram que a logo a seguir à China, a Índia representa 3,1% das importações do país. Seguem-se a Rússia (2,3%), a Tailândia (2,1%) e as Filipinas (1,5%).

Mas os especialistas sublinham que “o regime é especialmente bom em encontrar formas de ocultar as suas atividades ilícitas”. Um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso, datado de 2008, mostra que Pyongyang adquiriu, na altura, de forma ilegal entre 450 milhões a 0,9 mil milhões de euros.

Os especialistas suspeitam que os negócios ilícitos da Coreia do Norte possam estar a ser fomentados pelo diplomatas em todo o mundo, que têm acesso a uma série de privilégios diplomáticos. “A Coreia do Norte tem sido bastante esperta nos últimos anos usando a cobertura diplomática para algumas de suas atividades”, explica Sheena Greitens, sublinhando que só na Associação das Nações do Sudeste (ASEAN), oito das dez nações constituintes mantêm relações diplomáticas estreitas com o país.

“Tudo se resume à China”, afirma Anthony Ruggiero. Nos últimos meses o presidente norte-americano, Donald Trump, tem cortejado o presidente chinês, Xi Jinping, para pressionar o desmantelamento do programa nuclear norte-coreano através do boicote às importações e de um estreitamento das relações diplomáticas. “No final, os Estados Unidos vão exigir ir atrás de bancos e empresas chinesas que são cúmplices destes negócios da Coreia do Norte”, acrescenta.

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