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Caso Marega. “Liga e FPF já condenaram o sucedido. É necessário, mas insuficiente”

Que consequências pode ter o caso Marega para o futebol português e para a reputação do país? Em entrevista ao JE, o antropólogo Daniel Seabra, especialista no fenómeno das claques, não tem dúvidas que a imagem do país sai prejudicada com o caso que sucedeu este domingo e que envolveu o futebolista maliano Moussa Marega.
17 Fevereiro 2020, 12h47

Daniel Seabra, antropólogo, professor universitário e autor do livro “Claques de Futebol: O Teatro das nossas realidades”, considera, em entrevista ao JE, que existe racismo em Portugal e que, no contexto do futebol, tal como aconteceu este domingo com o futebolista maliano Moussa Marega, estas manifestações de racismo assumem uma dimensão “instrumental e muito particular”.

 

Como é possível ter acontecido um episódio deste género no futebol português?

Ocorreu agora em Portugal uma manifestação idêntica a outras já verificadas em estádios de outros países. Não estou surpreendido porque há indicadores mais do que suficientes para podermos considerar que em Portugal há racismo. Tal é confirmado pelos resultados de algumas investigações no âmbito das Ciências Sociais.

No contexto de um jogo de futebol, estas manifestações de racismo assumem um dimensão instrumental e muito particular. O recurso a este tipo de manifestação racista é usado para prejudicar o rendimento do jogador adversário e, desta forma, ajudar a equipa da qual se é adepto a conseguir a vitória. Não é, contudo, esta particularidade que diminui ou atenua o carácter racista desta manifestação.

 

As claques do Vitória já tinham protagonizado alguns episódios pouco dignos para o clube que apoiam. Como pode a direção lidar com este problema?

Pela transmissão televisiva fiquei com a perceção de que a manifestação não se confinou apenas aos membros das claques do Vitória Sport Clube. Sem prejuízo do que afirmei, continuo a defender, como sempre defendi, que os clubes devem identificar os elementos das claques que são responsáveis por comportamentos que denotam racismo, atos violentos e de vandalismo, recorrendo posteriormente a mecanismos conducentes à punição dos infratores, conforme previsto na Lei n.º 113/2019, de 11 de setembro.

 

Que medidas urgentes devem tomar FPF e Liga Portugal?

As instituições que superintendem o futebol já condenaram o sucedido. É necessário, mas insuficiente. Importa agora que os órgãos disciplinares das mesmas apliquem a Lei vigente  e atribuam as punições que os factos justificam. Ainda sobre a aplicação da lei n.º 113/2019, de 11 de setembro, seria importante que a Liga Portugal e a FPF, bem como os clubes, desenvolvessem também as acções de prevenção socioeducativa previstas no artigo 6º e no artigo 9º.

 

Numa perspetiva mais global, que impacto económico pode a Liga sofrer ao nível da reputação e de um eventual afastamento dos patrocinadores?

Sabemos que esta manifestação não é boa para a reputação de Portugal. No entanto, parece-me prematuro concluir, desde já, e face ao sucedido, que a mesma possa ser conducente ao afastamento de patrocinadores.

 

As imagens estão a correr mundo. Que fazem estas imagens pela imagem do futebol nacional?

Mais grave do que dano causado à imagem de futebol português é os danos na reputação de Portugal.

 

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