1. O regresso de Aníbal Cavaco Silva ao cenário político português é o assunto da semana e merece uma análise cuidada e atenta.

Muitos teimam em desvalorizar o legado do antigo primeiro-ministro e ex-Presidente da República esquecendo que, desde 1985, quando chegou ao poder, obteve cinco vitórias, quatro delas com maioria absoluta, duas em legislativas e duas em eleições presidenciais.

Não é para qualquer um, como não é para qualquer um os anos de glória da economia portuguesa com um crescimento acentuado, uma inflação controlada e um país em processo de modernização, a integrar-se na hoje chamada linha europeia e com programas importantes, como o das reprivatizações que Cavaco Silva lançou.

Pode ter muitos defeitos, como todos temos, mas a verdade é que Cavaco Silva é único naquilo que representa para o país e para o seu partido, o PSD.

Nestes últimos dias, com as duas intervenções públicas que fez, um artigo no jornal online “Observador” e uma entrevista com Maria João Avillez para a CNN Portugal, Cavaco mostrou que está alerta, sabe apontar um caminho e fez justiça com Pedro Passos Coelho.

Aquilo que o PSD de Rui Rio andou a dizer e, pior, o que não disse em defesa de Passos Coelho veio agora Cavaco, com justiça, pôr os pontos nos “is”: a responsabilidade da assistência financeira internacional deveu-se aos governos de José Sócrates e o que Pedro Passos Coelho fez, disse, foi colocar o país, de novo, no caminho da sustentabilidade.

Cavaco também estendeu a carpete vermelha ao novo líder do PSD, Luís Montenegro, reconhecendo-lhe capacidade política. Pode ser um sinal mas antes disso, no “Observador”, mostrou o que um líder da oposição deve mostrar. Não tem medo de António Costa e, por isso, desafiou o atual primeiro-ministro a fazer tanto como ele fez nos governos de maioria, a fazer reformas e, sobretudo, a trilhar o caminho na senda do crescimento.

Da direita à esquerda ninguém ficou indiferente a este regresso de Cavaco Silva, porque Cavaco sabe gerir os seus silêncios e só intervém quando pensa ser estritamente necessário. O momento do país assim o exigiu, as ausências constantes do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, daquilo que é política com caixa alta também contribuíram para este regresso de uma semana às notícias, às colunas de opinião e aos noticiários televisivos.

Tal como apareceu, Cavaco Silva seguramente irá desaparecer do cenário mediático deixando o espaço para os atuais atores políticos. Ficará atento a partir do seu escritório junto ao rio Tejo. Isto significa, meus senhores e minhas senhoras, ter sentido de Estado.

2. O prolongamento da guerra e a subida da inflação na Europa está a deixar políticos e gestores nervosos. Claro que um conflito armado tão próximo de nós não pode ser apenas algo local, circunscrito geograficamente.

Não se trata de uma guerra nos confins de África ou da América do Sul, em que a preocupação é enviar ajuda alimentar às populações. Esta guerra obriga a sacrifícios de todos e, claro, a ainda maiores sacrifícios de quem está diretamente envolvido.

O tema da inflação e subida dos juros para controlar a perda do poder de compra é um dado adquirido. Não sabemos até onde vai este impacto e se teremos de rever os nossos conceitos e bem-estar. Nem nenhum economista consegue antecipar os próximos meses. No entretanto, aproveitemos alguns benefícios que as indústrias nacionais vão tendo. Caso do turismo e da renovação do poder da agricultura e das energias renováveis.