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CEO da Vodafone diz que falta de “inteligência estratégica prejudica futuro de forma irreversível”

“Há algo que tenho a certeza, é que a ausência de inteligência estratégica prejudica claramente o futuro de forma irreversível e o leilão do 5G, nos termos anunciados, é um exemplo disso mesmo”, afirmou Mário Vaz esta terça-feira.
  • Cristina Bernardo
17 Novembro 2020, 15h28

O presidente executivo da Vodafone Portugal afirmou hoje que a falta de “inteligência estratégica prejudica o futuro de forma irreversível”, sendo o leilão do 5G o exemplo disso, adiantando ter ainda “a esperança” de que o rumo mude.

Mário Vaz falava via ‘online’ no XXIV Encontro Nacional de PME do setor das Telecomunicações, organizado pela ACIST – Associação Empresarial de Comunicações de Portugal e subordinado ao tema “Inteligência Artificial (IA) – Impacto no Futuro dos Negócios e do Trabalho”.

“Há algo que tenho a certeza, é que a ausência de inteligência estratégica prejudica claramente o futuro de forma irreversível e o leilão do 5G, nos termos anunciados, é um exemplo disso mesmo”, afirmou Mário Vaz.

A Vodafone Portugal tem vários processos em processo tribunal no âmbito do leilão da quinta geração (5G), cujo regulamento acusa de ser discriminatório, uma posição igualmente defendida pelas concorrentes Altice Portugal e NOS.

“A litigância não é algo que nós, na Vodafone, apreciemos e utilizemos como ferramenta preferencial de atuação, mas a isso nos vimos forçados”, prosseguiu o gestor.

“Deposito ainda alguma esperança de conseguirmos mudar o rumo dos acontecimentos, que dessa forma possamos garantir a todos um futuro repleto de oportunidades e de trabalho conjunto para melhoria do país”, sublinhou Mário Vaz, que teceu duras críticas ao regulador Anacom.

“Faço esta intervenção num momento crítico para o setor telecomunicações”, disse Mário Vaz, recordando que trabalha nesta área há 28 anos.

“Fiz parte de uma empresa que iniciou a concorrência em Portugal”, “liderei áreas de negócio que foram fortemente impactadas e desafiadas pela entrada” de novo concorrente, acrescentou apontando que assumiu a liderança da Vodafone Portugal “na altura em que foram lançadas em Portugal as ofertas convergentes”.

Essa era uma época “em que a empresa e a presença da Vodafone era muito residual no negócio fixo e não tivemos qualquer apoio quer governamental, quer regulatório, para aceder e desenvolver ofertas na área a rede fibra, fizemos o caminho por nós próprios e promovemos acordos com terceiros”, sublinhou o gestor.

“Chegamos a 2020, um ano estranho e desafiador”, e a pandemia de covid-19 “demonstrou o quanto o setor é crítico para o país, o quanto é resiliente e comprometido” com Portugal, prosseguiu.

Tratava-se de “um ano que deveria ser marcado pelo início da disponibilização do 5G como infraestrutura do futuro, deveria ser um momento de anúncio de investimentos que garantissem esse futuro e a sustentabilidade do setor”, apontou Mário Vaz, que criticou a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom).

“E afinal estamos num momento de litigância, num momento nunca antes visto de ataques ao setor conduzido por quem tem responsabilidade de promover o seu desenvolvimento, estamos perante um ambiente desincentivador a esse investimento, estamos perante condições que obrigam os nossos acionistas a revisitar a sua aposta no nosso país”, acusou o presidente executivo da operadora.

Esta situação “obriga as equipas de gestão local a um esforço suplementar e de difícil, muito difícil debate, com os seus acionistas para procurar reverter essa pretensão”, alertou Mário Vaz.

O presidente executivo do grupo Vodafone, Nick Read, admitiu na segunda-feira rever os investimentos no mercado português, no âmbito do leilão 5G.

“Estamos perante decisões que colocam em xeque” a imagem de um país que era visto “como uma referência europeia no setor”, lamentou, referindo que o setor está a passar por “um momento em que se distorce a realidade, se dizem inverdades e se anda em sentido contrário do que o país precisa e a Europa necessita e anseia”.

Mário Vaz considera que há “um regresso ao passado”, ou seja, “olhar para um leilão do 5G em 2020 com olhos do final do século XX”, numa crítica implícita à Anacom e ao seu presidente, João Cadete de Matos.

“Olhar para um leilão do espectro como se fosse uma oportunidade de corrigir anomalias inexistentes no mercado, como se os operadores de hoje tivessem as condições e as circunstâncias que levaram a fazer apostas de elevado do risco que se fizeram no passado, hoje essas condições não existem e a pandemia veio ainda agravar mais essas dificuldades”, sublinhou.

O presidente executivo da Vodafone Portugal sublinhou que o problema não é a concorrência no setor, mas sim a discriminação.

“O que está claramente em causa é favorecer de forma totalmente desproprocional e injustificada os novos entrantes, o que está em causa é ficcionar a realidade, imputar culpas a quem não as tem, o que está em causa é exigir aos operadores existentes um nível de investimento e prazos de execução que não têm qualquer correlação com a evolução da procura, e sem atender ao momento que vivemos e as consequências daí resultantes para a sustentabilidade das empresas”, reiterou.

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