CEO do Santander Totta revela que são “poucos milhares” com crédito à habitação em risco de incumprimento

No entanto, Pedro Castro e Almeida deixou um alerta: “Se os juros subirem para 4%, vamos ter muito mais reestruturações”. Nesse cenário, este responsável acredita que a economia vai “arrefecer”, adiantando ainda que esse arrefecimento pode ser benéfico para Portugal.

Cristina Bernardo

Antes da apresentação de resultados, o CEO do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, fez considerações sobre os temas do momento, os créditos reestruturados no atual contexto de redução de rendimento das famílias, e subida esperada dos depósitos.

Ao todos são 265 mil os clientes com crédito à habitação no Santander Totta, disse o presidente executivo do banco na conferência de imprensa onde reportou uma duplicação dos lucros para 568,5 milhões de euros.

“Contactámos todos os clientes, com risco ou não, e para dar conta das opções que o banco tinha disponíveis”. Portanto o banco contactou os clientes, independentemente de serem ou não elegíveis para o diploma do Governo.

Outra coisa que o Santander Totta fez foi verificar toda a informação dos clientes em relação ao seu rendimento real. “Apenas em 20% dos clientes não tínhamos a informação toda”, disse o CEO.

Esta informação é importante para calcular a taxa de esforço e saber quem cabia nos critérios da taxa de esforço definida no decreto-lei do Governo.

“Os clientes onde detectámos risco de incumprimento são poucos milhares”, revelou Pedro Castro e Almeida que acrescentou que “estamos a ajudar os clientes”. O CEO deixou no entanto um alerta “se os juros subirem para 4% vamos ter muito mais reestruturações”. Nessa altura a economia vai “arrefecer”, disse, considerando que pode ser benéfico para Portugal esse arrefecimento.

O CEO do banco detalhou depois que são cerca de dois mil clientes que são elegíveis para o PARI, mas ainda não estão todos esses créditos renegociados.

No que toca às marcações, o CEO do banco explicou que a Central de Risco do Banco de Portugal (CRC) “tem a caracterização (marcação) como crédito reestruturado todos os créditos com alteração contratual, quer seja em incumprimento ou crédito sem incumprimento”.

O que diz o BdP e qual é a realidade que existe nos bancos? Pergunta o banqueiro que imediatamente lembra que o Banco de Portugal veio dizer que os créditos reestruturados no âmbito do PARI (Plano de ação para o risco de incumprimento) não estão marcados no campo dos incumpridos.

Mas, lembra Pedro Castro e Almeida, “há uma realidade dentro dos bancos e que tem a ver com o facto de, por exigência da EBA e do BCE, serem obrigados a registar no sistema os clientes com indícios de dificuldades”. O CEO do Santander Totta, diz que “na nova concessão de crédito naturalmente que importa ao banco saber se aqueles clientes tiveram dificuldades financeiras”.

“Não é indiferente este registo para futuros créditos”, refere Pedro Castro e Almeida. “Isto não pode funcionar como bar aberto”, disse lembrando que essa é a realidade dos bancos desde a crise do Lehman Brothers.

O CEO reconheceu que o banco regista um aumento de 30% das amortizações antecipadas de crédito à habitação.

Já quanto aos depósitos cujas taxas de juros tardam em acompanhar a subida dos juros da Euribor, o presidente do Santander Totta explicou que o nível de concentração de depósitos em Portugal é muito alto. “Pessoas com poupanças elevadas em Portugal são poucas” e cerca de “80% das pessoas não tem poupanças”, disse.

“Entre 2014 e 2022 a taxa de depósitos do BCE foi negativa e não foi passado isso para os clientes”, lembrou.

O CEO do banco explicou que a banca tem liquidez excessiva, devido ao facto da taxa de transformação de depósitos em crédito ser muito baixa, chegou a ser de 160% e agora é de para 80%. O rácio de transformação de depósitos em crédito do Santander Totta, ao contrário do sector, é acima de 100% (110,5%).

“As taxas de juros subiram rapidamente, e só agora estamos a começar a assistir à subida dos juros dos depósitos e vai acontecer nos próximos meses com calma. Mas há alternativas de poupança, cerca de sete mil milhões de euros foram canalizados para certificados de aforro”, disse Pedro Castro e Almeida.

“O Santander tem um contrato de prestação de serviços com Portugal e temos vindo a crescer. Esse é o nosso compromisso”, concluiu.

Já na fase das perguntas e respostas o banco falou da participação em dois fundos de reestruturação da ECS, “tínhamos 15% num e 4% noutro”, o que segundo a administração se traduziu num desinvestimento de 40 milhões, “sem mais ou menos valias relevantes porque estavam avaliados ao justo valor de mercado”.

O impacto na conta de resultados não foi significativo, disse a administração do banco.

Relacionadas

Santander Totta com lucros de 568,5 milhões duplicam face a 2021

O Santander Totta divulgou um resultado líquido recorrente de 568,5 milhões de euros em 2022, o que traduz uma subida de 90,4%. A rentabilidade dos capitais próprios (ROE) fixou-se em 12,3%.

Grupo Santander com lucros recorde de 9.605 milhões de euros em 2022 (com áudio)

Só no último trimestre do ano, entre outubro e dezembro, o Santander, que é dono em Portugal do Santander Totta, teve lucros de 2.288 milhões de euros, mais 1% do que no mesmo período de 2021, segundo os resultados comunicados hoje pelo banco às autoridades espanholas.
Recomendadas

Liquidação do Credit Suisse teria causado consideráveis prejuízos económicos, diz ministra suíça

A ministra das Finanças suíça explicou este sábado que a liquidação do Credit Suisse teria causado “consideráveis” prejuízos económicos. Isto numa altura em que a venda de urgência dessa instituição tem sido criticada.

CEO do BCP apela ao Governo para manter o rating da República em “grau de investimento”

“É tempo de atuar, de assegurar que os fundos sejam integralmente investidos. É tempo de implementar com rigor e transparência, é chegado o tempo para monitorizar a execução de forma a corrigir atempadamente o que houver a corrigir, se e quando se constatar que alguma das premissas iniciais era ou se tornou errada”, apelou Miguel Maya perante uma plateia onde estavam membros do Governo.

Miguel Maya garante que “o tecido económico português pode contar com um sector financeiro robusto”

O presidente executivo do BCP falava na Millennium Talks em Leiria perante uma plateia de empresários e alguns membros do Governo, quando abordou o tema da crise na banca.
Comentários