Antes da apresentação de resultados, o CEO do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, fez considerações sobre os temas do momento, os créditos reestruturados no atual contexto de redução de rendimento das famílias, e subida esperada dos depósitos.
Ao todos são 265 mil os clientes com crédito à habitação no Santander Totta, disse o presidente executivo do banco na conferência de imprensa onde reportou uma duplicação dos lucros para 568,5 milhões de euros.
“Contactámos todos os clientes, com risco ou não, e para dar conta das opções que o banco tinha disponíveis”. Portanto o banco contactou os clientes, independentemente de serem ou não elegíveis para o diploma do Governo.
Outra coisa que o Santander Totta fez foi verificar toda a informação dos clientes em relação ao seu rendimento real. “Apenas em 20% dos clientes não tínhamos a informação toda”, disse o CEO.
Esta informação é importante para calcular a taxa de esforço e saber quem cabia nos critérios da taxa de esforço definida no decreto-lei do Governo.
“Os clientes onde detectámos risco de incumprimento são poucos milhares”, revelou Pedro Castro e Almeida que acrescentou que “estamos a ajudar os clientes”. O CEO deixou no entanto um alerta “se os juros subirem para 4% vamos ter muito mais reestruturações”. Nessa altura a economia vai “arrefecer”, disse, considerando que pode ser benéfico para Portugal esse arrefecimento.
O CEO do banco detalhou depois que são cerca de dois mil clientes que são elegíveis para o PARI, mas ainda não estão todos esses créditos renegociados.
No que toca às marcações, o CEO do banco explicou que a Central de Risco do Banco de Portugal (CRC) “tem a caracterização (marcação) como crédito reestruturado todos os créditos com alteração contratual, quer seja em incumprimento ou crédito sem incumprimento”.
O que diz o BdP e qual é a realidade que existe nos bancos? Pergunta o banqueiro que imediatamente lembra que o Banco de Portugal veio dizer que os créditos reestruturados no âmbito do PARI (Plano de ação para o risco de incumprimento) não estão marcados no campo dos incumpridos.
Mas, lembra Pedro Castro e Almeida, “há uma realidade dentro dos bancos e que tem a ver com o facto de, por exigência da EBA e do BCE, serem obrigados a registar no sistema os clientes com indícios de dificuldades”. O CEO do Santander Totta, diz que “na nova concessão de crédito naturalmente que importa ao banco saber se aqueles clientes tiveram dificuldades financeiras”.
“Não é indiferente este registo para futuros créditos”, refere Pedro Castro e Almeida. “Isto não pode funcionar como bar aberto”, disse lembrando que essa é a realidade dos bancos desde a crise do Lehman Brothers.
O CEO reconheceu que o banco regista um aumento de 30% das amortizações antecipadas de crédito à habitação.
Já quanto aos depósitos cujas taxas de juros tardam em acompanhar a subida dos juros da Euribor, o presidente do Santander Totta explicou que o nível de concentração de depósitos em Portugal é muito alto. “Pessoas com poupanças elevadas em Portugal são poucas” e cerca de “80% das pessoas não tem poupanças”, disse.
“Entre 2014 e 2022 a taxa de depósitos do BCE foi negativa e não foi passado isso para os clientes”, lembrou.
O CEO do banco explicou que a banca tem liquidez excessiva, devido ao facto da taxa de transformação de depósitos em crédito ser muito baixa, chegou a ser de 160% e agora é de para 80%. O rácio de transformação de depósitos em crédito do Santander Totta, ao contrário do sector, é acima de 100% (110,5%).
“As taxas de juros subiram rapidamente, e só agora estamos a começar a assistir à subida dos juros dos depósitos e vai acontecer nos próximos meses com calma. Mas há alternativas de poupança, cerca de sete mil milhões de euros foram canalizados para certificados de aforro”, disse Pedro Castro e Almeida.
“O Santander tem um contrato de prestação de serviços com Portugal e temos vindo a crescer. Esse é o nosso compromisso”, concluiu.
Já na fase das perguntas e respostas o banco falou da participação em dois fundos de reestruturação da ECS, “tínhamos 15% num e 4% noutro”, o que segundo a administração se traduziu num desinvestimento de 40 milhões, “sem mais ou menos valias relevantes porque estavam avaliados ao justo valor de mercado”.
O impacto na conta de resultados não foi significativo, disse a administração do banco.