O retomar das taxas de juro nominais positivas reforçou a atratividade dos certificados de aforro, considera o Chief Investment Officer do Banco Carregosa, Mário Carvalho Fernandes, mas o limite, alerta, pode estar próximo e a “oportunidade relativa” a esgotar-se. A falta de capacidade de poupança por parte dos portugueses tem raízes históricas, mas a fraca literacia financeira não ajuda.
“Depois de um período de alguma anormalidade com taxas de juro nulas ou negativas em muitos casos, o regresso de taxas de juro nominais positivas volta a atrair a atenção dos aforradores e dos investidores para soluções de investimento que se apropriem dessas taxas de juro, agora mais atrativas”, explica o CIO. “Num ambiente de taxas de juro crescentes, e ainda continuamos a falar de taxas de juro em subida, no imediato, os investidores devem procurar, acima de tudo, instrumentos que renovem frequentemente as taxa de juro a que estão investidos.”
Mário Carvalho Fernandes admite que as taxas e os certificados de aforro cumprem esse desígnio e que têm, de facto, nos últimos meses, estado com um enquadramento “bastante benéfico para a sua atratividade”, com a subida das taxas de referência. Mas por um lado, o especialista alerta que os instrumentos “estão a atingir o seu limite máximo”.
Os certificados de aforro têm um patamar máximo para a taxa de juro, e como esclarece Fernandes, “caso as taxas de juro continuem a subir mais um pouco, os certificados de aforro vão perder alguma oportunidade relativa e, por outro lado, se vier a acontecer aquilo que o mercado espera das taxas de juro ao longo de um semestre, e no próximo ano começarem a infletir, as próprias taxas de juro de referência e os certificados de aforro também vão começar a fazer reset a níveis cada vez mais baixos”.
Algures neste período, acrescenta, será “importante para os investidores” começar a avaliar investimentos alternativos que tirem proveito das taxas mais altas durante mais algum tempo.
É que os certificados de aforro vêem as suas taxas renovadas trimestralmente. O responsável do Banco Carregosa antecipa que as atenções se comecem a virar para “carteiras de obrigações de taxa fixa com prazos de três, cinco anos que começam a ser atrativas para os aforradores, nomeadamente aqueles que têm um património um pouco mais avultado e que podem balancear um pouco a sua carteira”.
Tempestade perfeita
A falta de hábito de poupança por parte dos portugueses “poderá derivar muito da história”, considera o mesmo. Em primeiro lugar, para se ter poupança “é necessário ter um rendimento disponível que cubra as necessidades correntes e ainda sobre algum rendimento que se possa colocar lá”. E historicamente isso nem sempre foi possível na sociedade portuguesa, pelo menos para a larga maioria das pessoas. “Quando nas últimas décadas começou a haver alguma capacidade de criar algum fôlego muita dessa capacidade acabou por ser dirigida para resolver um outro problema que as famílias também sentiam, que era a questão da habitação”, explica.
“E, portanto, essa capacidade de poupança muitas das vezes foi traduzida na construção de um património em tijolo e não tanto num património constituído por ativos financeiros”, diz.
“Diria que faz parte do desenvolvimento da sociedade suprimir essas suas necessidades mais essenciais e só depois poderá começar a constituir uma poupança traduzida num património financeiro, algo que vai automaticamente alimentar a procura das pessoas e das famílias por uma maior literacia financeira”, acrescenta.
Ainda sobre a repentina e repetida subida das taxas de juro, Mário Carvalho Fernandes alerta que se pode estar perante “uma tempestade perfeita de crédito à habitação”, desde logo que porque o sector bancário “está sempre exposto a esta atividade”, sobretudo no mercado português, onde a maioria da população está “mais exposta ao crédito indexado a taxas de juro variáveis”.