Em tempos de incerteza quanto ao momento e intensidade da recuperação da economia por causa da quebra da atividade a nível mundial, a prudência tem sido a palavra de ordem dos líderes dos bancos, que procederam ao registo de provisões para eventuais perdas para crédito no primeiro trimestre de 2020 e, consequentemente, pressionaram os resultados.
A tendência começou a definir-se com os bancos norte-americanos de Wall Street, os primeiros a apresentar resultados relativos aos primeiros três meses do ano. Esta tendência começa agora a ganhar contornos em Portugal à medida que os bancos vão apresentando os resultados trimestrais.
Até ao momento, só o BPI, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Santander Totta apresentaram as contas relativas a 1 de janeiro e 31 de março de 2020 e fizeram, no conjunto, 122 milhões de euros em provisões. Entre os principais bancos a atuar em Portugal, ainda terão de apresentar resultados o Millennium bcp e o Novo Banco.
O BPI, a CGD e o Santander ressentiram-se da crise da Covid-19, que colocou a maioria da atividade económica em suspenso durante os sucessivos decretos do Estado de Emergência.
O banco de capitais públicos, liderado por Paulo Macedo, foi, até ao momento, o que fez provisões de maior montante, no valor de 60 milhões de euros, o que contribuiu para a quebra de 32% dos lucros consolidados no trimestre, para 86 milhões de euros, face aos primeiros três meses de 2019.
Paulo Macedo explicou esta quarta-feira, durante a conferência de imprensa da apresentação dos resultados, que a rentabilidade do banco do Estado foi afetada pelo reforço de provisões e imparidades de 60 milhões de euros, numa medida preventiva para antecipar efeitos da pandemia, tratando-se de imparidades genéricas.
Já o BPI provisionou 32 milhões de euros para perdas para crédito futuras, o que teve impacto no lucro líquido da instituição financeira ainda liderada por Pablo Forero, que contraiu 87% face ao primeiro trimestre do ano passado, para 6,3 milhões de euros.
O Santander Totta, liderado por Pedro Castro e Almeida, apresentou resultados esta quinta-feira e foi, até ao momento, a instituição financeira que registou provisões de menor valor: 30 milhões. No entanto, o CEO explicou que os resultados deste primeiro trimestre foram marcados pela “prudência” do banco, uma vez que estima que o malparado vai crescer, especialmente depois do fim das moratórias, que acaba a 30 de setembro.
As provisões tiveram impacto no resultado líquido do banco que integra o Grupo Santander, que caiu 13,4% para 118,9 milhões de euros.
Os valores das provisões até agora anunciadas pelos banqueiros em Portugal contrastam com os montantes das provisões registadas pelos bancos norte-americanos. Por exemplo, só o JPMorgan Chase registou provisões de 6,2 mil milhões de dólares.
Pedro Castro e Almeida explicou que existem normas contabilísticas distintas para tratar as provisões nos Estados Unidos e na Europa. “No caso dos Estados Unidos, por terem uma norma contabilística de registarem uma provisão genérica olhando para o futuro, registaram logo à cabeça provisões muito grandes. Na Europa as provisões vão ser registadas consoante as imparidades”, referiu o CEO do Santander, adiantando que em Portugal se tenha feito um misto destes dois modos de tratar as imparidades.
Ainda assim, o CEO do Santander alertou que “em todo o sistema financeiro mundial, vamos ter um aumento das imparidades”.
As previsões do Santander não apontam para que a economia nacional cresça de forma robusta como antes da crise da Covid-19. Neste contexto, o banco vai reforçar as imparidades todos os trimestres, até ao final do ano – em julho, em setembro e em dezembro.
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