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Changing Room, a startup luso-americana que calcula o impacto ambiental da roupa que vai comprar

Martim de Mello e Jeremy Yao são os fundadores da Changing Room, uma ‘startup’ que quer mostrar aos consumidores como comprar roupa de forma mais sustentável. O projecto, que é fruto de uma aula de inovação na Universidade de Colombia, em Nova Iorque, foi vencedor de um programa de verão de aceleração de ‘startups’ da própria instituição e que lhe garantiu 10 mil dólares para arrancar com a iniciativa.
4 Novembro 2021, 17h40

O consumidor atual está cada vez mais consciente das escolhas que faz, seja por causa do impacto no ambiente ou o impacto da carteira, e por isso os empreendedores e investidores olham com atenção para as soluções que tenham isso em conta. Uma delas é a Changing Room, uma startup luso-americana que visa alertar o consumidor para escolhas mais sustentáveis na hora da compra de uma peça de roupa online.

“O nosso principal objetivo é querermos ajudar as pessoas a ajudar o planeta através de melhores escolhas”, explicou Martim Melo CEO e fundador da iniciativa, em entrevista ao Jornal Económico, durante a Web Summit.

O projeto, que é fruto de uma aula de inovação na Universidade Colombia, em Nova Iorque (onde Martim concluiu o seu MBA), foi vencedor de um programa de verão de aceleração de startups da própria instituição e que lhe garantiu não só 10 mil dólares para arrancar com o projeto como também um novo braço direito, o colega de curso, Jeremy Yao.

“Quando fiz o pitch na aula “Think Bigger”, tive seis estudantes a querem juntar-se ao projeto e um deles foi o Jeremy”, contou. “Ambos tínhamos esta paixão e começámos a perceber que o problema exato que queríamos resolver não era só a falta de sustentabilidade na indústria da moda, mas sim o quão difícil era para os consumidores escolherem opções sustentáveis”.

A indústria da moda é atualmente um dos sectores que mais contribui para o colapso do ambiente ao acumular 95 milhões de toneladas de desperdício têxtil por ano — sendo que 85% acaba em aterros —e ao desperdiçar 20% dos 79 milhões de litros de água que consome ao ano. E a fast fashion —  um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados de forma rápida — faz com que a aquisição de roupa seja progressivamente menos sustentável.

A nível global, a indústria da moda é responsável por 10% de todas as emissões de CO2, o que representa mais emissões do que todos os voos internacionais e viagens de transporte marítimo juntos. Se nada mudar na indústria da moda, essa fatia de emissões poderá atingir os 26% até 2050, de acordo com um relatório de 2017 da Ellen MacArthur Foundation.

Mas como consegue a Changing Room colmatar este problema que não mostra sinais de enfraquecimento?

“O Changing Room surge no momento em que o consumidor faz uma compra roupa online”, explica Martim. “No momento em que seleciono um artigo, surge uma espécie de pop up no browser que me informa do impacto ambiental e me sugere alternativas parecidas mas de menor impacto”, alternativas estas que podem ser, ou não, da mesma marca onde o consumidor se encontra a realizar a sua compra — uma solução, reconhece o fundador, que pode causar alguns conflitos com as próprias marcas sendo que existe um risco de afastar os consumidores dos produtos daquela empresa.

“Nós queremos ajudar as pessoas para poderem ajudar o planeta com melhores escolhas e acho que vai ser muito negativo para as marcas estarem contra isso”, argumenta. “Nós podemos sugerir peças dentro da própria marca, que sejam mais sustentáveis, isso pode ser uma maneira de contrariar esse problema, porque é um risco, sem dúvida. Mas eu acredito que vai ser muito negativo para as marcas começarem a lutar contra uma solução que oferece transparência e que está a ajudar o planeta” atira.

Mas enquanto não há extensão, o Changing Room opera como site onde o consumidor pode à mesma fazer uma avaliação do artigo de roupa que quer comprar fazendo copy paste do link na ferramenta de cálculo de impacto. Para se tornar no projecto que Martim e Jeremy visionam, falta a preparação de uma base de dados com os milhares de produtos online, endossar a lista de parcerias, (uma área onde existe um “potencial brutal por explorar”)  e ainda garantir investimento.

“Só pessoas com dinheiro conseguem comprar artigos de fast fashion

Mas escolher opções mais amigas do ambiente nem sempre são amigas para a carteira.  Uma vez que não recorrem a materiais nem a métodos de produção tão poluentes ou baratoa, o valor do produto encarece o que faz com que muitos consumidores recorrem às alternativas da fast fashion para adquirirem os seus produtos. Algo que a longo prazo, e segundo Martim, acaba por ser mais dispendioso.

“Se tivermos em consideração o tempo de vida da peça de roupa, sai mais barato as opções que são mais caras ao início. Há uma coisa que se diz na indústria [da moda] que é: só pessoas com dinheiro é que conseguem comprar artigos de fast fashion. Por ser uma indústria que está sempre a produzir, o consumidor, mesmo que pague pouco ao início, a longo prazo acaba sempre por gastar mais”, ressalvou, reconhecendo ser “difícil” comunicar este facto aos consumidores.

Além da comunicação, Martim e Jeremy ambicionam nos próximos anos evoluir criar também um marketplace onde vão ser disponibilizadas mais alternativas aos produtos que os consumidores procuram, sendo disponibilizada ainda possibilidade de encontrar artigos em segunda mão.

“Depois de fazermos isso, queremos tornar o Changing Room gamificado, ou seja, queremos criar uma ferramenta que vai permitir aos utilizadores fazer um balanço do trabalho que têm feito e analisar como têm mudado os comportamentos de consumo”, explicou. “Acreditamos que vai ser uma parte muito importante para a retenção de utilizadores”. Atualmente, a plataforma soma cerca de 200 utilizadores que se inscreveram para a versão beta do Changing Room.

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