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China pode render 300 milhões nas exportações de carne de porco nacional

Em entrevista ao Jornal Económico, Vítor Menino, presidente da FPAS – Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores, revela que existem outros mercados de potenciais exportações da fileira em estudo na Ásia, como o Japão, Coreia do Sul Índia e Filipinas, por exemplo.
29 Janeiro 2019, 09h05

A propósito da primeira exportação de carne de porco nacional para a China, prevista para amanhã, dia 31 de janeiro, Vítor Menino, presidente da FPAS – Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores, revela, em entrevista ao Jornal Económico, que este novo mercado pode representar exportações de cerca de 300 milhões de euros entre o presente ano e 2020.

Mas a China não é o único mercado em perspetiva para as exportações desta fileira agroalimentar nacional. Japão, Filipinas, Coreia do Sul e Índia estão na mira e poderão compensar as perdas registadas nos mercados tradicionais da Venezuela, de Angola e mesmo do Reino Unido, em função dos piores cenários em redor do ‘Brexit’.

Oportunidade também para atualizar o panorama do setor a nível nacional e os seus principais desafios.

 

Jornal Económico – Como tem evoluído o volume de negócios da fileira da carne de porco em Portugal?

Vítor Menino – Se considerarmos o último quadriénio, o setor evolui positivamente de 2015 para 2018, havendo inclusive um aumento de 4% nos valores de autossuficiência do país, um aumento das exportações de 3%, e, assim, um aumento do volume de negócios no setor que passa de 490 milhões de euros em 2015 para 507 milhões de euros em 2018. Em valor, a suinicultura cresce, assim, cerca de 17 milhões de euros neste período. Após o pico da crise que se deu em final de 2015/início de 2016 houve, em 2017, uma retoma significativa do setor. Neste ano, a suinicultura gerou um volume de negócios de 514 milhões de euros.

Já, se compararmos o ano de 2018 com 2017, o setor revela uma pequena contração. O setor continua a valer mais do que no pico da última crise, sendo o volume de negócios gerado em 2018 (507 milhões de euros) ligeiramente inferior a 2017 (514 Milhões de euros). Esta contração é originada, sobretudo, pela diminuição, em relação a 2017, do preço médio pago por carcaça ao produtor – 1,56 euros em 2017 e 1,42 euros em 2018. A esta situação, junta-se o facto de as exportações terem revelado um decréscimo de 2%, fruto da instabilidade nos mercados tradicionais de exportação, nomeadamente Angola e Venezuela, e as importações terem aumentado cerca de 1% quando tomamos por base o ano de 2017.

A exportação é, neste quadro, fundamental para a retoma do período de crescimento do setor, sendo que a exportação para a China, representa, desde logo, mais do dobro das atuais exportações para todos os mercados ativos.

Antes de irmos à China, porque subiram as importações e desceram as exportações de carne de porco em Portugal em 2018?

De facto, embora as curvas sejam ligeiras, quer num caso, quer no outro, de 2017 para 2018, verificou-se essa situação.  Tal aconteceu por dois motivos. Em primeiro lugar, porque houve um aumento da procura interna, expresso pelo aumento de 1,5% dos abates aprovados para consumo em Portugal (total de 361.443 toneladas) e, em segundo lugar, porque Portugal perdeu, no início de 2017, o seu principal destino de exportação, a Venezuela.

Como têm evoluído as exportações de carne de porco nacional nos últimos anos?

À semelhança do que acontece no setor de uma maneira geral, as exportações revelam uma evolução positiva de 2015 para 2018, apresentando, neste período, um crescimento de 3%. Se compararmos os dados de 2017 com 2018 existe um decréscimo de 1%. Atualmente, exportamos 16% da produção nacional.
Quais são principais mercados de destino das exportações do setor?

Tradicionalmente, os mercados de destino da carne de porco portuguesa são a Venezuela (carne congelada), Espanha (animais vivos), Angola (transformados) e Reino Unido (carne fresca). Ora – à exceção de Espanha, que é o maior produtor de carne de porco da Europa, portanto, simultaneamente um parceiro a ter em conta, mas também um grande competidor – todos estes mercados têm vindo a revelar dificuldades socioeconómicas. No caso de Angola, parece-nos ser um mercado em retoma, mas, em relação aos restantes países referidos, essa situação pode não se verificar e pode, inclusivamente agravar-se. No caso da Venezuela, por causa da actual instabilidade, e no caso do Reino Unido, por não serem, ainda, completamente definidos os impactos do ‘Brexit’, também neste setor.

Existe um outro mercado, que é ainda residual para o país em termos de valor, mas que pode tornar-se extremamente relevante, que é o Japão. O mercado japonês é um mercado extremamente exigente no que respeita à qualidade. Isto quer dizer que é um mercado no qual podemos não crescer muito em quantidade, mas que apresenta oportunidades, se quisermos crescer em valor. São valorizadas peças e cortes nobres e aqui, a parte industrial, associada à produção, pode ter um papel muitíssimo relevante.

Ainda no continente asiático, também as Filipinas podem vir a revelar-se um mercado interessante.

Que relevância pode ter o mercado chinês para a fileira nacional de carne de porco? Além deste primeiro carregamento para Hunan, estão previstos outros? De que volume e para que regiões da China?

No contexto que referimos, a China é, como já dissemos, extremamente relevante, uma vez que vai mais do que duplicar as exportações existentes para todos os mercados atualmente ativos.

A primeira expedição para Hunan é constituída por dez contentores, com 270 toneladas de carne, no valor de um milhão de euros. Saem das instalações industriais da Maporal, em Reguengos de Monsaraz amanhã. Passando pelo porto de Sines, têm como destino final a referida província chinesa, que representa um consumo potencial de 73 milhões de habitantes.

Em 2019, para esta mesma província, serão ainda enviados uma média de 50 contentores por mês, no volume total de negócio na ordem dos 100 milhões de euros. Em 2020, as previsões são que o volume de negócios duplique.

Quais são os outros mercados de exportação que a FPAS está a estudar e quais as perspetivas de conseguir contratos de exportação a curto prazo?

A FPAS, está, de facto, a estudar mais mercados de exportação e está, também, a apostar em mercados recentemente abertos.

A Coreia do Sul, por exemplo, é um mercado aberto e ativo desde dezembro de 2018, e valoriza peças não valorizadas nos mercados tradicionais, nomeadamente entremeadas e gorduras. Este mercado é interessante na perspetiva de complementaridade ao mercado chinês e japonês. Este mercado praticamente duplicou, em quatro anos, as importações de carne de porco. Importou em 2017, 1,5 mil milhões de dólares em carne de porco, sendo que em 2013 as importações apresentavam um valor de 822 milhões de dólares.

O setor está também a iniciar as diligências com a AICEP para operacionalizar a exportação de carne de porco portuguesa para a Índia. Sendo um mercado com algumas dificuldades logísticas como a ausência de frio e a dispersão da procura, existem, no entanto, players estratégicos, como cadeias de hotéis ou o canal Horeca [hotelaria, restauração, cafeteria], que podem servir de porta de entrada. Este será um mercado importante porque nos grandes centros urbanos o consumo está ao nível dos grandes consumidores asiáticos, cerca de 20 quilos per capita. Além disso, no mercado global de carnes na Coreia do Sul, a carne de porco é a que detém a maior quota: representa 77,4% do total do consumo de carnes no país, seguida da carne de bovino (10,4%) e de frango (9,5%); Em quatro anos, o consumo per capita passou de 20,9 quilos em 2013 para 24,5 quilos em 2017.

Como caracteriza o setor em Portugal e quais são os principais desafios que enfrenta?

Existem três grandes desafios que o setor enfrenta e que temos condições para ultrapassar, assim haja empenho do setor, dos parceiros, ao nível da indústria, e do Estado.

Especificamente no que respeita ao setor, há necessidade de intensificar uma tendência que já se tem vindo a verificar nos últimos anos, que é da concentração por via empresarial ou através de agrupamentos para que sejamos cada vez mais competitivos. Hoje em dia, cerca de 70% da produção em Portugal está concentrada em menos de uma dezena e meia de produtores ou agrupamentos de produção. Se isto acontecer, sem dúvida que o objetivo de tornar Portugal autossuficiente em carne de porco até 2030 é possível. Neste momento, temos um valor de autossuficiência de 63,6%.

Depois, existe a necessidade de serem dinamizados os processos de licenciamento de explorações, à qual a questão ambiental não é alheia, mas também, para tal, estamos dispostos a colaborar e a melhorar. É do interesse do setor e do país que tal aconteça. Neste sentido, aguardamos informação governamental acerca da implementação efetiva do ‘Modelo de Intervenção Pública para o Tratamento de Efluentes Agropecuários e Agroindustriais’, uma  proposta conjunta do Ministério do Ambiente e do Ministério da Agricultura, apresentada aos suinicultores em outubro de 2018, que prevê a criação de uma sociedade de capitais exclusivamente públicos, com responsabilidade na construção, financiamento, exploração e gestão de um sistema integrado de tratamento em regime de serviço público no território nacional. O cronograma de implementação deste modelo deveria ter sido apresentado aos suinicultores e municípios envolvidos, pelo Ministério do Ambiente, até 31 de dezembro de 2018.

Além destes dois desafios existe, ainda, outro que também está já a ser alcançado, e que é a parceria efectiva entre produção e indústria. Isso está a ser conseguido através da FILPORC, uma organização interprofissional que nos permite, por exemplo, operar em conjunto na promoção do produto não só a nível nacional, como internacional.

O que está previsto com a criação da plataforma FILPORC?

Através da FILPORC, Portugal está a já a preparar duas candidaturas a fundos de promoção da carne de porco no valor de mais de dois milhões de euros, em parceria com Espanha e França.

Esta plataforma, cuja concretização perseguíamos há mais de dez anos, está já criada. Dela fazem parte a FPAS – Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores e a APIC – Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes. É ainda nosso parceiro a IACA – Associação dos Industriais dos Alimentos Compostos para Animais. A FILPORC está já constituída, está unicamente pendente uma questão técnico-burocrática que é o reconhecimento do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (entidade do Ministério da Agricultura que acompanha o setor). A breve trecho, o setor enviará oficialmente o pedido de reconhecimento e a expectativa é que ele possa acontecer durante o ano de 2019.

Existem outras questões sobre o setor que considere relevantes?

É de ressalvar um recente desenvolvimento no setor da suinicultura que passou um pouco despercebido à opinião pública, mas que tem uma influência capital no processo de exportação. Esse desenvolvimento é a implementação do novo sistema Sistema Informativo da Sanidade dos Suínos – SISS. Muitas pessoas não saberão, mas para que seja possível a exportação (e o consumo interno também) os animais têm que estar nas melhores condições de sanidade animal, e essas condições têm que ser conhecidas e confirmadas pelos serviços sanitários do país, ou seja, a DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária.

Está em operação, desde janeiro deste ano, um novo sistema informatizado que permite conhecer ao minuto a situação sanitária de todas as explorações. Este avanço é importante para a dinamização das exportações, pois, uma das condições essenciais para que sejamos aprovados em determinados mercados é, precisamente, uma avaliação positiva da situação sanitária da explorações. Até agora este era um processo moroso e burocrático. Atualmente, está muito mais agilizado e é, também, mais fiável. Foi um bom investimento por parte do Governo.

 

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