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“Chocante e inapropriado”. As reações dos médicos, sindicatos e partidos às declarações polémicas de António Costa

Os sete segundos de conversa em off onde o primeiro-ministro, António Costa, aparece a chamar de “cobardes” aos médicos envolvidos no caso do surto de Covid-19 em Reguengos de Monsaraz estão a indignar os profissionais de saúde, sindicatos e os partidos.
  • Rodrigo Antunes/LUSA
24 Agosto 2020, 18h00

São apenas sete segundos de conversa que estão na origem da nova polémica em torno do Governo. Numa conversa em off, após uma entrevista ao “Expresso” que acabou por ser divulgada nas redes sociais, o primeiro-ministro, António Costa, aparece a chamar de “cobardes” aos médicos envolvidos no caso do surto de Covid-19 em Reguengos de Monsaraz, o que está a indignar os profissionais de saúde, sindicatos e os partidos.

No vídeo, ouve-se António Costa dizer: “É que o presidente da ARS [Administração Regional de Saúde] mandou para lá os médicos fazerem o que lhes competia. E os gajos, cobardes, não fizeram”.

O “Expresso” já se demarcou da divulgação ilegal da gravação e vai desencadear, “de imediato, os procedimentos internos e externos para apurar o que aconteceu e os responsáveis pelo sucedido”. Segundo a direção do semanário, trata-se de “uma gravação amadora de um ecrã de computador, que reproduz uma recolha de imagens de uma conversa off the record, privada”, que “foi divulgada nas redes sociais sem autorização e conhecimento deste jornal”.

A ARS do Alentejo, a que António Costa se referia no vídeo, recusou-se a comentar as declarações do primeiro-ministro, mas os sindicatos não tardaram em fazer-se ouvir.

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) repudiou as declarações do primeiro-ministro, sublinhando que “os médicos do SNS são médicos no SNS, não são médicos em lares, nem para protegerem as costas a amigos políticos seja de que cor forem”, ao passo que a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) veio desmentir as afirmações de António Costa de que os médicos se recusaram a prestar serviço no lar.

“Estas declarações, proferidas por um chefe de Governo, são chocantes e totalmente inapropriadas, insultando de forma vergonhosa e indigna todo um grupo profissional cuja competência, capacidade de trabalho e resiliência para exercer a sua profissão em condições cada vez mais degradadas, pondo os interesses dos doentes acima de qualquer outra consideração, não pode ser contestada”, afirmou a federação dos médicos.

Também a Ordem dos Médicos veio rejeitar a acusação do primeiro-ministro, garantindo que os médicos nunca se recusaram a tratar dos idosos doentes. A Ordem dos Médicos solicitou uma audiência urgente ao primeiro-ministro, depois de revelada a gravação. O primeiro-ministro vai reunir-se com a Ordem dos Médicos já esta terça-feira de manhã para esclarecer a polémica.

 

O que dizem os partidos sobre o vídeo polémico de António Costa?

Até agora, apenas o CDS-PP e Chega se pronunciaram diretamente sobre os sete segundos de conversa que estão a alimentar a nova polémica.

O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, reagiu à entrevista do primeiro-ministro ao “Expresso” dizendo que esta “constituiu um resgate político” à ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e é “um sintoma de má convivência democrática com a realidade e com os médicos”. Com a divulgação do vídeo onde António Costa chama os médicos de “cobardes”, o líder do CDS-PP diz que se confirmou a sua interpretação.

“António Costa não retirou uma única consequência política pelos erros cometidos no Lar de Reguengos, manteve a sua Ministra em funções e não pediu desculpas às famílias que perderam entes queridos. Mas já encontrou um bode expiatório: os médicos. O socialismo faz cada vez pior à saúde da nossa democracia”, referiu.

Francisco Rodrigues dos Santos apela ainda ao primeiro-ministro para que se retrate publicamente e retire “imediatamente o ataque feroz que desferiu à classe profissional que os portugueses mais contam para vencer esta pandemia” da Covid-19.

Ao apelo para que António Costa se retrate das declarações que fez, junta-se o deputado único e líder do Chega, André Ventura. Nas redes sociais, o Chega indica que “estas declarações, agora tornadas públicas, ainda que de forma inadvertida, são gravíssimas e demonstram um estado de desorientação considerável e uma agressividade incompreensível para com todos os médicos e com o setor da saúde em geral”.

“António Costa ultrapassou, desta vez, todos os limites. Dificilmente tem condições para se manter no cargo. Marcelo [Rebelo de Sousa] tem de intervir ou será o Presidente [da República] mais cúmplice da história democrática”, escreveu André Ventura nas redes sociais.

Numa reação à entrevista dada pelo primeiro-ministro ao “Expresso”, sem se debruçar sobre o vídeo polémico, o Iniciativa Liberal considera “inaceitável” que o primeiro-ministro “afirme que as ordens profissionais não existem para fiscalizar o Estado” ou fazer auditorias externas e desafia o Governo “a assumir as responsabilidades”, e “coordenar a atuação governativa nesta matéria com o sentido de Estado a que a sua função obriga”, apresentando um pedido de “desculpas aos familiares dos utentes e aos profissionais da classe médica”.

“É incompreensível que as posições conhecidas do governo tenham como único objetivo desvalorizar a situação ou alimentar escaramuças verbais, descurando os objetivos fundamentais de esclarecer as circunstâncias em que os factos ocorreram e adotar medidas urgentes para prevenir situações futuras”, sublinhou o partido liderado por João Cotrim Figueiredo, em comunicado.

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