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“Chovem Amores na Rua do Matadouro”, o novo teatro de Moçambique em Almada

Dois escritores deram corpo a esta história, Mia Couto e José Eduardo Agualusa. E dois encenadores recriaram a sua palavra no palco, Vítor Gonçalves e Clotilde Guirrugo. A digressão por Portugal termina em Almada, a 29 de julho.
26 Julho 2022, 16h10

Um homem com Fortuna no nome está zangado com o mundo, com a vida, com todos. Acima de tudo consigo mesmo. Baltazar Fortuna, de apelido unicamente, está muito zangado com as três mulheres da sua vida. Tem em mente um plano. Regressar a Xigovia para matar essas três mulheres que fizeram parte do seu passado. Isto na profunda convicção de que são elas a fonte de todos os azares que lhe infernizam a vida.

E assim faz. Regressa a Xigovia, uma pequena vila no sul de Moçambique, onde elas vivem. A morte das três, acredita, vai emendar a vida que escolheu viver, mas já não deseja, pois são elas as culpadas dos seus desmandos. O problema é que elas não querem colaborar. Ou seja, não querem morrer. O problema do mundo, aliás, é precisamente esse, meterem ideias na cabeça das mulheres. Citando Baltazar Fortuna, “desde Eva que andam em contramão”, as mulheres, claro.

“Chovem Amores na Rua do Matador” transpõe para o palco o conto com o mesmo título escrito a quatro mãos e publicado na obra “Terrorista Elegante”. As “mãos” aqui referidas remetem para o escritor moçambicano Mia Couto e para o escritor angolano José Eduardo Agualusa. A encenação, essa, também se fez a quatro mãos, desta feita as de Vítor Gonçalves e Clotilde Guirrugo, numa coprodução da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, onde o encenador leciona desde 2008, com a Fundação Fernando Leite Couto.

O elenco de “Chovem Amores na Rua do Matador” integra estudantes e docentes da Escola de Comunicação e Arte da referida Universidade, entre quais figuram Angelina Chavango, Horácio Guiamba, Joana Mbalango, Josefina Massango e Violeta Mbilane. Évaro Abreu assina os cenários, Sara Machado os figurinos e a coreografia está a cargo de Ademar Chauque, com música de Shigeru Umebayashi.

Mia Couto e José Eduardo Agualusa propõem-se, neste texto, a olhar as tensões entre um país de práticas ancestrais cristalizadas nas mentalidades masculinas dominantes e um país que vibra de jovens com sangue na guelra e que se distanciam de práticas sociais e estruturas culturais a elas associadas. As tensões entre Baltazar Fortuna e as suas mulheres – Mariana Chubichuba, Judite Malimali e Ermelinda Feitinha – espelham precisamente essas forças que chocam entre si, e que questionam o papel que homens e mulheres hoje desempenham na sociedade moçambicana.

“Chovem Amores na Rua do Matador” tem estado em digressão por Portugal e tem como última “paragem” a cidade de Almada, mais concretamente o Fórum Romeu Correia, onde será apresentado no dia 29 de julho, 16 anos depois de o encenador Vítor Gonçalves ter rumado a Moçambique para dar asas a uma licenciatura de teatro. É, pois, um regresso a uma outra sua casa, pois trabalhou durante perto de três décadas – mais concretamente 28 anos – com Joaquim Benite, na Companhia de Teatro de Almada, tendo sido subdiretor do Festival de Almada.

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