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Cientistas (incluindo portugueses) anunciam um novo marco em fusão nuclear: 59 megajoules de energia sustentada

O valor recorde anunciado esta quarta-feira, 9 de fevereiro, é, segundo os investigadores, a demonstração mais clara nos últimos 25 anos do potencial da fusão nuclear para “fornecer energia de baixas emissões de carbono, segura e sustentável”.
  • Nasa – Unsplash
9 Fevereiro 2022, 12h17

O consórcio EUROfusion, que inclui 4.800 cientistas, engenheiros, estudantes e técnicos de toda a Europa, entre os quais investigadores do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) do Instituto Superior Técnico, anunciou esta quarta-feira, 9 de fevereiro, ter sido atingido o valor recorde de 59 megajoules de energia de fusão sustentada.

O projeto Joint European Torus (JET) instalado perto de Oxford, no Reino Unido, é cofinanciado pela Comissão Europeia. O JET é o maior e mais poderoso “tokamak” operacional do mundo e este feito mais do que duplica o anterior recorde de energia de fusão de 21,7 megajoules obtido em 1997. O resultado surge na sequência de uma campanha experimental concebida pela EUROfusion com o objetivo de testar mais de duas décadas de avanços na fusão, e assim otimizar o arranque do projeto internacional ITER”, afirma o consórcio em comunicado enviado às redações.

Segundo o documento, os dados obtidos com estas experiências cruciais representam um grande impulso para o ITER, um projeto de investigação em fusão maior e mais avançado que o JET. Localizado no sul da França, o ITER é apoiado pela China, União Europeia, Índia, Japão, Coreia do Sul, Rússia e EUA, e visa demonstrar a viabilidade científica e tecnológica da energia de fusão.

“À medida que aumenta a pressão pública para que se lide com os efeitos das alterações climáticas através da descarbonização da produção de energia, esse sucesso é um grande passo em frente na demonstração da fusão nuclear como um meio seguro, eficiente e de baixas emissões para enfrentar a crise energética global”, salienta.

Bruno Soares Gonçalves, presidente do IPFN do Técnico, assinala a importância deste resultado para a preparação da operação do ITER e a concretização do uso da fusão nuclear para produção de eletricidade duma forma limpa e segura. “É com orgulho que os investigadores portugueses contribuem ativamente para este objetivo através da participação no consórcio Eurofusion e na construção do ITER”. Alcançar esta meta, acrescenta, “demonstra o empenho da comunidade de fusão europeia em contribuir para as metas de descarbonização apesar dos desafios que teremos ainda de superar para chegarmos à construção do primeiro reator experimental de demonstração de produção de energia elétrica.”

Bernard Bigot, Diretor Geral do ITER, explica que “um impulso sustentado de fusão baseada na mistura deutério-trítio a este nível de energia – quase à escala industrial – representa uma confirmação avassaladora para todos os que estão envolvidos no esforço global da investigação em fusão”. Para o ITER, afirma: “os resultados do JET dão uma forte confiança de que estamos no caminho certo para demonstrar o poder de fusão à escala total.”

Por seu turno, Tony Donné, coordenador do Programa EUROfusion (CEO), destaca a conquista, salientando todo o trabalho que a antecedeu: ““Esta conquista é o resultado de anos de preparação pela equipa de investigadores da EUROfusion por toda a Europa. O recorde e, sobretudo, as coisas que aprendemos sobre a fusão nuclear nessas condições e o modo como confirmam totalmente as nossas previsões, mostram que estamos no caminho certo para um futuro movido a energia de fusão”.

Se conseguimos manter a fusão por cinco segundos, podemos vir a fazê-lo por cinco minutos e depois por cinco horas, à medida que ampliamos a escala da nossa operação em máquinas futuras”, salienta.

“Enquanto EUROfusion –  explica Volker Naulin, líder do Departamento de Ciências da Fusão – “desenhámos esta campanha experimental no JET para preparar da forma ideal o arranque do ITER, investigando os processos energéticos que entrarão em jogo e preparando a próxima geração de investigadores. As experiências confirmaram as nossas previsões, motivando-nos a fazer o nosso melhor para garantir o sucesso atempado da operação do ITER. Os resultados suportam uma decisão antecipada para a central energética DEMO, uma vez que a fusão é necessária para a descarbonização a longo prazo das nossas fontes de energia”.

Cientistas celebram o “grande momento” para toda a comunidade de fusão. O valor recorde hoje anunciado é a demonstração mais clara nos últimos 25 anos do potencial da fusão nuclear “para fornecer energia de baixas emissões de carbono, segura e sustentável”.

 

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