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Cimeira UE-China: “instabilidade não é do interesse” de nenhuma das partes

Contudo, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, não conseguiu uma resposta clara da China a um possível alinhamento com o Ocidente contra a Rússia: “A China não pode fechar os olhos para a violação do direito internacional pela Rússia”, afirmou.
1 Abril 2022, 17h45

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse, no final da cimeira entre a União Europeia e a China, que “esta instabilidade global não é do interesse da China nem do interesse da União, partilhamos a responsabilidade como atores globais de trabalhar pela paz e pela estabilidade”. Em texto distribuído pelos serviços do Conselho, Charles Michel – que considerou que “a cimeira desta sexta-feira não é normal porque esta é realizada em tempo de guerra” – afirmou que “a principal prioridade da União Europeia é acabar com a guerra o mais rápido possível e proteger o povo ucraniano”.

Mas, os interstícios do texto parecem esconder que nem tudo está alinhado entre as duas partes: “apelamos à China para ajudar a acabar com a guerra na Ucrânia. A China não pode fechar os olhos para a violação do direito internacional pela Rússia. Esses princípios estão consagrados na Carta da ONU e são princípios sagrados para a China”. Ou seja, Michel considerou necessário apelar aos princípios na tentativa de convencer a a aceitar a postura da União.

Mais adiante, e partido do pressuposto que as “pesadas sanções imp0ostas à Rússia” “também têm um preço para a Europa”, “o preço da defesa da liberdade e da democracia”, Charles Michel afirma que “medidas positivas da China para ajudar a acabar com a guerra seriam bem-vindas por todos os europeus e pela comunidade global”. Isto é, a China terá afirmado que pretende manter-se à parte das sanções impostas à Rússia e que não avançará nesse caminho.

 

Mais mundo

Mas há mais mundo para além da guerra na Ucrânia. “Também discutimos áreas de interesse comum onde cooperamos, como a saúde global. Queremos envolver-nos com a China e com todos os membros da Organização Mundial de saúde (OMS) num novo acordo sobre prevenção, preparação e resposta à pandemia”.

“Também estamos a cooperar com a China para proteger o nosso planeta. Devemos estar prontos para a COP27 no Egito ainda este ano. Também pedimos à China que aumente ainda mais a sua ambição em meio ambiente, na biodiversidade e na ação climática”, revelou o presidente do Conselho Europeu.

E nem todo o mundo é passível de concordância: “também discutimos áreas em que discordamos. Levantámos as nossas preocupações sobre o tratamento da China às minorias em Xinjiang e na Mongólia Interior, e ao povo do Tibete”, como também “expressámos o nosso pesar pelo desmantelamento do princípio ‘um país, dois sistemas’ em Hong Kong”. Neste bloco de debate, parece haver alguma esperança num alinhamento: “insistimos muito no relançamento do Diálogo sobre Direitos Humanos, e o primeiro-ministro Li Keqiang confirmou que esse relançamento ocorreria”.

Taiwan, Afeganistão, Mianmar e a Península Coreana também foram temas abordados.

Num encontro com a China – onde estive presente, para além de Li Keqiang, o presidente Xi Jinping – era impossível que o comércio ficasse à porta da sala. “Discutimos o nosso relacionamento comercial e económico com a China, para torná-lo mais justo, para garantir a reciprocidade, para alcançar condições equitativas, para reequilibrar as nossas relações bilaterais de comércio e investimento”. Na prática, o que Michel – que esteve acompanhado pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, e pelo comissário Josep Borell – afirmou que ambas as partes discutiram os temas mais difíceis do Acordo Global sobre Investimento (CAI), preparado pelo Conselho e pela Comissão em dezembro de 2020 e recusado pelo Parlamento Europeu em junho do ano seguinte.

Menos rápida a tornar públicas as suas análises, a China tinha previamente afirmado, através do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, que a as duas partes “são duas importantes forças na manutenção da paz mundial, dois importantes mercados para promover o desenvolvimento comum e duas civilizações para impulsionar a causa do progresso humano”.

De acordo com Wang, a situação internacional atual é volátil e com crescentes incertezas, devendo ambos os lados fortalecer a comunicação estratégica, aumentar a confiança mútua, estabelecer consensos, e realizar diálogos e cooperações com base no respeito e no benefício mútuos.

 

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