O debate e a votação do OE2021 continuou a merecer ouro, incenso e mirra das pérolas do comentariado nacional.

Fiquemos hoje pelos notáveis Editoriais de Manuel Carvalho (MC), Director do “Público”, nos dias 20, 25 e 27 de Novembro e a consolidada e reiterada tese  dos “clientes” (outros dirão “clientelas”) do PCP. No dia 20, MC escreve: “A tenda montada pelo PS favorece claramente os clientes do PCP para levar o orçamento a bom porto e deprecia todos do outros.” No dia 27, conclui: “(…) o ruidoso mercado das medidas que se instalou em S. Bento (…) é igualmente o testemunho de um Parlamento mais dependente dos humores (…) do comité central ou da direcção dos partidos do que das necessidades do país.” E “perante a fraqueza do Governo, a tortura minuciosa do PCP (…)”, certamente para satisfazer cada um dos seus clientes!

A 20NOV20, o medo de MC era uma “crise de pagamentos”, pois “Com a opção do BE e PCP, haveria dinheiro a rodos para pagar todas as perdas e calar todas as reivindicações (…)”. Mas, hipócrita, insistindo na bacoca ideia de que no meio é que está a virtude (embora ninguém justifique porquê), frade capuchinho compungido, edita: “Se acreditar que há meios para responder a todos os problemas é um delírio demagógico, segurar as ‘franjas’ dos que se arriscam a sofrer e perder mais com a crise é um dever”. Como é piedosa esta alma!

É lamentável que este director de um periódico de referência não enumere as ditas “franjas”, ou que pelo menos desvendasse quais os “clientes” do PCP! Serão os trabalhadores atingidos pelo lay-off, que vão passar a ter os salários a 100%?! Serão os reformados com baixas pensões, que vão ter pelo quinto ano consecutivo mais 10 euros por mês?! (Que bem acompanha MC as preocupações da CE). Serão os utentes e profissionais do SNS pelas melhorias introduzidas no OE pelo PCP e que esperamos sejam concretizadas! Serão os MPM Empresários pelo que conseguiram graças ao PCP, e que só não foi o necessário porque PS e PSD a isso se opuseram?!

E é pena que os apologistas da tese do OE para servir “clientes/clientelas” nunca se lembrem dos clientes/clientelas quando PS, PSD e CDS baixam a taxa do IRC, acabam com o imposto sucessório, ou alargam e engordam os benefícios fiscais.

Não se diz que o OE2021 é um bom Orçamento. Ancorado pelo PS nas imposições europeias do défice e da dívida, falha na resposta suficiente à crise económica e social. Falha nas respostas estruturantes às necessidades do país no médio e longo prazo.

Eles não querem dizer que o OE2021 é mau, até porque salvaguarda os comandos comunitários nas restrições da despesa e investimento públicos. Mas o que queriam e querem desesperadamente, são orçamentos com a bênção do Bloco Central. Do que querem fugir, como o diabo da água benta, é de orçamentos onde o PCP, em defesa dos trabalhadores e das “franjas”, conta. O anticomunismo conta muito para essa gente. Por exemplo, para MC, conta tanto, que um destes dias, num desses “pluralistas” debates da RTP1 (É Ou Não É), acossado pelos compinchas de catecismo de que estaria a defender o PCP, não teve dúvidas, em defesa da sua profissão de fé anticomunista, de lhes pedir que lessem os seus editoriais no “Público”. Estava certo… desta vez.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.