Assinala-se este ano o 150º aniversário da inauguração do cabo submarino entre Carcavelos em Portugal, e Porthcurno na Cornualha, Reino Unido, completando uma ligação que se estendia de Bombaim até Londres. Este projeto extraordinário proporcionou também uma importante rota de comunicação rápida entre Portugal e o mundo, numa altura em que a maioria das comunicações entre nações distantes levava dias ou semanas.

Como o Diário de Notícias relatou nesse dia: Admirável invenção é a da Telegrafia eléctrica, singular aperfeiçoamento o do cabo submarino! A imensa distância de 2.000 léguas, que separam Portugal da Índia, vai ser vencida no curto espaço de duas horas! Quantos benefícios vão produzir esta maravilha ao comércio, à indústria, aos povos, ao progresso!”

Foi necessário reunir grande visão e vontade política, mas também enorme conhecimento científico e de engenharia, num esforço de colaboração entre povos que tem caracterizado muitas das realizações mais notáveis da humanidade. Forjaram-se valiosos laços culturais entre Portugal e Reino Unido. Uma comunidade britânica bastante significativa estabeleceu-se nessa altura na Quinta dos Ingleses, local da recém-criada estação de telégrafos em Carcavelos.

Este foi um exemplo precoce e notável de um hábito de colaboração entre o Reino Unido e Portugal no campo da ciência e da tecnologia, que perdura até aos dias de hoje. Em março do ano passado, juntámo-nos a outros cinco países para assinar a Convenção do Observatório da Matriz do Quilómetro Quadrado (SKA), uma colaboração internacional para construir o maior radiotelescópio do mundo.  Uma vez mais os nossos dois países estiveram lado a lado na vanguarda da investigação científica, para abordar questões fundamentais sobre a origem e evolução do Universo.

Exemplos como este estimulam a inovação e o crescimento e contribuem para o nosso bem-estar. Em 1870, o cabo telegráfico submarino transformou a velocidade com que a informação viajava pelo mundo. Em 2020, o projeto SKA irá trazer benefícios semelhantes de transformação para as nossas sociedades ao longo dos próximos anos.

A pandemia de Covid-19 veio recordar-nos que a colaboração científica internacional não é apenas desejável, mas também essencial. A corrida para desenvolver e distribuir uma vacina e tratamento eficazes constitui o desafio mais imediato que enfrentamos. Orgulho-me que as universidades e empresas britânicas estejam na vanguarda desse enorme esforço científico global. Também em Portugal, universidades, centros de investigação e empresas uniram esforços para produzir aparelhos médicos e equipamentos de proteção individual inovadores.

As medidas necessárias são difíceis e impopulares, com enorme impacto na nossa prosperidade económica e liberdades sociais. Mas seguimos os conselhos dos cientistas de uma maneira que julgo nunca antes vista.

Espero que possamos emergir fortalecidos e mais conscientes da importância da colaboração científica internacional na formulação de políticas públicas. Não apenas para aprendermos a lidar com futuras emergências globais de saúde, mas também para estarmos à altura dos grandes desafios ambientais do século XXI: a emergência climática e a poluição dos nossos oceanos e ecossistemas.