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Como a China celebra os 70 anos de regime comunista

O país de Xi Jinping celebra amanhã mais um aniversário de regime comunista. As ruas de Pequim já estão a ser preparadas para aquele que será o maior desfile militar do país nas últimas décadas.
1 Outubro 2019, 07h42

Quinze mil soldados e marinheiros, 160 caças e bombardeiros, e 580 peças de artilharia, incluindo o míssil balístico intercontinental Dongfeng 41, com capacidade nuclear, vão desfilar amanhã junto à Praça Tiananmen, na Avenida Changan, a principal artéria de Pequim.

As celebrações vão terminar com uma parada militar na Praça Tiananmen, presidida pelo presidente Xi Jinping, e destinada a exibir as novas capacidades das forças armadas chinesas. Arranjos florais e bandeiras da China foram colocadas à porta de todos os edifícios. No topo dos arranha-céus da capital, luzes néon formam o número 70. Nas principais artérias e paragens de metro, soldados garantem que as celebrações não serão perturbadas.

Os ensaios para o desfile militar levaram, nas últimas semanas, ao encerramento de várias avenidas no centro da cidade. Desde 1 de setembro é proibido o uso de veículos aéreos não tripulados (‘drones’) e pombos correio – um passatempo apreciado por muitos chineses – ou até fazer voar papagaios.

Este ano, as comemorações surgem num período sensível para o Presidente Xi Jinping, com a economia do país a crescer ao ritmo mais lento dos últimos anos e enquanto decorre uma guerra comercial com os Estados Unidos.

Além disso, Hong Kong tem sido palco de protestos nos últimos meses, com milhares de manifestantes a ocupar as ruas por diversas vezes, a exigirem maior democracia e o fim da lei da extradição. A última vez que a China preparou um desfile de dimensão semelhante foi em 2015, quando 12 mil soldados marcharam para comemorar o aniversário do fim da II Guerra Mundial. Durante o desfile, centenas de militares vão marchar enquanto exibem os seus mais recentes equipamentos.

O presidente vitalício

Nascido a 15 de junho de 1953, em Pequim, o atual presidente chinês, Xi Jinping, é filho de Xi Zhongxun (1913/2002), um revolucionário que fez parte da primeira geração da liderança do regime comunista, veterano da Longa Marcha, que combateu ao lado de Mao Zedong contra os nacionalistas do Kuomintang e contra os invasores japoneses.

Xi Jimping nasceu, por isso, em ambiente privilegiado, pertencendo ao grupo dos chamados “príncipes do Partido”, mas não estava livre de perigos: quando tinha 10 anos, o pai foi detido no âmbito de uma das muitas purgas no tempo de Mao, pelo que a família atravessou uma fase complicada.
Nos anos seguintes, o próprio Jinping foi enviado para trabalhar no campo, no movimento “Subir às Montanhas, Descer às Aldeias”, ao que tudo indica sem estar imbuído de genuíno fervor ideológico.

Regressou a casa com 22 anos, sem ilusões sobre a Revolução Cultural, segundo afirmou numa entrevista que concedeu à televisão CCTV, em 2013: “No passado, quando falávamos nas nossas crenças, era tudo muito abstracto. Penso que a juventude da minha geração será lembrada pelo fervor dos Guardas Vermelhos. Mas era tudo emocional. E quando os ideais da Revolução Cultural não se concretizaram, provou-se que eram uma ilusão.”

Mais tarde, Jinping estudou engenharia química na Universidade Tsinghua e iniciou uma carreira política, primeiro aderindo à Juventude Comunista (1971) e depois ao Partido (1974). Nas três décadas seguintes, foi gradualmente subindo na hierarquia partidária, desempenhando funções em quatro províncias chinesas. Esteve nos Estados Unidos em 1985, para uma viagem de estudo ao Iowa22, nutrindo desde então uma forte admiração pelos americanos. A ponto de em 2010 enviar a sua filha, Xi Mingze, estudar para a Universidade de Harvard.

Para a sua ascensão nas fileiras do Partido terá contribuído a personalidade discreta e cautelosa: segundo os biógrafos, Jinping sempre procurou ser uma figura consensual, não tendo acumulado inimigos e não se envolvendo em escândalos de corrupção. E quando em 2007 assumiu a chefia do Partido na importante metrópole de Xangai, era já visto como o provável sucessor de Hu Jintao.

Como presidente, Xi Jinping prometeu um programa reformista, defendendo um reforço das regras do estado de direito e a implementação de reformas económicas. O combate à corrupção é outra das suas bandeiras, bem como uma política externa mais musculada, sobretudo nas relações sino-japonesas e na resolução do diferendo territorial com os países vizinhos, no Mar do Sul da China.

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