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Como a liga milionária está a criar um fosso no futebol europeu

Equipas de menor dimensão na Europa apostam mais a nível interno, para tentarem chegar aos milhões da Champions, e assim garantirem uma maior estabilidade financeira. Superliga europeia parece ser um cenário cada vez mais real.
  • epa07031196 SchalkeÕs Guido Burgstaller (C) in action against Porto’s Yacine Brahimi (R) during the UEFA Champions League Group D soccer match between Schalke 04 and FC Porto in Gelsenkirchen, Germany, 18 September 2018. EPA/FRIEDEMANN VOGEL
5 Outubro 2018, 10h00

As novas regras financeiras anunciadas pela UEFA no passado mês de junho, para a edição deste ano da Liga dos Campeões, podem vir a breve prazo a criar um fosso ainda maior entre os principais clubes europeus e as restantes equipas de média e baixa dimensão, quer no plano desportivo ou na vertente económica.

Com o percurso dos últimos dez anos na liga milionária a influenciar o ranking dos clubes, aqueles que melhor desempenho obtiveram são agora recompensados financeiramente, o que poderá levar a própria UEFA a ir no sentido oposto, naquela que deveria ser a  sua principal missão: promover o desenvolvimento do futebol na Europa.

Esta é a opinião de Luís Vilar, vice-diretor da Faculdade de Ciências da Saúde e do Desporto da Universidade Europeia, que em declarações ao Jornal Económico,  acredita que esse lucro pode ser maximizado de duas formas: “pela quantidade de jogos ou pela qualidade do jogo. Acho que pela quantidade de jogos não há muito a fazer, porque os campeonatos nacionais já levam 38 jornadas e um jogador com os jogos das seleções não pode fazer por época mais de 60/65 jogos. Como não é possível fazer mais jogos, vai ser pela qualidade. Parece-me que há uma diferença no que é a missão da UEFA, e a real missão da UEFA agora”, refere.

Este novo panorama no futebol europeu acontece porque as equipas são como a UEFA, também precisam de dinheiro e “percebem que ganham muito mais dinheiro nas competições europeias, do que nas internas”, afirma Luís Vilar, que destaca a existência de “uma relação inversa entre a dimensão da liga e o impacto que a receita da Champions tem para ela”, dando dois exemplos distintos.

“O Manchester United tem uma faturação de 700 milhões de euros/ano e a Champions dá-lhe 80 milhões, ou seja um décimo, mas se for um Maribor que tem um orçamento de 1,5 milhões/ano se entrar na fase de grupos recebe 15 milhões”, explica.

Estas medidas do órgão que tutela o futebol europeu podem levar a que clubes de ligas de menor dimensão apostem mais na Liga dos Campeões, do que no seu campeonato interno, o que já levou a conversações sobre uma eventual troca de calendários, com a prova milionária a ser jogada ao fim-de-semana, por troca com as ligas internas.

Contudo, não se pense que estas vão investir na prova europeia. “Não, eles vão investir no acesso aos 15 milhões [valor atribuído pela UEFA a quem entra na fase de grupos da Liga dos Campeões]. A prioridade será sempre o campeonato porque isso é que lhes vai permitir chegar aos 15 milhões”, refere Luís Vilar, que traça também o cenário para os ‘três grandes’ do futebol português.

“O Benfica e o Porto têm de estar necessariamente na Champions e arrisco-me a dizer que se o Sporting nos próximos dois, três anos não consegue um pequeno ‘milagre’ de ser apurado para a Liga dos Campeões, nos próximos dez anos vai ter muitas dificuldades em ser campeão nacional. Porque ganha quem tem os melhores jogadores, e tem os melhores jogadores quem tem os melhores orçamentos, e tem os melhores orçamentos quem está mais vezes na Champions”, sublinha Luís Vilar.

Deste modo, a ideia de uma futura superliga europeia de clubes poderá ser uma realidade. “Os grandes clubes medem-se em dimensão de adeptos e história, se o objetivo é maximizar o lucro um campeonato europeu de clubes fará todo o sentido. Se garantirmos que existem vários Barcelona com o Manchester United ou Juventus com Liverpool a faturação sobe”, conclui.

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