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Como a Sonae Arauco está a testar um pinheiro mais produtivo para plantar em Portugal

Nuno Calado, Wood Regulation & Sustainability Manager da Sonae Arauco, revela ao Jornal Económico que “poderemos esperar algo entre os 12 m3/ha/ano e os 14 m3/ha/ano [de produtividade], considerando terrenos com aptidão boa a muito boa e plantas melhoradas”, a partir da nova espécie de pinheiro radiata proveniente do Chile.
  • Nuno Calado Sonae Arauco/Foto cedida
  • Nuno Calado Sonae Arauco/Foto cedida

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11 Fevereiro 2022, 16h04

Os resultados preliminares do Projeto de Investigação & Desenvolvimento (I&D) florestal da Sonae Arauco iniciado em 2020 foram divulgados há poucas semanas e sugerem que as plantas de pinheiro-radiata provenientes do Chile têm, no contexto português, maior resiliência.

A Sonae Arauco nasceu de uma ‘joint-venture’ entre dois importantes ‘players’ mundiais do sector da madeira: a Sonae Indústria e a Arauco. Atualmente, a empresa conta com cerca de 2.600 funcionários em nove países (Portugal, Espanha, Alemanha, África do Sul, Reino Unido, França, Holanda, Suíça e Marrocos), 20 unidades industriais e comerciais e comercializa os seus produtos em cerca de 80 países.

“Os resultados são ainda preliminares, mas bastante promissores. O pinheiro-radiata proveniente do Chile teve um desempenho muito positivo em todos os ambientes e solos onde decorre o ensaio, e mostrou mesmo ser mais resiliente do que outras espécies/proveniências de pinheiro já introduzidas em Portugal”, afirma Nuno Calado, Wood Regulation & Sustainability Manager da Sonae Arauco, uma das maiores empresas mundiais de soluções derivadas de madeira.

Em qualquer das situações – solo e clima – existem famílias de pinheiro-radiata do Chile testadas que possuem sempre um desempenho superior ou equivalente, isto é, que apresentaram menores taxas de mortalidade (caso das areias) ou mortalidade zero (caso dos solos de granitos e xistos), relativamente às restantes espécies/proveniências.

Em função destes resultados preliminares, o Jornal Económico questionou Nuno Calado sobre as vantagens comparativas desta nova espécie de pinheiro no panorama florestal nacional.

De que forma quantificada é que esta nova espécie de pinheiro é mais produtiva do que as existentes em solo nacional?
Em primeiro lugar, convém esclarecer que esta espécie já existe em Portugal há muitos anos. O que é novidade é o facto de as sementes que estamos a utilizar neste ensaio serem provenientes de um programa de melhoramento genético que o nosso acionista Arauco desenvolve há décadas. No Chile, estas plantas apresentam níveis de produtividade muito elevados para a realidade portuguesa, na ordem dos 25 m3/ha/ano. Dado que não existem garantias de que tenham a mesma ‘performance’ para as nossas condições de solo e clima, estamos a realizar ensaios. Em qualquer caso, e dadas algumas semelhanças de solo e clima existentes entre o Chile e Portugal, temos boas perspetivas.

O facto de estarmos a testar muitas famílias de pinheiro-radiata diferentes (de diferentes condições de clima, mais seco ou mais húmido) é também muito importante num contexto de alterações climáticas como as que estão previstas para Portugal. A mesma razão se aplica ao facto de os ensaios terem também outras proveniências de pinheiro-radiata (Chile e França) e de pinheiro-bravo (Portugal e França). Pretende-se avaliar quais as espécies ou proveniências mais adequadas para os diferentes tipos de solo e clima, assegurando que todas são provenientes de programas de melhoramento genético, isto é, foram selecionadas em função da sua produtividade ou outras caraterísticas relevantes.

Qual o comparativo com as outras espécies de pinheiro produzidas em Portugal?
A produtividade de 25m3/ha/ano diz respeito a dados recolhidos no Chile e acontece em locais com aptidão boa a muito boa, pelo que no nosso país pode ter um comportamento inferior. Este tipo de produtividade requere locais com aptidão boa a muito boa, o que nem sempre ocorre. Em Portugal, é difícil obter valores realistas para o potencial de produtividade face à reduzida utilização de plantas melhoradas de pinheiro-bravo, mas diria que poderemos esperar algo entre os 12 m3/ha/ano e os 14 m3/ha/ano considerando terrenos com aptidão boa a muito boa e plantas melhoradas.

Quais são as outras grandes vantagens desta espécie perante as outras já existentes em Portugal, nomeadamente no que respeita ao comportamento perante fogos florestais?
Em termos de comportamento perante os fogos florestais não existem diferenças face ao pinheiro-bravo. A grande diferença é a maior produtividade. Em qualquer caso, o problema dos fogos florestais não é tanto um problema de espécie, mas sim de ordenamento florestal, isto é, da necessidade de existir um mosaico de diferentes espécies florestais (onde se inclui o pinheiro-bravo e o pinheiro-radiata, entre outras) e de usos do solo, que são suportados por uma gestão florestal ativa e profissional.

 

Se os resultados se confirmarem na segunda fase do estudo, qual poderá ser a futura área de plantação desta espécie de pinheiro em Portugal e qual o investimento que a Sonae Arauco está disposta a efetuar neste sentido?
Estamos ainda numa fase preliminar do estudo, pelo que é prematuro avançar com este tipo de informação.

Essa futura nova plantação será em área em que atualmente não existem plantações de pinhal ou implicará o arranque de espécies já existentes e a sua substituição por esta nova espécie?
Isso dependerá da iniciativa dos produtores florestais privados (em Portugal a propriedade florestal é maioritariamente privada, cerca de 97%), no âmbito da legislação aplicável.

Consideramos que o pinheiro-radiata pode ser utilizado numa perspetiva de complementaridade com outras espécies, assegurando o ordenamento florestal necessário e um princípio básico: a espécie certa no local certo. Isto é, em certas situações será certamente mais recomendável utilizar um pinheiro-bravo do que um pinheiro-radiata; contudo, é muito mais vantajoso utilizar um pinheiro-bravo proveniente de programas de melhoramento genético como o português ou francês, razão pela qual estamos a testar e a demonstrar a mais valia da utilização destas plantas, comparativamente a plantas ‘normais’.

De que forma e que outros produtores florestais poderão ter acesso a esta nova espécie se a quiserem plantar em Portugal?
Estamos ainda a avaliar a melhor forma de o fazer, mas o que pretendemos é permitir aos produtores florestais em Portugal o acesso a plantas de elevada qualidade genética e produtividade, contribuindo para um aumento da rentabilidade da cadeia de valor do pinheiro.

 

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