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Como é que o futebol pode captar a atenção dos ‘millenialls’?

“Aumentar o tempo útil de jogo e diminuir as paragens será um desafio importante para o futebol se proteger na sua capacidade de captar a atenção das novas gerações”, defende Tiago Craveiro, CEO da FPF, em entrevista ao Jornal Económico.
16 Janeiro 2018, 07h20

Tiago Craveiro, CEO da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), é um dos docentes da formação executivo que arrancou na Cidade do Futebol, em Oeiras, na semana passada. Nessa sessão, o dirigente da FPF fez uma apresentação sobre a Estrutura de Governação das Instituições do Futebol, com o caso da FPF. Em entrevista ao Jornal Económico, Tiago Craveiro esclareceu alguns dos pontos focados nesta formação.

Futebol real vs Futebol virtual: São complementares ou podem entrar em conflito?

Independentemente da opinião que cada um de nós possa ter sobre o “futebol virtual”, ele já é uma realidade, com uma tendência de crescimento impressionante. Ignorar não será muito inteligente. Os “esports” são um fenómeno em crescendo e um negócio que abre novos horizontes ao futebol. A FPF tem acompanhado essa tendência da forma mais aberta e empenhada possível, como provam a nossa presença no Lisboa Games Week, em novembro passado, ou a promoção de eventos como o Allianz Challenge, na Cidade do Futebol. A extraordinária evolução tecnológica tem tornado o “futebol virtual” cada vez mais atraente para as novas gerações – e tudo o que nos permita aproximar de novos públicos deve ser encarado como um positivo e oferece-nos novas oportunidades que queremos aproveitar e potenciar.

Que desafios se colocam perante a mudança de consumos de futebol?

São tantos e tão inesperados e imprevisíveis que, provavelmente, os mais significativos para os próximos anos ainda nem sequer surgiram com clareza. A mutação é enorme e está a acelerar. Quem não for capaz de se questionar permanentemente e quem não souber encontrar as melhores soluções para os novos desafios, ficará para trás. O modelo de negócio baseado na venda dos direitos de transmissão aos principais operadores TV está a alargar-se a novos players e a novas plataformas. A própria forma de acompanhar um jogo de futebol está a mudar. Será esta a última geração que vê uma partida de 90 minutos na totalidade? Os ‘millenialls’ têm preferências de consumo muito mais rápidas e fracionadas: vídeos de 30 ou 40 segundos, ou ainda menos, com uma grande jogada, uma grande defesa ou um grande falhanço espalham-se na net e nos smartphones por milhões de visualizações, atingindo audiências superiores aos grandes jogos na TV como um todo. Aumentar o tempo útil de jogo e diminuir as paragens será, por isso, um desafio importante para o futebol se proteger na sua capacidade de captar a atenção das novas gerações.

Que consequências pode ter o desenvolvimento de múltiplas plataformas para visualização de jogos de futebol?

Já está a ter. A Disney — ao mesmo tempo que acaba de comprar, por 66 mil milhões de dólares uma participação maioritária na Fox e na Sky (e com isso passa ser dona da estação que tem 128 de 168 jogos da Premier League transmitidos anualmente pela TV) — adquiriu 75% da empresa que explora os conteúdos digitais da liga profissional de beisebol nos EUA, a BAMTech (num negócio de 3,5 mil milhões de dólares para a MLB). O Facebook, a Netflix e a Amazon acabam de entrar no leilão pelos direitos de transmissão da Premier League entre 2019 e 2022. A revolução nos direitos de difusão dos jogos de futebol já está a acontecer – mas estará apenas a começar.

A forma de promover ou vender os jogos vai mudar consideravelmente nos próximos tempos?

Se posso comprar as minhas férias com antecipação de um ano e desconto de 50%, se posso comprar uma viagem para Londres ou para a Madeira que varia o seu preço quase de hora a hora, fará sentido que continuemos a vender bilhetes para um determinado jogo de futebol sempre ao mesmo preço, independentemente de os comprarmos na véspera ou quatro semanas antes? Os preços dinâmicos podem ser as novas fronteiras no modo de promover e vender os jogos de futebol. Só faltará saber responder a esta pergunta: quem arrisca primeiro isto?

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