Após várias semanas de expectativa, soube-se finalmente que, salvo imprevisto de última hora, Elisa Ferreira será a comissária europeia com a pasta da Coesão e das Reformas. Como sempre, poderemos ver na sua nomeação um copo meio cheio ou meio vazio, consoante a predisposição, mas já lá vamos.

Mas antes, uma palavra de apreço para Carlos Moedas, que teve a seu cargo a pasta da Investigação, Ciência e Inovação e que cessará em breve as suas funções. O balanço do seu mandato é muito positivo, aliás como o próprio primeiro-ministro salientou recentemente. Entre 2014 e 2019, sob a supervisão política de Carlos Moedas, a ciência em Portugal passou a ter o dobro dos fundos comunitários, i.e. cresceu sensivelmente de 500 milhões de euros para mil milhões euros. Tratou-se, é certo, de uma gota de água no oceano europeu de fundos comunitários na área da Investigação, Ciência e Inovação, mas ainda assim foi um dado assinalável que se tenha conseguido canalizar muito mais verbas para Portugal.

Regressando a Elisa Ferreira, Portugal não conseguiu assegurar uma das vice-presidências europeias, ao contrário de Espanha, por exemplo. Manifestamente, tal foi uma meta que não foi alcançada e que o peso político e negocial de Portugal e o peso político pessoal da candidata não conseguiram garantir. Isto dito, em todo o caso, trata-se de uma boa pasta na nossa perspectiva, com peso no plano europeu e que incide sobre áreas que dizem respeito directamente aos nossos interesses.

É claro que Elisa Ferreira, tal como Carlos Moedas, tem um mandato europeu e tem de actuar em nome de todos os Estados-membros, mas isso não a impede de ter alguma influência nos processos de decisão, de modo a ajudar a assegurar os interesses de Portugal. É com isso que contamos, aliás como contam todos os países em relação aos seus comissários nas suas respectivas pastas.

O nome de Elisa Ferreira foi uma boa proposta e uma boa aposta de António Costa. A escolha reuniu um justo consenso nacional, com elogios ao seu nome da esquerda à direita. No entanto, o seu currículo sólido e a sua vasta experiência não lhe vão garantir uma vida facilitada nos corredores de Bruxelas.

Ursula von der Leyen, tal como prometido, constituiu uma equipa paritária de comissários, com uma matriz vincadamente política e com poderosos vice-presidentes executivos. Um jogo de bastidores franco-alemão que envolveu, além da Comissão Europeia, o BCE e o FMI, de algum modo reforçando a realpolitik que tem sido a marca de água europeia nos últimos anos.

Com esta envolvente, a seu tempo se verá se as expectativas que o nome de Elisa Ferreira suscitou eram fundamentadas. Uma coisa é certa, a comissária portuguesa não terá uma vida fácil.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.