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Como um blogue de ‘fake news’ pode ter colocado Dilma na presidência do Brasil em 2010

Investigação da BBC Brasil expôs o caso. Dirigentes do PT afirmaram não ter “conhecimento sobre a contratação de qualquer empresa” para esse fim e os donos da empresa que controlava o blogue recusou revelar informações sobre clientes ou possíveis clientes.
  • Dilma Rousseff, PT, 2011-2016
12 Março 2018, 14h35

Dilma Rousseff, ex-presidente da República do Brasil, destituída do cargo por ‘impeachment’ em 2016, terá tido a contribuição de um blogue “pró-Dilma”, criado por uma empresa de marketing durante a campanha presidencial de 2010, segundo uma investigação da BBC Brasil.

A edição brasileira da BBC conta que um grupo de pessoas foi recrutado – sem contrato formal – pela Ahead Marketing, uma empresa especializada em marketing de guerrilha e comunicação política, para trabalhar como “invisible talkers” (alguém que escreve sobre pseudónimo em prol de outro) a favor da campanha presidencial de Dilma Rousseff, que viria a suceder a Lula da Silva em janeiro de 2011.

O caso ganha relevância, pois o blogue terá difundido ‘fake news’, vulgo notícias falsas, a favor de Rousseff e porque não haverá registos de pagamentos da campanha presidencial de Dilma Rousseff ou do Partido dos Trabalhadores (PT) à Ahead Marketing.

O grupo de “agentes treinados que inserem mensagens em pontos estratégicos” recorria a um perfil falso na blogosfera e em redes sociais para defender com “unhas e dentes” a então candidata presidencial.

O blogue chamava-se “Seja Dita Verdade” e dizia divulgar “notícias transparentes”. Era controlado por “Armando Santiago Jr”, um perfil falso gerido por quatro pessoas da Ahead Marketing, segundo a BBC Brasil. “Armando” também estava presente no Orkut, rede social de grande sucesso no Brasil, e no Twitter, apoiando na difusão de ‘posts’ “pró-Dilma”.

Seriam quatro pessoas a gerir o projeto digital de apoio a Dilma Rousseff, que terão recebido entre 800 euros e mil euros mensais, entre maio e outubro de 2010. Segundo a BBC Brasil, a informação é confirmada por três das quatro pessoas que escreveram para o blogue “Seja Dita Verdade”, entretanto eliminado.

“Alimentar o blogue com postagens desmentindo supostos boatos sobre Dilma Rousseff e publicar textos parciais e contrários ao seu principal adversário, José Serra (PSDB), que acabou derrotado no segundo turno” [sic], era o trabalho do grupo de redatores.

De acordo com a investigação jornalística da BBC Brasil, “a página também chegou a ter notícias falsas e para disseminar o seu conteúdo o trabalho acabou envolvendo a criação de perfis falsos”. Só no Twitter foram criados 131 perfis, pelo menos (84 ainda existem, embora estejam inativos).

À BBC Brasil, os proprietários da Ahead Marketing negaram ter participado na “produção de notícias falsas”, mas não responderam à pergunta sobre a produção de perfis falsos. Recusaram também revelar se foram contratados pela organização da campanha presidencial de Rousseff, alegando não poder revelar informação sobre clientes ou possíveis clientes.

No site da Ahead Marketing pode ler-se que a agência participou em “campanhas vitoriosas para a presidência da república, governos estaduais e de grandes capitais”, sem especificar quais, “dentro e fora do Brasil”.

Embora não haja registo de pagamentos da campanha de Dilma Rousseff ou do PT à Ahead Marketing, a investigação revelou o pagamento de quase 60 mil euros do então coordenador da campanha presidencial, Fernando Pimentel, a uma das empresas de Gabriel Cecíli Arantes, um dos donos da empresa de marketing.

Fernando Pimentel é atualmente governador do estado de Minas Gerais, pelo PT.

“A gente especulava, sabia que podia acontecer, e agora a descoberta de que isso aconteceu já em 2010 gera mais um mega-alerta para as eleições de 2018” [sic], contou à BBC Brasil Fabricio Benevenuto, professor do departamento de Ciência e Computação da Universidade Federal de Minas Gerais, que demonstrou preocupação com a “tentativa de manipulação de opinião pública através de perfis falsos”.

Dirigentes do PT, contactados pela BBC Brasil, afirmaram não ter “conhecimento sobre a contratação de qualquer empresa com a finalidade de criação e manutenção de perfis falsos no Twitter, em qualquer campanha eleitoral”, alegando não ser uma prática do PT.

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