Sob o comando do presidente Vladimir Putin, a Rússia avança na reivindicação de quase meio milhão de quilómetros quadrados no Ártico ricos em hidrocarbonetos. A “reconquista do Ártico russa” acontece mais de 25 anos depois da queda da URSS, sendo que agora Moscovo detém agora uma das maiores e mais poderosas frotas de quebra-gelos nucleares desde o tempo da Guerra Fria.
“A história está a repetir-se”, explica à Reuters o professor Pavel Makarevich, membro da Sociedade de Geografia Russa. “Sob a liderança de [Mikhail] Gorbachev e [Boris] Yeltsin, as áreas de fronteira russas do Ártico foram deturpadas. Agora parecem estar a ser restauradas”.
Vários quebra-gelos nucleares russos estão novamente no oceano Ártico a abrir terreno por entre o gelo para assegurar a liderança da Rússia, que disputa estas águas com o Canadá, Estados Unidos, Noruega e a China, estreante na exploração do Ártico.
A expansão tem profundas implicações financeiras e geopolíticas. Estima-se que o Ártico contenha mais reservas de hidrocarbonetos do que a Arábia Saudita, responsáveis pelo fabrico de petróleo e gás natural. Além disso, dominar o Ártico significa também controlar boa parte da navegação na Rota Marítima do Norte, que permite uma ligação mais rápida da Europa ao Pacífico e vice-versa.
Tendo em conta tudo isso, a Rússia está a colocar grande parte da sua frota naval militar em áreas estratégicas, visando a ampliação das suas fronteiras na plataforma continental do Ártico. Vladimir Putin decretou a reabertura de várias bases militares e aéreas abandonadas em ilhas árticas distantes e a construção de novas.
Em construção estão também três novos quebra-gelos nucleares, os maiores do mundo, para reforça a frota de 40 disjuntores, seis dos quais nucleares.
Segundo os analistas militares, a reivindicação territorial russa é a maior desde os tempos da queda soviética em 1991 e a NATO garante estar atenta a este assunto.
“A modernização das forças do Ártico e das infraestruturas militares está a ocorrer a um ritmo nunca antes visto, até mesmo nos tempos soviéticos”, conta à Reuters, Mikhail Barabanov, editor-chefe da revista de defesa ‘Moscow Defense Brief’. “A atividade militar da Rússia no Ártico é provocativa e pode vir a desencadear uma corrida armamentista”, acrescenta.
De acordo com a Convenção da ONU para o direito marítimo de 1982, cada país junto ao mar têm direito a estabelecer uma zona de exclusividade económica de uma largura de 200 milhas náuticas (cerca de 370 quilómetros). A declaração indica ainda que é o Estado que controla todos os recursos localizados nesta zona, incluindo os hidrocarbonetos.