Em mais um esforço para trazer os países dos Balcãs para o interior da União Europeia, o presidente do Conselho Europeu esteve esta quarta-feira em Pristina, capital do Kosovo, para se encontrar com os seus responsáveis políticos – depois de, na semana anterior, ali ter estado o chanceler alemão Olaf Scholz.
Em conferência de imprensa conjunta com a presidente do país, Viosa Osmani, Michel, disse que a prioridade do Kosovo “é o diálogo com a Sérvia” e a resolução dos problemas que resultaram da declaração unilateral de independência kosovar em 2008. Desde então, a Sérvia, que obviamente não reconhece a declaração, e o Kosovo têm relações muitos difíceis, pontuadas por desentendimentos que por diversas vezes chegaram perto do confronto armado.
Os acordos para a normalização dificilmente são implementados – tanto os que têm a mediação da União Europeia, como aqueles que são patrocinados pelos Estados Unidos.
Viosa Osmani afirmou, citada pelos jornais locais, que o Kosovo está comprometido com o processo de diálogo com a Sérvia, não só porque a comunidade internacional o exige, mas também porque a Pristina considera esse processo vital.
“O reconhecimento mútuo é crucial, por isso, quando a Sérvia reconhecer a realidade, teremos resultados concretos. O Kosovo não bloqueou o processo de diálogo até agora e não o fará no futuro”, disse Osmani. No entanto, sublinhou que a União não deve permitir que o diálogo se torne um instrumento da Sérvia para impedir o Kosovo de aderir às organizações internacionais. A presidente referia-se a um entendimento entre os dois países assinado em Washington sob os auspícios do anterior presidente Donald Trump, segundo o qual a Sérvia deixaria de tentar impedir o Kosovo de entrar em organismos internacionais – mas, há precisamente um mês, tentou isso mesmo quando os kosovares quiseram aderir ao Conselho da Europa.
O presidente do Conselho Europeu disse que conversou com a presidente Osmani sobre o caminho europeu do Kosovo e a liberalização de vistos, afirmando que os Estados-membros têm opiniões diferentes sobre o assunto. “Na próxima semana, vou reunir com 27 líderes dos Estados-membros da união e será uma oportunidade para tomar algumas decisões para o futuro”, disse Charles Michel.
Viosa Osmani disse em resposta que as autoridades do Kosovo estão em constante contacto com os Estados-membros para tirar quaisquer dúvidas sobre a liberalização do regime de vistos e reiterou que o país cumpriu todas as condições para um regime de isenção. O Kosovo é o único país da região cujos cidadãos não podem viajar para a União Europeia sem visto.
Recorde-se que, já depois de Scholz, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Áustria, Alexander Schallenberg, esteve em Pristina com a mesma agenda do chanceler alemão.
A cimeira da União de 23 de junho próximo – para a qual chegaram a ser convidados todos os seis países dos Balcãs que se encontram a negociar a entrada nos 27 – terá como um dos pontos da agenda a questão balcânica. Nessa altura, valerá a pena seguir as disposições da Espanha, país que não reconhece o Kosovo e que terá grandes dificuldades em aceitar a sua entrada na União – por poder criar um precedente de que a Catalunha, ao menos politicamente, venha a beneficiar.