2020 é o ano em que a transição energética deixou de ser uma visão otimista de poucos, para se tornar um desejo e uma realidade de muitos. Não subsistem hoje dúvidas da importância do desenvolvimento de tecnologias de energia renovável que permitam a todos os cidadãos consumir uma energia mais limpa, mais sustentável e mais verde.

As profundas alterações sociais, económicas ou sanitárias, muitas delas provocadas pela pandemia global, reforçaram ainda mais o importante papel que os comercializadores de energia têm no sector de energia.

O preço “fora de mercado” das renováveis que tantas e tantas vezes foi utilizado como argumento “defensivo” de todos aqueles que resistiram estoicamente a esta alteração de paradigma, perdeu “potência”, já que a tecnologia renovável tem provado à escala global a sua competitividade e cabimento económico.

Posto isto, entramos na fase crítica de implementação de políticas de transição energética, onde existem metas nacionais e internacionais bem definidas, políticas energéticas ambiciosas, tecnologias mais eficientes e mais sustentáveis economicamente, faltando o desenvolvimento de estruturas necessárias à sua implementação (nomeadamente as redes) e um consumo mais consciente.

Relativamente à fundamental consciencialização “verde” no consumo, e como sem envolver o consumidor não é possível uma mudança realmente estrutural no sector de energia, saliento o papel decisivo dos comercializadores nesta transição para uma economia de baixo carbono, uma vez que estes constituem o agente de mercado na cadeia de valor com maior ligação ao consumidor final.

Os comercializadores podem e devem incentivar os consumidores a preferirem consumo de energia renovável, atestada pelos certificados de origem. Os comercializadores podem e devem continuar a ser agentes fundamentais na mobilidade elétrica e na eficiência energética que devemos almejar nas nossas casas e nas nossas empresas.

Os comercializadores podem e devem continuar a oferecer serviços no desenho, na efetivação e na gestão das Unidades de Produção de Autoconsumo (UPAC) doméstico, comunitário ou empresarial. Acresce que no caso das UPAC ou da eficiência energética, estamos perante excelentes instrumentos para atingirmos as metas que Portugal assumiu no Plano Nacional Energia-Clima (PNEC) 2030, ou de neutralidade carbónica até 2050.

Se as UPAC permitem ao consumidor o acesso a energia renovável sem necessidade de utilização das (congestionadas) redes de distribuição, já uma aposta em políticas agressivas de eficiência energética permite uma redução significativa de consumos, que vai de encontro à máxima que afirma que não existe MW mais verde que um MW não consumido.

Por fim, mas não no fim, convém termos a consciência que toda e qualquer política energética, seja de âmbito regional, nacional ou global, deve estar assente em regulamentação apropriada – que defina, mas que não burocratize, que supervisione mas que não desequilibre, que seja dinâmica mas que não limite o normal funcionamento do mercado, criando mais transparência e concorrência.

Este é o mais recente desafio, e talvez um dos maiores, para a regulação do setor energético: conseguir acompanhar a sua vertiginosa velocidade de mutação, sem prejudicar a matriz fundamental da sua atuação.