Na véspera do Dia Internacional do Ambiente, os nossos oceanos debatem-se hoje com níveis de poluição plástica sem precedentes desde há 15 anos, pelo que mais do que nunca urge concluir e trazer para luz do dia o tratado internacional acordado para 2024.

Cerca de 170 mil biliões de pedaços de plástico, principalmente microplásticos, foram despejados no mar desde 2005, o equivalente a cerca de 2,3 milhões de toneladas. Números que poderão estar não só subestimados, como deverão registar um aceleramento, se continuarmos a falhar na tomada de ação política. Se os governantes não chegarem rapidamente a um acordo e agirem concertadamente, o consumo de plástico nos países do G20 poderá atingir os 451 milhões de toneladas até 2050, o que é quase o dobro do registado em 2019 (261 milhões de toneladas).

Dados os níveis de consumo de plástico e as quantidades descartadas indevidamente no ambiente terrestre e marinho, a resposta não pode continuar a estar assente fundamentalmente em soluções de fim de linha como a reciclagem que, conforme nos mostram os números, está longe de ser suficiente para resolver o problema, mesmo nos países mais desenvolvidos.  Até porque os compromissos assumidos até à data a serem cumpridos deverão apenas refletir-se numa parca redução de 8% dos plásticos até 2040!

É preciso mudar, apostar mais na prevenção, na redução na origem, numa abordagem de ciclo de vida completo e no (re)design. Uma das opções que tem um elevado potencial a explorar é, nomeadamente, a eliminação da sobreembalagem. É preciso acabarmos com o plástico desnecessário, reformulando quer os produtos que envolvemos em plástico, quer o número de camadas que usamos para os proteger, incluindo durante o transporte.

É também fundamental reforçar a aposta na investigação e na inovação para reduzir a nossa excessiva dependência do plástico, enquanto criamos novos produtos e/ou modelos de negócio, mais oportunidades de mercado e, logo, mais emprego verde. Temos de apostar seriamente em soluções que promovam a reutilização e a reciclabilidade das embalagens.

Naturalmente que a indústria tem aqui um papel determinante, desde os produtores de plástico a todos os setores que o consomem e/ou o propagam ao integrar este material na confeção dos seus produtos, como a indústria automóvel, da moda ou da cosmética, promovendo mediante incentivos a necessária transição de atividade. Esta é uma responsabilidade que está acometida a todos, incluindo aos consumidores nas opções do dia a dia.

Até lá, necessitamos que os governos nacionais – incluindo Portugal – deitem as mãos ao trabalho e criem a legislação que possa estar em falta, mas também implementem a que esteja em vigor. Precisamos com urgência de um sistema de incentivos em funcionamento que sirva para expandir os sistemas de reutilização, como as garrafas reutilizáveis, os distribuidores a granel e os sistemas de depósito-retorno. É urgente desplastificar o nosso modo de vida. Todo o atraso em que os governantes incorrerem está a onerar-nos, à biodiversidade e ao planeta.