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Corrida ao hidrogénio: Quatro projetos para Portugal que vale a pena conhecer

O Governo escolheu as propostas que considera ser mais viáveis e hoje promove um encontro entre estes promotores para tentar alcançar sinergias entre projetos, antes de os apresentar em Bruxelas para tentar obter financiamento europeu.
  • Nasa – Unsplash
24 Julho 2020, 17h30

O Governo vai promover esta segunda-feira um encontro com vários promotores de projetos de hidrogénio. Este encontro, à porta fechada, vai servir para acertar agulhas entre os diversos projetos, isto é, apurar se são complementares.

Um comité composto por vários ministérios esteve a avaliar as propostas, e escolheu as que considera ser mais viáveis, com o objetivo de apresentá-las em Bruxelas com o objetivo de obter financiamento, no âmbito do processo conhecido por Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu (IPCEI, na sigla em inglês).

No processo de consulta ao mercado, que terminou a 17 de junho, foram apresentados 74 projetos na fileira industrial do hidrogénio, com os investimentos propostos a atingirem 16 mil milhões de euros, o equivalente a 7,5% do PIB nacional. Os projetos escolhidos para apresentar em Bruxelas serão divulgados pelo Executivo na próxima semana.

O secretário de Estado da Energia espera que até ao final do ano o Governo apresente em Bruxelas a candidatura aos fundos europeus para o hidrogénio. Apontando que alguns timings são definidos pela Comissão Europeia, diz que o Executivo vai trabalhar para “estar preparado o quanto antes, para quando for solicitada a apresentação de projetos”, segundo João Galamba.

  • O maior projeto: 2,4 mil milhões para produzir hidrogénio verde em Estarreja

A Bondalti Chemicals quer produzir hidrogénio verde e amoníaco verde no complexo químico de Estarreja. A ser realizado até 2040, o projeto implica um investimento de 2,4 mil milhões de euros, conforme apurou o Jornal Económico (JE).

Este é o valor mais elevado entre as 74 propostas da fileira do hidrogénio que foram apresentadas ao Governo. Apesar de ainda ser um projeto, a empresa química do grupo José de Mello já comunicou a sua intenção de avançar para este investimento avultado em Estarreja, onde já conta com uma unidade, prevendo a criação de 55 a 70 postos de trabalho diretos.

“Este é o maior projeto que temos nesta manifestação de interesse, nem é diretamente da área da energia, é da indústria química”, disse ao JE o secretário de Estado da Energia, João Galamba.

“O hidrogénio não é apenas um vetor energético que pode substituir, por exemplo, o gás natural ou outro tipo de combustível fóssil, mas também pode ser uma matéria-prima que permite à própria indústria substituir produtos que são hoje usados, substituir importações, descarbonizar processos produtivos e especializar-se na produção de novos produtos que até podem ser exportados”, explicou João Galamba, esclarecendo que a informação de que dispõe foi a já divulgada pela Câmara de Estarreja, no distrito de Aveiro. O JE questionou a empresa sobre o projeto, mas não obteve respostas.

  • CP com comboios a hidrogénio

Outra proposta foi a conversão de comboios a gasóleo da CP – Comboios de Portugal por unidades a hidrogénio, evitando a necessidade de eletrificar várias linhas. O projeto tem um valor de 250 milhões de euros, sabe o JE. “Em linhas não eletrificadas, onde para se retirar o gasóleo se teria de fazer investimentos significativos, colocar catenárias e adaptar a linha, uma das vantagens do hidrogénio é que dá opções. Em vez de se investir na mudança da linha, investe-se na mudança do comboio”, explicou o governante.

Conforme apontou o secretário de Estado, este projeto será uma parceria com a Salvador Caetano, que já tem experiência nos autocarros a hidrogénio, e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). “A CP já tem a experiência industrial nas suas oficinas em Guifões, Entroncamento ou Poceirão. É uma oportunidade interessante para a indústria portuguesa e para a CP em particular”, defendeu.

  • Sines é “central” para o hidrogénio em Portugal

Também a EDP está a avaliar a possibilidade de participar no projeto que prevê a construção de uma central de produção de hidrogénio verde em Sines, em conjunto com outras empresas, e entregou esta proposta ao Governo, apurou o JE.

Este projeto tem um valor de investimento superior a mil milhões de euros, e parte do mesmo pode vir a ser desenvolvido no terreno onde hoje está localizada a central a carvão de Sines, pois a elétrica já anunciou que pretende encerrá-la em janeiro de 2021.

Questionada pelo JE sobre os seus planos para a área do hidrogénio, a EDP não quis fazer comentários.

O promotor desta central de hidrogénio verde é o Resilient Group, empresa detida pelo holandês Marc Rechter, que vive em Portugal há décadas.

“Pela nossa parte estamos muito satisfeitos por surgir este grande ‘tsunami’ de interesse por parte do setor privado português e europeu” afirmou João Galamba, confirmando que o projeto se encontra entre os que estão a ser avaliados agora pelo Governo. Por o processo encontrar-se agora a ser avaliado, o promotor não quis fazer comentários sobre parcerias com outras empresas.

No plano nacional para o hidrogénio, o projeto de Sines surge com um valor de investimento previsto de 2,85 mil milhões de euros. Questionado se tinha sido este valor apresentado ao Governo, e se o projeto tinha sofrido alterações, o promotor não quis comentar por o processo estar a decorrer.

Esta central tem como objetivo produzir hidrogénio verde, a partir de energia renovável, para depois ser transportado em estado gasoso via navio para o norte da Europa e ser vendido na Alemanha e Holanda. O gás será depois usado nos processos de produção de refinarias, cimenteiras, indústrias de aço, farmacêuticas ou fertilizantes. Atualmente, estas indústrias já usam hidrogénio, mas nos próximos anos a procura pela versão verde deverá aumentar para evitar a penalização das empresas devido à poluição. O hidrogénio é produzido através de um eletrolisador, num processo químico conhecido por eletrólise, mas tem de ser alimentado a energias renováveis para que o processo seja considerado verde.

Sobre esta central, o secretário de Estado da Energia, por sua vez, apontou que “o projeto de produção de larga escala em Sines é central, mas temos de ver os pressupostos, os volumes de investimento associados, ainda vamos analisar”, sublinhou João Galamba.

    • Turbogás quer produzir hidrogénio verde em Gondomar

Também a Trustenergy, que detém a central a gás natural da Tapada do Outeiro, concelho de Gondomar, distrito do Porto, está atenta aos desenvolvimentos na área do hidrogénio em Portugal.

“O desenvolvimento do projeto na Tapada do Outeiro, ao situar-se dentro desta área de influência, poderá reunir as condições para dar um impulso decisivo neste mercado regional, ao potenciar o aparecimento de uma oferta competitiva e fiável, com uma logística bastante mais simples se comparada com outros projetos alternativos”, explica a empresa ao JE, que adianta que o projeto “está neste momento em análise”.

De acordo com a companhia, este projeto não vai interferir com a produção de gás natural. “A produção de hidrogénio verde não apresenta qualquer dificuldade de integração com a existente produção energética a partir do gás natural, podendo inclusivamente promover a descarbonização do seu próprio processo de combustão através da mistura de hidrogénio verde no gás natural utilizado nas turbinas a gás da central”.

  • PRF com quatro projetos

Outra empresa a apresentar uma candidatura ao Governo foi a PRF- Gás, Tecnologia e Construção, da Azoia, distrito de Leiria. A empresa – que tem entre os clientes a EDP, Galp ou REN – conta com vários projetos nesta área, incluindo a produção de hidrogénio verde, a armazenagem e compressão para uso em fuel-cell, a injeção na rede, e estações de enchimento de hidrogénio, segundo o administrador Paulo Rui Ferreira.

 

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