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Costa defende aumento das interligações energéticas entre Portugal e o resto da Europa para reduzir dependência da Rússia

Aumentar as autoestradas de energia entre a Península Ibérica e a Europa poderia servir para reduzir a dependência europeia do gás russo, mas poucos avanços têm sido feitos nos últimos anos.
  • António Costa PM Twitter
24 Fevereiro 2022, 14h35

É um tema recorrente na última década. Sempre que a Rússia ameaça lançar a Europa num caos energético, devido aos humores de Vladimir Putin, Portugal vem defender que pode ser parte da solução para substituir o gás russo.

A ideia é que Portugal pode receber gás natural liquefeito (GNL) através do porto de Sines e enviá-lo para o resto da Europa através de Espanha; na eletricidade, a ideia seria usar a produção excedentária de energias renováveis em Portugal, se existir, para enviar eletricidade verde para lá dos Pirenéus.

Mas poucos avanços têm sido feitos na fronteira entre Espanha e França para aumentar as interligações, apesar das inúmeras declarações de responsáveis políticos de Espanha, França e Comissão Europeia. Ao mesmo tempo, a terceira interligação de gás natural entre Portugal e Espanha nunca saiu da gaveta.

Com a invasão russa da Ucrânia, o tema voltou a ser abordado hoje pelo Governo português.

“Portugal, felizmente, é menos dependente da Rússia do que outros estados da União Europeia em matéria energética”, começou por dizer o primeiro-ministro em conferência de imprensa

“Esperamos que isto seja uma ocasião para que a União Europeia possa olhar para a sua segurança energética, na ótica de 36o graus, e perceber como é fundamental, em primeiro, diversificar as fontes de abastecimento de energia à Europa. E em segundo, diversificar as energias utilizadas na Europa, acelerar o processo de descarbonização e de melhor uso de energias renováveis”, acrescentou António Costa na conferência de imprensa que teve lugar esta quinta-feira, 24 de fevereiro.

“Nesse contexto, o aumento das interconexões entre Portugal e Espanha e o conjunto da Europa são absolutamente decisivos para aumentar a segurança energética na Europa e a articulação de Portugal com um conjunto de países africanos que são fornecedores de energia [Argélia e Nigéria, que fornecem a maioria do gás natural a Portugal] e também com as importações que podem vir dos EUA, temos infraestruturas de acolhimento e exportação para a Europa”, referindo-se ao porto de Sines.

A questão das interligações energéticas até motivou uma mini-cimeira em Lisboa no verão de 2018, em que Emmanuel Macron, Pedro Sanchez e António Costa comprometeram-se a aumentar “rapidamente” as interligações entre a Península Ibérica e França (através do Golfo da Biscaia e dos Pirenéus), que permitiria cumprir a meta europeia de 10% de interligações até 2020. No entanto, passados dois anos, nada mudou.

Já Portugal está a trabalhar numa nova interligação com Espanha entre o Minho e a Galiza. Em junho de 2021, o ministro do Ambiente dizia que a “interligação no Alto Minho é da maior importância para [o projeto] poder avançar e quero acreditar que já estamos muito perto do consenso entre Portugal e Espanha”.

“Espanha foi mesmo um problema na ligação do Alto Minho, […] porque, em Monção, andou a ‘dançar’ com o corredor para a esquerda e para a direita, quando já havia um corredor que estava definido e, por isso, neste momento, voltaram ao corredor inicial e o projeto tem todas as condições para se poder concretizar. É verdade que existem os Pirenéus e isso torna muito mais difícil as interligações entre Espanha e França”, disse João Pedro Matos Fernandes em junho de 2021 em entrevista à Lusa.

Entre os nove países a quem Portugal comprou gás natural em 2020, a Rússia ocupa a última posição, pesando apenas quase 7% no total de gás natural importado: 5,748 milhões de metros cúbicos normais (Nm3).

A Nigéria lidera este ranking (pesa 54%) com 3,1 milhões de Nm3, seguida dos Estados Unidos da América (16%) com 917 mil Nm3 e da Argélia com 522 mil, segundo os dados de 2020 da Direção-Geral de Energia (DGEG). O gás chega da Nigéria, Estados Unidos e Rússia através de navios metaneiros, é transformado em liquido para ser transportado – gás natural liquefeito (GNL) -, sendo devolvido ao estado gasoso quando chega ao país, através do porto de Sines.

Portugal importou assim em 2020 68.129 Gigawatts hora de gás natural no valor total de 1,02 mil milhões de euros.

Já as reservas nacionais de gás encontram-se atualmente nos 81,55% (quantidade de gás/face à capacidade de armazenamento), num total de 2,9155 terawatt-hora (TWh), de uma capacidade total de 3,57 TWh, segundo os dados da Plataforma de Transparência GSE (AGSI+).

O país conta mesmo com as reservas mais altas, em percentagem, entre os 18 países europeus com armazenamento de gás. Segue-se a Suécia (66%), Espanha e Polónia (58% cada). Na União Europeia, a média ronda os 30%, com a Áustria na última posição: 18%.

 

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