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Consumo de arroz, massa e enlatados em alta; quebra no vestuário e produtos de beleza

Segundo um estudo da consultora Oliver Wyman, em fevereiro, na China continental, 70% dos consumidores tinham deixado de comprar em lojas físicas, optando pelo ‘online’, um cenário que poderá estar (ou vir) a replicar-se na Europa.
14 Abril 2020, 08h25

As novas tendências de consumo dos europeus em função do surto de coronavírus apontam para um acréscimo de compras de produtos como o arroz e massa ou enlatados, respetivamente de 10,8% e de 8,9% face ao período que antecedeu a crise pandémica, de acordo com diversas análises e inquéritos realizados pela consultora Oliver Wyman.

No sentido inverso, os segmentos de vestuário e acessórios (-43%) e dos produtos de beleza (-27%) estão em queda livre.

“De acordo com a nossa análise e inquéritos a consumidores europeus, o aumento da compra de produtos como arroz e massa ou enlatados em supermercados foi de 10,8% e 8,9% respetivamente, face ao período que antecede a crise pandémica. Contudo, como é lógico, os consumidores (e tendo em conta todos os canais) estão no geral a comprar menos produtos não alimentares na Europa, durante a crise. O segmento de vestuário e acessórios (-43%) está a ser especialmente castigado, o mesmo acontece com os produtos de beleza (-27%)”, resumem os responsáveis da empresa especializada em consultoria estratégica.

Estas tendências também já se tinham apurado num estudo da Oliver Wyman efetuado na China continental em fevereiro, que serviu como um cenário para o desenvolvimento do consumo na grande distribuição na Europa.

Nesses estudo da consultora na China, o arroz, a massa e a massa já eram a categoria em que os consumidores mais tinham aumentado as compras. Dos 42% de inquiridos que aumentaram as suas compras nesta categoria, 55% fizeram-no para fazer stock.

Esta tendência repetiu-se na categoria de alimentos instantâneos e preparados, pois entre os 28% dos inquiridos que compraram mais 42% fizeram-no para armazenar.

Os ovos e os laticínios foram as proteínas escolhidas pela maioria dos consumidores, devido à menor disponibilidade de carne fresca, peixe e marisco. Mas 35% e 33% dos inquiridos compraram mais ovos e laticínios, respectivamente.

“Os consumidores chineses também têm estado mais conscientes da necessidade de cuidar da sua saúde durante o surto. Assim, as compras de produtos hortícolas e frutas frescas apresentaram uma tendência de subida semelhante, com 40% e 37% dos inquiridos a aumentarem as compras, respectivamente. Os produtos congelados e refrigerados também aumentaram as vendas como substitutos da carne fresca e do marisco, com 43% dos inquiridos a aumentar as compras destes produtos. Destes, 57% compraram mais para compensar a rutura da cadeia de abastecimento”, assinalavam os responsáveis da Oliver Wyman.

Outra tendência a seguir é o facto de cerca de 70% dos consumidores chineses inquiridos pela Oliver Wyman afirmarem ter deixado de comprar em estabelecimentos físicos durante o surto de Covid-19 no seu país.

“A questão central para os retalhistas é perceber se podem responder de forma flexível a estes desafios diametralmente opostos de forma ágil, adaptando as suas operações e a tomada de decisões comerciais rapidamente para refletir a nova realidade diária. Mesmo nesta fase relativamente precoce do surto, a nossa análise sugere que a procura de muitas categorias já começou a diminuir, e a oferta da China ainda não voltou aos níveis esperados. Será necessária liderança forte, não só para estabilizar o navio, mas também para tomar as decisões necessárias, atravessando as fronteiras tradicionais e o pensamento”, aconselhavam os responsáveis da consultora naquela altura.

Para este estudo na China continental, realizado em fevereiro de 2020, a consultora ouviu mil consumidores sobre as preferências de compra em produtos de mercearia e comida durante o surto de Covid-19.

Das mil pessoas que responderam, 40% eram homens e 60% mulheres. A distribuição geográfica representa a distribuição da população urbana da China.

A partir desta realidade de fevereiro, na China, a Oliver Wyman traçou ainda uma estimativa do impacto da paralisia da atividade industrial na China na economia da União Europeia, dependendo do cenário, com impactos negativos que iam dos cerca de dois mil milhões de euros até cerca de 18,7 mil milhões de euros por mês, caso o surto se tivesse espalhado da região de Wuhan para as províncias vizinhas.

Além destes cenários, a consultora emitiu seis recomendações para o setor do retalho: mudar a gestão corrente para gestão de crise; planear com base em cenários de sobrevivência; gerir com a possibilidade de constrangimentos no fornecimento; lidar com a diminuição da confiança; prepararem-se para a falta de colaboradores e a diminuição da procura; e sobreviver com os mínimos.

A Oliver Wyman sugere também maior atenção na triagem, ou seja, “avaliar a sustentabilidade da localização das lojas face à procura, capacidade da oferta, facilidade de logística”, destacando que “a responsabilidade social pode sobrepor-se à concorrência no curto prazo.

Uma outra recomendação às empresas de retalho é que devem dar resposta no canal digital, mas de forma sustentável, e “garantir que a operação funciona online, ainda que a procura aumente 600%”.

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