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Covid-19 criou 20 novos “milionários da pandemia” na Ásia

Relatório de ONG destaca o aumento do fosso entre ricos e pobres, pois na mesma altura 140 milhões de pessoas foram arrastadas para situações de pobreza.
  • 7 – Hong Kong
14 Janeiro 2022, 22h30

Na Ásia, enquanto a resposta internacional à Covid-19 tornou os ricos ainda mais ricos, criando 20 novos milionários, 140 milhões de pessoas caíram na pobreza, revelou o relatório da organização não-governamental Oxfam, divulgado na quarta-feira.

A estagnação económica e as quarentenas impostas pela pandemia levaram a que milhões de pessoas perdessem o emprego.

Estes fatores aumentaram o fosso de um sistema que já era desigual, alimentando um ciclo de pobreza e desigualdade. O Banco Mundial estima que mais oito milhões de pessoas vão ser arrastadas para a pobreza em 2021.

Entre março e dezembro de 2020, os bilionários acumularam o suficiente para cobrir um salário de quase 10 mil dólares para cada um dos 147 milhões de empregos perdidos na região durante o mesmo período. E, “em novembro de 2021, o número de bilionários na Ásia-Pacífico aumentou em quase um terço em relação aos níveis pré-pandemia, com a sua riqueza coletiva a crescer 74%”, informa o documento.

O líder de campanhas da Oxfam Ásia, Mustafa Talpur, disse ao The Guardian que “é revoltante e altamente inaceitável que as pessoas pobres na Ásia [tenham sido deixadas] à mercê da pandemia, enfrentando graves riscos de saúde, desemprego, fome e empurradas para a pobreza – apagando os ganhos obtidos em décadas na luta contra a pobreza”.

“As pessoas mais pobres da Ásia, mulheres, trabalhadores pouco qualificados, migrantes e outros grupos marginalizados estão a ser os mais atingidos”, acrescentou. “O sistema político está a proteger os interesses da pequena elite rica. Os governos falharam consistentemente em trabalhar para a maioria durante a pandemia”.

No sul do continente, as pessoas de castas mais baixas fazem a maior parte do trabalho de saneamento, muitas vezes sem equipamento de proteção, e enfrentam a pobreza e a discriminação que os impedem de aceder aos serviços de saúde – cenário que a Oxfam diz der piorado com a Covid-19.

Os novos milionários são provenientes da China, Hong Kong, Índia e Japão. Entre eles, está Li Jianquan, cuja empresa, Winner Medical, fabrica equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde, e Dai Lizhong, cuja empresa, Sansure Biotech, faz testes de Covid-19 e kits de diagnóstico.

A Oxfam assinala que 1% das pessoas mais ricas possuíam mais riqueza do que as 90% mais pobres da região.

O relatório aponta algumas recomendações para “um futuro inclusivo, verde e equitativo para a Ásia”, que incluem o aumento da tributação de pessoas (físicas e jurídicas) ricas, como impostos sobre a riqueza e os lucros; um maior investimento em serviços públicos e vacinas para todos e em proteção social e trabalho assistencial; trabalho e salários dignos acompanhados por direitos laborais para todos; e planos nacionais e regionais para reduzir as desigualdades,  económicas, sociais e de género, e garantir uma recuperação verde e um setor privado mais responsável.

A título de exemplo, a ONG diz que calculou que um imposto sobre a riqueza de 2 a 5% sobre os multimilionários e bilionários da Ásia-Pacífico poderia arrecadar mais 776,5 mil milhões de dólares todos os anos, o que, argumenta, “seria suficiente para aumentar em 60% os gastos públicos com saúde na região. A crise também mostrou que a alocação de verbas é uma questão de prioridades; onde há vontade política, há um caminho”.

 

 

 

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