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Covid-19 e invasão russa fazem disparar procura por ‘bunkers’ na Europa

O pensamento de uma guerra nuclear, outrora remetido aos fantasmas do passado ou, em alternativa, consequente da retórica norte-coreana, ganha espaço na consciência das novas gerações europeias.
7 Maio 2022, 15h16

O medo e a ansiedade de uma guerra nuclear ou de uma nova pandemia fizeram com que centenas de milhares de pessoas decidissem comprar ‘bunkers’ — abrigos, tendencialmente subterrâneos, desenhados para aguentar o impacto de bombas. É precisamente o que está a acontecer atualmente na Europa, onde vários países já identificaram uma forte procura por estas construções, principalmente desde a invasão russa da Ucrânia, avança o “El Economista”.

O pensamento de uma guerra nuclear, outrora remetido aos fantasmas do passado ou, em alternativa, consequente da retórica norte-coreana, ganha espaço na consciência das novas gerações europeias. É cada vez mais comum investigar sobre como os países preparam as infraestruturas de defesa, mas também guias e os tipos de abrigos para sobrevivência. Práticas que antes eram identificadas, sobretudo, por bilionários com ideias catastróficas.

“Há uma febre de construção de bunkers e estamos a receber uma avalanche de pedidos”, diz Giulio Cavicchioli, proprietário da Minus Energie em Bagnolo San Vito, Mântua, Itália, empresa que passou de produzir 50 bunkers nos últimos 22 anos para responder a 500 pedidos de informação nas últimas duas semanas, segundo o “The New York Times”.

Mathieu Séranne, fundador da Artemis Protection, empresa francesa que produz bunkers de luxo afirma que “durante as últimas duas semanas começamos a receber milhares de pedidos de pessoas comuns. Isso é algo que antes só pessoas muito ricas se interessavam”. Os bunkers pré-fabricados com filtragem de ar têm um custo de, pelo menos, 500 mil euros.

Séranne confirmou ter recebido cerca de 300 pedidos de informação e que a sua empresa estava a vender bunkers mais pequenos, logicamente mais baratos, com preços a rondar os 150 mil euros. Especificamente, a Artemis Protection está a produzir dez ‘bunkers básicos’. “Tivemos que modificar toda a nossa estratégia de negócios”, disse Séranne, referindo-se ao aumento da procura.

Os países mais próximos da Rússia são justamente os que mais a consideram. São os casos da Finlândia e da Suécia. Os primeiros têm, neste momento, capacidade para quatro milhões de pessoas em cerca de 50 mil abrigos. Em vez disso, estes últimos estão a testar um sistema de alerta de ataque aéreo e preparar um guia de prevenção de 20 páginas ao estilo da Guerra Fria que inclui abastecimentos básicos para comprar e sobreviver num bunker.

A Suíça, muito à frente da sua vizinha França, é um dos países mais desenvolvidos em muitos destes aspetos em relação aos demais. Um deles foi na criação de bunkers. Na década de 1960, os suíços aprovaram uma lei que exige a instalação de abrigos anticorrosivos em edifícios residenciais. No total, a Suíça tem mais de 35 mil bunkers comunitários, incluindo um bunker em Lucerna para 20 mil pessoas, o que poderia proteger toda a sua população.

Por sua vez, países como Bélgica, Países Baixos ou Finlândia viram aumentar consideravelmente a procura por pílulas de iodo, tendência também verificada em Portugal,  que podem impedir que o iodo radioativo entre na tireoide para prevenir o desenvolvimento de cancro de tireoide. Como disse Michael Storme, funcionário do Sindicato dos Farmacêuticos da Bélgica, ao NYT, as farmácias do país distribuíram mais de 30 mil caixas desses produtos. Em vez disso, em Itália, vitaminas à base de iodo estão a voar das prateleiras.“É a nova mania”, diz um farmacêutico italiano.

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