As ações do Credit Suisse voltam hoje a estar na linha de fogo. Os títulos estão hoje a cair 10,78% para menos dos 2,00 francos suíços depois de ontem, em reação à ajuda do banco central, terem subido 19%. O que pode antecipar um movimento mais radical para tentar salvar o banco já no fim de semana, segundo fontes do mercado.
A XTB fala mesmo em “receios de uma possível liquidação do banco”, para justificar a queda das ações. O preço das ações está a caminhar para mínimos semanais.
O mercado receia que a liquidez do Swiss National Bank (SNB), seja insuficiente e há aquela convicção de que sauditas não fornecerão capital, caso o banco precise de o fazer, por razões regulamentares.
Uma fusão entre o UBS e o Credit Suisse é uma das soluções que estará a ser equacionada pelas autoridades suíças para resolver a crise que está instalada no Credit Suisse e a castigar toda a banca europeia. No entanto, de acordo com a Bloomberg, os dois maiores bancos do país estão contra uma fusão forçada. O UBS prefere seguir a estratégia focada na gestão de fortunas de forma isolada e mostra-se relutante em assumir os riscos de uma união com um banco em dificuldades e o Credit Suisse só admite essa possibilidade numa solução de último recurso.
O jornal suíço In$ide Paradeplatz fala hoje de um desmantelamento do Credit Suisse. Com o Raiffeisen e o ZKB a dividirem o negócio suíço de retalho e banca de empresas.
A corretora XTB cita a Morningstar, para dizer que o banco suíço que está no centro do furacão tem registado saídas líquidas de mais de 200 milhões de dólares de fundos americanos e europeus sob gestão desde 13 de Março. O que acentua um movimento que já estava em curso. O segundo maior banco suíço tinha visto as saídas de clientes do quarto trimestre aumentarem para mais de 110 mil milhões de francos suíços (112,5 mil milhões de euros). Em Portugal, o banco foi inundado com telefonemas dos clientes devido aos receios em torno da viabilidade do gigante suíço.
O Credit Suisse, que está a meio de uma complexa reestruturação de três anos, tem lutado para conter as saídas de depósitos, mas a crise de confiança intensificada pela falência dos três bancos nos Estados Unidos e resgate do First Republic Bank, não está a ajudar a esse desígnio.
“Permanecem as dúvidas sobre o futuro do Credit Suisse, que terá de reconquistar a confiança dos clientes e estancar a fuga de fundos. O First Republic continua no olho do furacão e as ações afundaram 17% no after hours depois do banco ter anunciado a suspensão do pagamento de dividendos. O nível de stress na banca norte-americana é bem visível no financiamento da Fed ao setor, que disparou para mais de 160 mil milhões de dólares nos últimos dias”, realça a XTB.
O Silicon Valley Bank avançou hoje com um pedido de falência, depois do stress financeiro no final da semana passada que levou a uma corrida aos depósitos por parte dos seus clientes.
O banco está a sofrer uma reestruturação estratégica para restaurar a estabilidade e a rentabilidade após uma série de perdas, mas o mercado não tem atualmente confiança no seu sucesso final. Mesmo depois do banco central suíço ter mobilizado 50 mil milhões de francos suíços em linhas de financiamento para o Credit Suisse, das quais o banco já usou 39 mil milhões para acorrer a um défice de liquidez.
O market cap do Credit Suisse agora anda pelos sete mil milhões de francos suíços e a liquidez que o banco estimou como necessária é superior a 50 mil milhões de francos suíços. Não é claro se o SNB optará por um possível resgate adicional à situação financeira do banco, um montante mais elevado face a uma potencial oposição política, diz a XTB que lembra que o Partido Popular Suíço de Direita da Suíça criticou a decisão do SNB de ajudar o banco, revela a XTB.
As medidas significativas do SNB podem não ser suficientes para os clientes recuperarem a confiança e quererem voltar a utilizar os seus serviços. De acordo com os comentários do Syz Bank, uma garantia total do SNB sobre todos os depósitos e uma injeção de capital dando ao banco mais tempo para se reestruturar poderia ajudar.
O jornal In$ide Paradeplatz cita também o Relatório Anual de 2022 do Credit Suisse, que foi publicado com atraso por causa de dúvidas da SEC sobre as demonstrações financeiras, tendo o banco encontrado debilidades nos relatórios dos últimos dois anos.
O jornal revela que na fase da primeira angariação de clientes, a holding Credit Suisse Group (cotada) baixou o seu capital de base e aumentou o valor da subsidiária do banco Credit Suisse em 9 mil milhões. A gestão de topo da CS ajustou o seu rácio mais importante num momento crucial. Se a gestão de topo da CS não o tivesse feito na altura, o banco não teria sido suficientemente capitalizado na altura, revela o In$ide Paradeplatz.
Na semana passada, Credit Suisse admitiu que tinha “fraquezas materiais” nos seus relatórios e procedimentos de controlo, mas que estas não afetavam os seus dados financeiros. O banco publicou um relatório anual de 2022 com atraso. Rosen Law afirma que isto pode ter causado “irregularidades” nos resultados e induzido em erro os seus acionistas.
O segundo maior banco da Suíça foi também hoje atingido por uma ação judicial movida por investidores americanos por causa das suas dificuldades recentes. Os autores da ação judicial alegam que o Credit Suisse os defraudou ao ocultar problemas com suas finanças.
A ação coletiva proposta num tribunal federal em Camden, Nova Jersey, na quinta-feira, acusa o Credit Suisse de enganar os investidores ao não revelar que está a sofrer saídas “significativas” de clientes e que tinha fragilidades materiais nos seus controles internos sobre relatórios financeiros dos últimos dois anos. Os investidores dos EUA, através da Lei Rosen, lançaram assim um processo de ação coletiva contra o banco.
Segundo a XTB os swaps de crédito de 5 anos mostram que, para além do Credit Suisse, o mercado não vê risco significativo de colapso de outros grandes bancos europeus.