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Credit Suisse: Pandemia pode marcar mudança permanente nas políticas monetárias e orçamentais

A análise do banco suíço para 2021 sublinha o impacto das baixas taxas de juro e de inflação nas economias mais desenvolvidas, mas também argumenta que 2020 deverá marcar o fim do período de baixo crescimento e inflação que se vivia na maioria dos países desenvolvidos desde a década de 80.
  • Jeenah Moon/Bloomberg
13 Janeiro 2021, 07h35

As alterações nas políticas monetárias e orçamentais como resposta à pandemia de Covid-19 em grande parte dos países desenvolvidos poderão tornar-se permanentes, com a doença causada pelo novo coronavírus a marcar o fim do período de crescimentos anémicos e inflação baixa que se vive desde os anos 80, argumenta o Credit Suisse na sua perspetiva económica para 2021.

O banco antevê um clima ligeiramente positivo para as finanças públicas de cada país, mas avisa os investidores que o clima de incerteza atual convida à abertura a uma vasta gama de cenários possíveis.

A análise começa por destacar o abandono de determinadas referências macroeconómicas e financeiras, como a preocupação com o controlo do défice ou a alocação do crédito por parte dos mercados, em consequência da necessidade de adoção de políticas semelhantes a uma economia de guerra.

Assim, o Credit Suisse avalia a possibilidade de serem colocados em prática alguns princípios da chamada teoria monetária moderna, que defende que défices orçamentais são irrelevantes para uma economia com taxas de câmbio variáveis e com o banco central autónomo capaz de ditar a sua política monetária. No entanto, a publicação alerta que políticas orçamentais e monetárias agressivas poderão resultar em possíveis alterações nos mercados financeiros sem resolver os problemas estruturais subjacentes.

Sublinhando que esta teoria é uma corrente extrema e difícil de implementar na prática, especialmente em períodos de estabilidade e sem a resposta agora necessária a um choque profundamente adverso, o banco destaca que, do grupo das sete economias mais desenvolvidas do mundo, apenas a Alemanha regista uma dívida bruta em função do PIB abaixo dos 100%.

Contudo, este indicador é frequentemente sobrestimado, dadas as percentagens de dívida detidas pelos bancos centrais dos próprios países e ainda pelas outras formas de dívida que estes detêm, como fundos de pensões, o que coloca maior relevância no valor da dívida líquida de cada país.

Os bancos centrais têm agido sobretudo de forma a controlar as taxas de juro, sem grande preocupação com a dinâmica da dívida soberana, o que sugere uma preocupação maior com uma eventual subida destas taxas. Tal é explicado, por exemplo, pelo papel que estas têm tido a compensar as perdas massivas de sectores onde a atividade sofreu com as restrições à circulação, como o mercado imobiliário, altamente sensível às variações nas taxas de juro.

A análise do banco suíço refere ainda a possibilidade de uma subida na inflação em 2021, apesar do cenário não se apresentar como o mais plausível. Avisando de um possível excesso de confiança na capacidade dos bancos centrais de evitarem qualquer subida indesejada da inflação, o Credit Suisse destaca também que, caso as expectativas dos investidores relativamente a este indicador disparem, o mesmo irá suceder com as taxas de juro.

Ainda assim, esta subida só implicaria défices orçamentais através da subida dos custos da dívida após um longo período, o que já não é verdade no caso das famílias ou de pequenos e médios negócios. Um cenário como este poderiam significar nova crise para o tecido económico, mas apresenta-se como improvável, dado que aumentos na inflação costumam ocorrer aliados a uma aceleração no crescimento.

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