O comércio mundial vai crescer a um ritmo mais lento do que o do Produto Interno Bruto (PIB) global ao longo da próxima década – um fenómeno que não se vê há 25 anos. A previsão consta do relatório da consultora Boston Consulting Group (BCG) “Protectionism, Pandemic, War, and the Future of Trade“.
O estudo antecipa que o comércio global irá crescer a uma taxa de apenas 2,3% ao ano até 2031, abaixo dos 2,5% projetados para o crescimento da economia global, uma vez que a pandemia e a guerra na Ucrânia alteraram os paradigmas do comércio.
“O novo comércio global está a dar prioridade à resiliência da cadeia de abastecimento e à diversificação global. As empresas devem privilegiar medidas de aumento de resiliência, tais como a criação de stock de segurança de bens e componentes essenciais e de qualificação prévia de fornecedores alternativos”, diz Michael McAdoo, sócio e diretor de Comércio Global e Investimento da BCG.
Tudo porque, segundo o co-autor da análise, nos encontramos “num cenário mais incerto que exige um equilíbrio entre os objetivos de eficiência e custos mais baixos e a uma maior consciência dos riscos globais”. Cenário esse que deve à guerra na Ucrânia, à diminuição da dependência das nações ocidentais no comércio com a China e a ascensão de outros blocos económicos, como os do Sudeste Asiático.
“Após quase 30 anos de um contexto comercial relativamente seguro, vemos agora uma nova dinâmica entre o Oriente e o Ocidente, com um lado a ser liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia e a contraparte pela China e pela Rússia, juntamente com o potencial surgimento de um terceiro grupo de nações neutrais”, explica Nikolaus Lang, managing director, sócio sénior e líder global da BCG Global Advantage Practice.
O especialista da BCG e co-autor do estudo lembra ainda que o “comércio global tem sido significativamente afetado nos últimos três anos, inicialmente pela pandemia e atualmente pelo conflito na Ucrânia e pelas crescentes tensões geopolíticas”.
Para quem vão ser uma mais-valia estas transformações nas rotas comerciais? Essencialmente, o Sudeste Asiático – acredita-se que as novas transações atinjam um bilião de dólares até 2031 – por causa das novas relações comerciais com a China, Japão, Estados Unidos e União Europeia. Por exemplo, o comércio entre a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e a China deverá crescer em 438 mil milhões de dólares.
“À medida que as empresas, as indústrias e os países se ajustam às mudanças na dinâmica geopolítica e económica, a sua consequente reestruturação irá gerar oportunidades para alguns e desafios para outros”, garante Marc Gilbert, managing director e sócio sénior da BCG e um dos autores do relatório.
“As mudanças previstas irão continuar a diluir a globalização económica e a abertura comercial que caracterizaram as primeiras três décadas do período pós-Guerra Fria, o que irá resultar num mapa comercial redesenhado, que será consideravelmente diferente do que era em 2021”, estima Marc Gilbert.