A Tesla surpreendeu ao comprar bitcoins no equivalente a 1,5 mil milhões de dólares. É conhecido o caráter controverso e até provocatório de Elon Musk, bem como o seu interesse pelas criptomoedas, mas isso não fazia adivinhar um investimento desta magnitude. A bitcoin valorizou para máximos históricos e se a quinta maior empresa do S&P 500 toma esta decisão, o assunto torna-se de discussão obrigatória.

Desde logo levantam-se questões contabilísticas. O investimento em bitcoin será registado ao custo de aquisição e a evolução da cotação não irá alterar as contas, mas naturalmente que as ações refletirão as maiores flutuações da criptomeda. Se quando uma empresa tem aplicações em moeda estrangeira tem de ajustar o seu valor, porque não os investimentos em bitcoins? Os reguladores terão também de estar atentos à comunicação da Tesla (e de outras empresas que façam o mesmo tipo de investimentos) quanto ao timing de aquisição e alienação de bitcoins.

A Tesla já obtém parte importante dos seus resultados através da venda de direitos de emissão de carbono, pelo que com este investimento é cada vez mais difícil de interpretar o seu negócio.

A Tesla poderá vir a aceitar bitcoins como pagamento. Não será algo tão disruptivo como fixar o preço dos automóveis em bitcoin, mas facilitará a função de meio de troca, essencial a qualquer moeda. Na quarta-feira, Christine Lagarde dizia que o “euro digital” estará pronto em quatro anos. Será muito tempo? Existe um mercado para “moeda” no qual o dólar e o euro se destacam pela sua supremacia.

O maior impacto da decisão de Elon Musk terá sido ao nível de notoriedade da bitcoin e pode obrigar os bancos centrais a acelerar a sua resposta à crescente popularidade das chamadas moedas digitais.