Irá Portugal enfrentar uma crise de moratórias em 2021? Com cerca 841.856 contratos abrangidos pelos pedidos de adesão às moratórias de crédito, dos quais 88% foram aprovados, abril do próximo ano ditará se Portugal tem pela frente uma crise de crédito malparado.

Num país onde as PME representam 99,9% do tecido empresarial, o risco de falência torna-se mais elevado, expondo significativamente a economia portuguesa em situação de crise. Com uma queda de 16,5% no segundo trimestre, e uma previsão de contração perto dos dois dígitos para 2020, Portugal vê-se agora a enfrentar outra grande crise.

Para conseguir ultrapassar a última grande crise, a economia portuguesa apostou forte no setor do turismo. Entre 2008 e 2018, segundo o Banco de Portugal, foram criadas 25.600 empresas ligadas a este setor, o que representa um crescimento de 39,4%, isto num setor em que o saldo da balança cresceu fortemente entre 2010 e 2019, ultrapassando a fasquia dos 13 mil milhões de euros.

Se o distanciamento social já é um fator bastante negativo para o turismo, o facto de Portugal ter estado durante várias semanas na zona vermelha de corredores aéreos de países responsáveis por percentagens consideráveis do nosso turismo, como o Reino Unido – que foi um dos que mais contribui para a nossa balança de viagens e turismo em 2019, com mais de três mil milhões de euros – só veio agravara  situação. Países que têm como pilar da sua economia o setor do turismo são dos que mais estão a sofrer na Europa, caso da vizinha Espanha que registou uma contração de 18,5% no segundo trimestre deste ano.

Com o vírus instalado em Portugal, o Estado agiu prontamente, concedendo moratórias públicas e privadas. Nas públicas inserem-se contratos de crédito para aquisição de habitação própria e contratos de crédito a empresas, empresários em nome individual e outros; sendo abrangidos os restantes tipos de créditos pelas moratórias privadas.

Segundo o BdP, houve até 30 de junho do presente ano 841.856 contratos abrangidos pelos pedidos de adesão às moratórias de crédito, em que 88% foram contratos abrangidos pelas moratórias. Do total de pedidos aprovados, 70% é referente a créditos de particulares, entre os quais o crédito à habitação e ao consumo, sendo os restantes 222.450 contratos relativos a contratos de crédito a empresas, empresários em nome individual e restantes, o que revela a frágil situação em que se encontram as famílias portuguesas e o ramo empresarial do país.

De acordo com o estudo “MDS Research: Situação Económica em Portugal”, 47% das empresas viram-se obrigadas a reduzir a sua atividade e 17% encerraram ou interromperam na sua totalidade. Com as previsões de uma queda de 9,8% do PIB português este ano, por parte do BCE, 2021 vai certamente ser um ano desafiante para as empresas e famílias portuguesas. Se as previsões forem atingidas, as empresas terão de se reinventar e, muito possivelmente, terão de despedir, diminuindo desta forma o rendimento disponível dos particulares.

Embora o prazo das moratórias tenha sido alargado até 31 de março de 2021, os empréstimos terão de ser pagos a partir desse período, pelo que fica no ar a pergunta: irão os portugueses conseguir pagar os créditos contraídos e Portugal evitar uma crise de crédito malparado?