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Crise dos semicondutores vai continuar a influenciar gestão de frotas

A falta de carros com a crise dos chips, a subidas taxas de juro, novos contratos em que o cliente tenta baixar preço e extensão de prazos até aos 72 meses são alguns dos dilemas na gestão de frotas.
19 Fevereiro 2022, 14h00

A economia está a retomar mas nem todos os países ocidentais vão crescer com a mesma velocidade. A subida das taxas de juro vai afetar famílias e empresas mas também os Estados. A questão dos juros é um dos problemas que a indústria de gestão de frotas vai enfrentar mas, para cúmulo da situação, o problema imediato é satisfazer a necessidade de carros que a recuperação vai obrigar.

“Há uma enorme limitação na capacidade das fábricas para fornecer viaturas, refere Miguel Moreira Branco, diretor de vendas e de fleet da SIVA. E isto está relacionado com a escassez no fornecimento de semicondutores. “A escassez faz aumentar os tempos de entrega e consequente imprevisibilidade nas datas, implicando extensões aos atuais contratos, refere Nuno Silva, Fleet Sales Manager da Volvo Cars Portugal. E este gestor dá o exemplo da sua marca ao afirmar que embora sendo um problema transversal a toda a indústria automóvel, no caso da Volvo os tempos de entrega têm vindo a estabilizar mas podem chegar aos 180 dias, embora nos modelos 100% elétricos tivessem reduzido os tempos de entrega para quatro meses. E João Soromenho, diretor comercial da Arval Portugal alerta que “o futuro da produção destes materiais vai depender do esforço que se está a arquitetar para resolver a situação, como o Chips Acts, proposto pela Comissão Europeia”. E adianta que “as verdadeiras alterações neste âmbito, decorrentes do investimento no aumento da produção de semicondutores, terão efeitos sobretudo no médio e longo prazo”.

O final do ano é uma data que demonstra consensos entre os diversos analistas. Nuno Jacinto, diretor comercial da ALD Automotive acredita que a estabilização dos semicondutores e a entrega cadenciada de automóveis possa acontecer no final deste ano. E a solução com os clientes acaba por passar por prolongamentos de novos contratos e através de novos produtos que se adequem às necessidades dos clientes.

Mas para além de subida dos juros e implicações nos preços, a falta de automóveis para entrega tem originado grandes pipelines de encomendas para daqui a 1 ano, antecipando encomendas que apenas deveriam fazer-se daqui a alguns meses. O resultado está registo acrescido da importância dos usados. Os vários gestores contactados são unânimes em afirmar que o mercado de usados tem ganho grande poder devido à escassez de veículos novos. O responsável de comunicação da BMW Portugal salienta que “as gestoras de frotas têm vindo a dar ao mercado de usados uma relevância crescente, com a criação de plataformas e ferramentas de venda direta ao cliente final”. Adianta que o momento permite uma maior rentabilidade neste setor, tanto mais que a dificuldade no fornecimento de viaturas novas por parte da maioria das marcas, implica uma redução significativa dos volumes para venda. E João Soromenho, da Arval, corrobora esta ideia ao frisar que “um dos grandes riscos das gestoras de frota é determinar o valor de venda de cada viatura no final do contrato”, sendo que este tipo de oscilações (nos usados) “impactam diretamente nos resultados globais das empresas” deste mercado.

Elétricos e eletrificados
O crescimento dos veículos eletrificados tem sido exponencial. No caso da Arval Portugal o número de vendas de veículos elétricos no ano passado ultrapassou, pela primeira vez, o número de carros a diesel. Realça que há ainda um longo caminho a percorrer ao nível das infraestruturas. Entre os objetivos desta empresa está o número de 700 mil veículos eletrificados sob gestão global até 2025, diminuindo em 35% as emissões de CO2 da frota gerida. No caso da Volvo Cars os eletrificados representam 70% do mix de vendas total, sendo que nesta marca a inversão da tendência aconteceu já em 2019. O tema dos apoios fiscais é crítico mas Miguel Moreira Branco, da SIVA, salienta que o setor automóvel é um dos grandes contribuintes para o país em termos de impostos e, antecipa que quando o mercado das viaturas elétricas começar a ter representatividade nas vendas “duvido que os benefícios fiscais se mantenham, o que garantidamente irá atrasar a eletrificação do mercado”. Na Ford o objetivo é ter toda a gama de veículos de passageiros 100% eletrificada nos próximos oito anos. E nos próximos quatro anos toda a gama de veículos comerciais da Ford poderá funcionar com zero de emissões poluentes, salienta António chicote.

Um estudo da locadora Arval de meados do ano passado salientava a necessidade de a futura mobilidade automóvel ter de ser mais eletrificada. As empresas estão conscientes com o impacto da pegada ecológica no médio e longo prazo e com a sua responsabilidade perante as alterações climáticas, avançava na altura Gonçalo Cruz, responsável pelo estudo anual intitulado “Barómetro Automóvel e de Mobilidade 2021”. O trabalho foi feito no âmbito da Arval Mobility Observatory e contou com a empresa de pesquisa independente Kantar. Este survey envolveu mais de cinco mil empresas europeias, 250 das quais portuguesas e realizou-se no pico dos contágios, concretamente no último trimestre de 2020. Há ainda a questão dos custos pois “sustentabilidade não é só clima mas também economia”, afirmava a mesma fonte. Adiantou que a fiscalidade verde é uma vantagem, mas também a prevenção do acesso dos carros às zonas de emissões reduzidas e o exemplo vem de Lisboa que está a limitar a circulação de veículos com determinada idade, sendo que a pandemia limitou o projeto de condicionamento de circulação mas é algo que irá avançar rapidamente.

Os híbridos e os plug-in híbridos vieram para ficar, mas ainda há constrangimentos e o exemplo mais fácil está em quem pretende circular por todo o país e tem o receio de infraestruturas de carregamento insuficientes. Entretanto, o Plano de Resiliência (PRR) tem previsto o investimento em infraestruturas elétricas. Por outro lado é fácil antecipar que a procura de carros 100% elétrico ou os eletrificados irá estimular o aumento dos carregadores. Outra restrição para a mobilidade elétrica foi a alteração da fiscalidade com o OE 2021. É verdade que prejudicou muito a procura dos híbridos puros e isso afetou todos os modelos e marcas. A verdade é que todos os modelos são eficientes para determinadas soluções, afirmou a mesma fonte na altura. Revelava o estudo que no universo das empresas que esperam crescer de forma significativa a tendência é o uso do renting nos próximos três anos e isto porque 72% dos gestores responderam que certamente ou provavelmente irão usar esta modalidade de futuro, uma tendência manifestada também por 61% das empresas de igual dimensão no espaço europeu. Indica ainda este estudo europeu que quatro em cada 10 empresas até 100 trabalhadores no quadro, usam ferramentas digitais nos processos de compra ou aluguer de novas viaturas. Revelou ainda o Barómetro Automóvel da Mobilidade que o parque automóvel de PME até 10 colaboradores tem uma frota média de dois automóveis, sendo que a utilização de fundos próprios para a compra direta tem sido o modelo mais utilizado pelos gestores em cerca de metade das empresas, seguida pelo uso do leasing financeiro em 28% dos casos.

As outras opções para as PME tem sido o crédito automóvel e o renting. Numa perspetiva a três anos o survey revelava que um terço dos responsáveis por pequenas empresas até 10 colaboradores irão usar o renting.

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