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“Crise nas cadeias de logística tem tido particular impacto em alguns sectores estratégicos”

As vendas de bens e serviços ao exterior têm funcionado como um motor da economia portuguesa, num ciclo positivo que só foi interrompido pela pandemia. Ao Jornal Económico, o secretário de Estado Adjunto e da Economia, João Neves, diz que as empresas são resilientes e que as exportações já estão a recuperar, mesmo com o impacto da crise energética e com os constrangimentos nas cadeias de abastecimento, que afetam sectores estratégicos.
13 Novembro 2021, 16h00

As vendas de bens e serviços ao exterior têm funcionado como um motor da economia portuguesa, num ciclo positivo que só foi interrompido pela pandemia. Ao Jornal Económico, o secretário de Estado Adjunto e da Economia, João Neves, diz que as empresas são resilientes e que as exportações já estão a recuperar, mesmo com o impacto da crise energética e com os constrangimentos nas cadeias de abastecimento, que afetam sectores estratégicos.

Que avaliação faz da evolução das exportações portuguesas nos últimos anos e que impacto teve a pandemia?
Os números são claros quanto ao bom desempenho das exportações portuguesas nos últimos anos. Entre 2015 e 2019, as exportações nacionais aumentaram 28%, com crescimentos de 20% no comércio internacional de bens e de 46% nos serviços. Portugal conseguiu ganhar quota de mercado, manteve o saldo da balança comercial positivo ao longo do período, e levou a que, em 2019, as exportações representassem perto de 44% do PIB [produto interno bruto] nacional.
Através de um modelo de crescimento direcionado para a fomento da inovação, das competências e para a valorização do nosso potencial exportador, as empresas portuguesas conseguiram afirmar-se nos mercados globais e diferenciar-se pela qualidade e especialização dos seus produtos, numa dinâmica que permitiu reduzir da taxa de desemprego para 6,5%, aumentar o salário mínimo nacional e apoiar a trajetória de convergência da economia portuguesa com os restantes Estados-membros da União Europeia.
No entanto, esta trajetória de progresso foi inesperadamente interrompida pelo aparecimento da pandemia da Covid-19, com uma quebra de perto de 20% no volume de exportações em 2020, que afetou com especial incidência as atividades económicas mais sujeitas à proximidade.
Fruto da resiliência das nossas empresas e da eficácia das medidas lançadas pelo Governo para apoiar as empresas e ao emprego, as exportações portuguesas estão hoje a recuperar a um ritmo significativo. De acordo com as estatísticas mais recentes do INE, referentes ao mês de agosto, as exportações de bens estão 14% acima dos valores registados no período homólogo de 2019.

Que sectores se têm destacado na capacidade de projeção?
Podemos elencar diversos sectores que têm contribuído de forma determinante para a projeção internacional da economia portuguesa. Dentro destes, será inevitável referir o contributo do sector do turismo, cujas exportações cresceram 58% entre 2015 e 2019, bem como da indústria automóvel que tem funcionado como um verdadeiro motor para a economia nacional, em que as exportações de veículos automóveis e respetivas componentes superavam os sete mil milhões de euros em 2019.

Em que medida a atual crise energética e os constrangimentos nas cadeias de abastecimento podem afetar a capacidade exportadora portuguesa?
Em resultado de uma recuperação de características invulgares, temos identificado, nos últimos meses, diversas perturbações e situações de congestionamento nas cadeias logísticas internacionais, relacionadas com as consequências da crise pandémica, com alterações no normal funcionamento de portos, a redução do número de trabalhadores e a diminuição de navios em circulação. Em consequência, foram registados atrasos nas encomendas e alterações forçadas nas rotas, com fortes repercussões nos custos, com especial incidência nas rotas provenientes do Oriente. A este contexto acresce um conjunto de condicionantes que ampliam as consequências desta crise, como a falta de motoristas no Reino Unido, a chamada crise dos “contentores vazios”, e, em especial, a atual situação no mercado energético que tem pressionado os preços dos combustíveis e da eletricidade.
Esta situação, conjuntural e global, afetou negativamente sectores importantes como o automóvel e a informática, com o deficiente abastecimento de componentes e matérias-primas, e por sua vez, com o aumento dos preços. De acordo com o Eurostat, a taxa de inflação na Zona Euro atingiu 3,4% no passado mês de setembro.
Embora Portugal seja um dos países em que a subida de preços está mais contida, a crise nas cadeias de logística tem tido particular impacto em alguns sectores estratégicos da indústria nacional, nomeadamente pela falta de semicondutores.

Que perspetivas podemos ter para o pós-pandemia? As exportações continuarão a ser um motor da economia?
Naturalmente que, atendendo à dimensão do mercado nacional, as exportações continuarão a ser um dos pilares do desenvolvimento da economia portuguesa. Atuando de forma alinhada com os grandes objetivos estratégicos europeus, o processo de recuperação pós-pandemia estará focado no aumento da competitividade e da resiliência económica, bem como na capacitação do tecido empresarial para que consiga crescer de forma mais inteligente, sustentável e digital.
Para tal, através do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] e do novo quadro comunitário, serão desenvolvidas ações para reforçar o potencial produtivo português, com reformas e investimentos focados no desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços inovadores, na capacitação do sistema científico e na difusão do conhecimento pelo tecido empresarial. Um processo de transformação estrutural que não apenas passará pelo aumento da preponderância da indústria transformadora na economia, como pela progressão nas cadeias de valor, com o fabrico de produtos com maior valor acrescentado e maior incorporação tecnológica, o que aumentará o perfil de especialização das empresas e o nosso potencial exportador.

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