Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) referem uma taxa de desemprego, no primeiro trimestre de 2021, de 7,1%, mais baixa em relação ao último trimestre de 2020 (7,3%), mas mais alta que em 2019 (6,5%).

As projeções macroeconómicas do Banco de Portugal, no seu boletim económico do mês de março, perspetivam um agravamento da taxa de desemprego em 2021 (7,7%), mas uma recuperação em 2022 e 2023, para 7,6% e 7,2%, respetivamente. Embora a taxa de desemprego projetada para 2023 seja superior à de 2019, ela está significativamente abaixo da registada na crise económica de 2011-2013, onde atingiu um máximo de 16,2%, constituindo um fator de relativização do impacto da pandemia Covid-19 sobre o emprego.

As razões para a evolução resiliente do mercado de trabalho, residem em grande medida nas políticas públicas de mitigação do impacto da pandemia, nomeadamente no regime de lay-off simplificado que garantiu cerca de 2/3 do rendimento dos trabalhadores afetados, nos subsídios de desemprego concedidos e em outros apoios dados às famílias devido ao encerramento das escolas e ao isolamento profilático, no regime de moratórias de crédito adotado e no facto de cerca de 20% da população se ter mantido a trabalhar remotamente, fazendo larga utilização das tecnologias de informação e comunicação, não vendo por isso os seus rendimentos baixarem, nem o seu posto de trabalho ser posto em causa.

Em todo o caso, há a assinalar a assimetria dos impactos no mercado de trabalho, os quais foram mais gravosos para os trabalhadores precários e de baixas qualificações, acentuando-se deste modo as desigualdades sociais.

Feitas as contas pelo INE, o rendimento das famílias não diminuiu, apesar de uma quebra do PIB em 2020 de cerca de 7%. Antes pelo contrário, o rendimento disponível das famílias aumentou 1% em 2020, quando comparado com 2019, principalmente devido ao aumento das prestações sociais e ao aumento dos rendimentos do trabalho, os quais representam mais de 50% do valor do rendimento disponível.

Esta circunstância, aliada à queda do consumo privado de cerca de 5% registada em 2020, contribuiu para o aumento da taxa de poupança, que atingiu um valor de 12,8% e que compara com cerca de 7,1% em 2019, fazendo com que seja necessário recuar a 2012 para observarmos um valor tão elevado neste indicador. A evolução da taxa de poupança traduziu o facto de as famílias, estando em confinamento, terem gastado menos e adiado consumos, alguns dos quais recuperáveis (por exemplo, o dos bens) e outros não tanto (os serviços).

Naturalmente, o aumento da taxa de poupança teve tradução num aumento significativo dos depósitos bancários, os quais atingiram um valor recorde de 162,8 mil milhões, em janeiro de 2021, o que representou um acréscimo de cerca de 8% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Ou seja, aparentemente uma boa parte dos créditos não pagos aos bancos, devido à moratória desses créditos, terá ficado depositado nos próprios bancos.

Estas parecem ser boas notícias que vêm do lado das famílias e que deverão beneficiar a recuperação da economia, no futuro próximo. Tão depressa, passemos o contexto pandémico, pela vacinação em massa e nos adaptemos a uma nova realidade pós-Covid, tão mais célere será a recuperação da economia e o restabelecimento da sua trajetória de crescimento.

Neste sentido, há condições para que o consumo privado, a par das exportações, constitua um motor relevante do crescimento económico português, uma vez que foram as componentes que mais se retraíram com os efeitos económicos da crise pandémica e que apresentam maior margem para crescer.

Mas a recuperação económica não será igual em todos os sectores. O setor industrial, produtor de bens, tem sido menos penalizado pela crise, sendo por isso mais fácil a sua retoma. As dificuldades residem essencialmente no setor dos serviços, nomeadamente nas atividades ligadas ao turismo, alojamento, restauração, cultura e lazer, que terão uma recuperação mais lenta.

Os sinais são animadores, contudo, a avaliar pela reação imediata do turismo proveniente do Reino Unido, que ao serem levantadas as restrições de regresso ao país, em particular a não necessidade de fazer quarentena, reagiu de imediato, observando-se uma corrida dos ingleses à marcação de reservas de alojamento no nosso país.

Em suma, espera-se que o controlo da pandemia e o retorno à “normalidade” confira maior confiança aos agentes económicos, que poderão concretizar consumos adiados e estimular a retoma da atividade económica, ao mesmo tempo que a taxa de poupança deverá tender para níveis mais próximos da situação observada antes da pandemia.