A primeira reunião entre Merkel e Erdogan aponta para um desejo de reaproximação, mas evidencia o abismo que separa os dois países em direitos humanos.
Recep Tayyip Erdogan aterrou na Alemanha dispostos a “virar a página” nas relações com um país com o qual compartilha interesses económicos e políticos cruciais, mas em confronto aberto nos mais variados temas.
As relações entre Ancara e Berlim estão, aliás, num dos pontos mais baixos da sua história, depois de a Turquia ter percebido que a União Europeia está muito pouco interessada em recebê-la no seio do agregado e de Angela Merkel ter falhado a hora em que telefonou a Erdogan para com ele se solidarizar depois da tentativa de golpe de Estado mo verão de 2016.
A primeira reunião de Erdogan com a chanceler confirmou a vontade de aproximação mútua, mas também mostrou as diferenças profundas que separam Berlim de Ancara. Fortes medidas de segurança têm blindado a capital alemã, na qual protestos massivos contra o líder turco estavam programados e já aconteceram quando o avião presidencial aterrou.
Serão três dias de visita oficial, a primeiro em quatro anos, durante os quais a guerra na Síria, as relações comerciais, a política dos refugiados e os direitos humanos são parte da movimentada agenda.
O objetivo da visita é encenar o degelo após anos de desentendimentos, mas os fantasmas são muitos. Na Turquia há ainda cinco cidadãos alemães detidos – e todos se recordam de Deniz Yücel, um jornalista do Die Welt que passou mais de um ano preso na Turquia, acusado de espionagem.
Os esforços da Alemanha para libertar os seus cidadãos, considerados presos políticos, não têm sido suficientes. EM Berlim, não fugindo a uma pergunta sobre a matéria, Erdogan respondeu que “a independência judicial é importante e a Alemanha deve respeitá-la”.
Por seu turno, Erdogan pediu à Alemanha a extradição de dezenas de pessoas que vivem no país, incluindo o jornalista crítico do governo turco Can Dundar, acusado de espionagem.
Mas Merkel esforçou-se para destacar também o que une e não apenas o que divide os dois países. A participação na NATO, a luta contra o terrorismo, a preocupação com a situação na Síria, os refugiados ou a situação dos três milhões de turcos que vivem na Alemanha, fazem parte dos interesses comuns.
A pressão da oposição, da imprensa e dos grupos de direitos humanos à chanceler, Merkel, para manter uma linha dura durante a visita, é imensa adiantam os jornais alemães – que enfrenta um momento político interno muito difícil, o que torna a visita ainda mais melindrosa.
As expectativas face às conclusões da visita e às suas consequências são, por isso, muitas.
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