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CTT: as incertezas que João Bento herdou

O novo CEO dos CTT terá de resolver as “pontas soltas” deixadas pela administração anteriormente liderada por Francisco Lacerda. Entre os desafios de João Bento, a renegociação do contrato de concessão, a execução do Plano de Transformação Operacional e consolidação do Banco CTT ocupam lugar de destaque.
  • João Bento, presidente executivo dos CTT
15 Maio 2019, 07h45

Dentro de uma semana, os CTT – Correios de Portugal terão em João Bento a cara da nova liderança que terá de guiar uma empresa cotada, resolvendo as “pontas soltas” deixadas pela gestão de Francisco Lacerda, que renunciou ao cargo de presidente executivo na passada sexta-feira.

João Bento, o homem-forte de Manuel Champalimaud, o maior acionista individual dos Correios com 12,58% do capital social, terá pela frente a tarefa de presidir um Grupo empresarial em pleno Plano de Transformação Operacional – que terá de ficar concluído até 2020, dentro de sete meses.

Apresentado em dezembro de 2017, o Plano de Transformação Operacional, quatro anos após a estreia em bolsa dos CTT, já as ações e os lucros assinalavam uma tendência decrescente. Os títulos acumulavam uma desvalorização superior a 30%, enquanto o resultado líquido de 2016 fixou-se nos 62 milhões, 15% abaixo do registado no ano anterior.

A equipa de Francisco Lacerda delineou um plano que previa tornar os CTT mais eficientes do ponto de vista operacional e, consequentemente, financeiro. Em quatro eixos estratégicos, o Plano de Transformação Operacional foi pensado de forma a ter “uma contribuição positiva de até 45 milhões para o EBITDA recorrente a partir de 2020 e ajudar a contrariar a contínua queda estrutural do negócio de Correio”.

A trajetória negativa do preço das ações dos CTT, assim como a contração do resultado líquido, foram-se agravando ao longo do tempo, em contra-ciclo com a distribuição de dividendos suportadas pelas reservas e os resultados transitados da empresa. Enquanto os títulos dos Correios atingiram mínimos históricos de 2,24 euros esta terça-feira, e os lucros do primeiro trimestre caíram 38,1%, em termos homólogos, para 3,7 milhões, a distribuição de dividendos relativa ao exercício de 2018 elevou a remuneração acionista acumulada, nos últimos quatro exercícios, para valores acima dos 284 milhões de euros.

No plano político, a renegociação do contrato de concessão estará seguramente nos horizontes da estratégia de João Bento. Com prazo até 31 de dezembro de 2020, os CTT terão de posicionar-se de forma equilibrada entre o jogo de forças composto pelo poder político, cuja configuração está dependente das eleições legislativas de outubro, e pelo regulador, a Anacom.

A esquerda do espectro político, formada pelo PCP, o BE e Os Verdes, tentou renacionalizar os CTT em nome da salvaguarda do “interesse público nacional”. Mas a direita, com o apoio do PS, impediu que os Correios voltassem para a esfera pública, ao chumbarem três projetos de lei apresentados por aqueles três partidos de esquerda. Em todo o caso, a sombra da renacionalização só não se dissipará se a esquerda sair reforçada em outubro. Mas uma coisa já se sabe: Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, veio dizer que a renegociação do contrato de concessão dos CTT tem que garantir a reposição de um posto por cada concelho.

A renegociação do contrato de concessão terá sempre de envolver a Anacom, que avalia a qualidade dos serviços de correio dos CTT, que piorou. Por exemplo, em 2018, segundo o regulador, dois milhões de cartas de Correio Azul chegaram aos destinatários com, pelo menos, mais de um dia útil de atraso, em incumprimento com o contrato de concessão.

Em virtude desta falta – e de outras -, os CTT vêem-se impossibilitados de atualizar os preços praticados de acordo com as expetativas que tinham. A Anacom disse explicitamente que os CTT não cumpriram com dois indicadores de qualidade do serviço postal universal, sofrendo em consequência uma limitação de 0,085 pontos percentuais na atualização de preços cobrados pela prestação dos seus serviços, o que implica que em vez do aumento máximo de 1,15%, a empresa só poderá aplicar uma variação dos preços dos serviços de correspondência, encomendas e correio editorial não superior a uma média ponderada de 1,065%. A Anacom, presidida por João Cadete de Matos, tomou esta decisão a 9 de maio e agora os CTT terão 15 dias úteis para expressarem ao regulador o seu entendimento sobre este assunto.

Outro assunto em cima da mesa prende-se com gestão da diversificação dos CTT, encabeçada pelo Banco CTT, detido a 100% pelo Grupo e, até agora, liderado por Luís Pereira Coutinho.

Em abril deste ano, o Banco de Portugal deu a conhecer que o banco dos CTT lideram o topo das reclamações sobre contas à ordem. Ainda assim, as receitas do Banco foram as que mais cresceram dentro das unidades de negócio do Grupo.

No primeiro trimestre deste ano, as receitas do banco subiram quase 19% para nove milhões de euros, o que traduz o “crescimento da margem financeira (66,3%)  e comissões recebidas 78,7%, impactadas negativamente pela redução de -5,8% de pagamentos e transferências da Payshop e outros”.

A nível operacional, os CTT destacaram o “crescimento significativo” do número de contas abertas junto do Banco CTT e do “robusto crescimento” dos depósitos no final de março de 2019. No primeiro trimestre do ano passado, o Banco CTT tinha 255 mil contas abertas, número que subiu cerca de 48% para 379 mil em março deste ano.

Banco CTT aumentou capital em 110 milhões

 

 

 

 

 

 

 

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