O Banco CTT, detido pelos CTT – Correios de Portugal, obteve luz verde do Banco Central Europeu para adquirir a 321 Crédito, uma empresa especializada em financiamento automóvel que em 2018 tinha 9,2% de quota de mercado. Mas o supervisor bancário europeu, sob proposta do Banco de Portugal, só aprovou a operação porque os CTT garantiram que se preparam para fazer um aumento de capital de 100 milhões de euros no Banco CTT, soube o Jornal Económico junto de fonte próxima ao processo.
Segundo as nossas fontes, o aumento de capital do Banco CTT será de 100 milhões e corresponde ao valor pago pela compra da 321 Crédito pela instituição bancária.
O Banco CTT terminou o ano passado com 89,5 milhões de capital próprio, sendo que, destes, 64,1 milhões correspondem a fundos próprios, que contam para efeitos de rácio de solvabilidade. Como tal precisa de um aumento de capital para adquirir a empresa à Firmus Investimentos, uma entidade detida pela Cabot Square Capital LLP e pela Eurofun.
O comunicado divulgado esta segunda-feira pela empresa liderada por Francisco Lacerda, referia que “se encontram verificadas as condições suspensivas no contrato de compra e venda da 321 Crédito pelo Banco CTT, incluindo a não oposição à transação por parte das entidades competentes de supervisão bancária e da Autoridade da Concorrência”. “A conclusão da operação está prevista para o início do mês de maio”, adianta o mesmo comunicado.
A aquisição da 321 Crédito pelo Banco CTT já tinha sido divulgada pelos Correios em julho de 2018. Na altura, os CTT justificavam a operação por “permitir a diversificação do portfólio de produtos do Banco CTT, com um negócio rentável de crédito ao consumo, e otimizar o balanço do banco, melhorando o seu rácio de transformação [de depósitos em crédito] de 20% para mais de 60%”. “Com esta transação e crescimento orgânico, o Banco CTT espera contribuir positivamente para o EBITDA dos CTT já em 2019 e atingir um resultado líquido positivo em 2020, com requisitos estimados de capital adicional até essa dada de cerca de 20 milhões, para além do aumento capital necessário para financiar o preço final da aquisição”, lê-se no comunicado de 2018.
Em declarações ao ECO, em julho de 2018, Francisco Lacerda assumiu que “obviamente que o Banco CTT participa nessa transação com o apoio de capital reforçado do seu acionista único que são os CTT”.
Em paralelo com a aquisição do capital social da 321 Crédito, “o Banco CTT acordou ainda a tomada de posição nos créditos detidos pela AL Securitisation Limited, entidade igualmente controlada pelos acionistas, sobre a 321 Crédito, existentes aquando da conclusão da transação (cujo valor do capital [correspondia em julho de 2018] a 30,6 milhões de euros), aplicando para o efeito a liquidez do Banco CTT”, disseram os CTT em 2018.
No relatório e contas do Banco CTT, relativo ao exercício de 2018, constata-se que o banco reduziu os prejuízos em 18%, em termos homólogos, para cerca 17,5 milhões.
Por sua vez, os CTT terminaram o ano passado com uma contração dos lucros em 28%, face a 2017, fixando-se em 19,6 milhões. Além disso, “o capital próprio reduziu em 37,2 milhões (-20,2%) [face a 2017] em resultado da distribuição de dividendos do exercício de 2017 (51 milhões), ocorrida em maio de 2019, e da redução do resulatado líquido (-7,6 milhões de euros), lê-se no relatório integrado de 2018.
Acionistas recusam aprovar voto de confiança
O Jornal Económico sabe que Manuel Champalimaud, o maior acionista dos CTT, com 12,58% do capital, integrou um conjunto de acionistas que recusaram dar o voto de confiança à administração dos CTT, liderada por Francisco Lacerda, na última AG.
Na totalidade, cerca de 44% dos acionistas abstiveram-se de votar o ponto 3 da ordem do dia da assembleia geral, que consistia em “proceder à apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade”. Apesar disso, o voto de confiança à administração foi aprovado, tal como todos os outros pontos em agenda, incluindo a distribuição de dividendos de dez cêntimos por ação, o que correspondeu a um pagamento de 15 milhões de euros aos acionistas.
“A abstenção [dos 44% do capital presente] foi a única parte negativa, sobretudo porque inclui Manuel Champalimaud”, o maior acionista, disseram as nossas fontes.
Questionada pelo Jornal Económica, fonte oficial dos CTT não fez quaisquer comentários.
Desde 2014, ano em que se finalizou a privatização, a administração da empresa remunerou os acionistas em 284,25 milhões de euros. Em 2016 e 2017, os CTT pagaram mais dividendos do que os lucros obtidos nos respetivos exercícios. O caso mais emblemático ocorreu em 2017, quando os CTT apresentaram lucros de 27,3 milhões, mas distribuíram dividendos de 57 milhões, o que correspondeu a um payout ratio de 208,8%.
(artigo originalmente no dia 26 de abril de 2019, na edição impressa do Jornal Económico nº1986)
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