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CTT: João Bento estreia-se a apresentar resultados e poderá dar novas respostas para problemas antigos

O CEO dos CTT, João Bento, herdou os desafios que assolaram a gestão de Francisco Lacerda. Da contração dos lucros à desvalorização das ações, passando pelas críticas da Anacom sobre a perda de qualidade do serviço postal, João Bento poderá dar novas pistas sobre como inverter a situação.
24 Julho 2019, 07h43

O primeiro escrutínio público à gestão de João Bento acontece esta quinta-feira, com a apresentação dos resultados relativos ao primeiro semestre dos CTT – Correios de Portugal, e concluir-se-á na sexta-feira, com a teleconferência de analistas.

Presidente da comissão executiva dos CTT desde 22 de maio, João Bento teve de largar a vice-presidência do Grupo Manuel Champalimaud, que detém 13,07% do capital social dos Correios, sendo o maior acionista, para se tornar no rosto da nova liderança depois da demissão de Francisco Lacerda.

Dois meses e três dias depois de herdar desafios que se estendem por várias frentes, João Bento terá esta quinta-feira a primeira oportunidade para publicamente demonstrar como tem guiado os Correios pelo mar de problemas que os têm afetado. Afinal, foi ele o escolhido para a gestão do Grupo que, quando chefiada por Francisco Lacerda, acabou por perder a confiança dos acionistas.

Lucros do Grupo CTT em queda no primeiro trimestre de 2019

Nos primeiros três meses do ano, os lucros dos CTT caíram 38,1%, em termos homólogos, para 3,7 milhões de euros. Em abril, quando os Correios apresentaram os resultados trimestrais, justificaram a quebra dos lucros não apenas com a contração do EBITDA, mas também com os custos de quatro milhões de euros incorridos com as indemnizações por mútuo acordo ao abrigo do Plano de Transformação Operacional (PTO).

Já antes, em fevereiro, quando os CTT apresentaram os resultados relativos a 2018, a então administração encabeçada por Francisco Lacerda explicava que a quebra dos lucros anuais tinha sido influenciada “pelas indemnizações pagas por rescisões de contratos de trabalho por mútuo acordo de 20,7 milhões de euros, sobretudo no âmbito do Plano de Transformação Operacional”.

Lançado em dezembro de 2017, o PTO visa a otimização da rede de lojas, convertendo lojas em postos de correio ou encerrando lojas com pouca procura, prevendo ainda a redução de cerca de 800 trabalhadores. Em março de 2019, os CTT empregavam 12.075 colaboradores.

Depósitos do Banco CTT subiram mas EBITDA continuou negativo

Com início de atividade no quarto trimestre de 2015, o Banco CTT foi a maior carta lançada por Francisco Lacerda na estratégia de diversificação dos ramos de negócio do Grupo CTT. Mas, desde a sua constituição, o banco teima em não conseguir um EBITDA positivo, que se fixou em -3,1 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, embora as receitas tenham registado, em igual período, uma subida homóloga de 18,9%, para 9 milhões.

Dirigido ao mass market e assumindo “uma lógica de baixo custo” e “uma oferta simples e competitiva”, tal como explicaram os Correios em 2015, o Banco CTT tinha 379 mil de contas em março de 2019, o que representou um aumento de 9,1% face aos três primeiros meses do ano anterior. E os depósitos subiram 4,3%, para 922 milhões de euros, em igual período.

O desempenho do banco é de destacar numa altura em que o negócio do “Correio” estava em contração. No primeiro trimestre de 2019, as receitas do “Correio” caíram 3,2%, em termos homólogos, para 123,3 milhões, e o EBITDA caiu 12,9%, para 20,1 milhões de euros.

Para expandir a sua oferta, o Banco CTT adquiriu a instituição financeira 321 Crédito, especializada na concessão de crédito para a compra de automóveis. O Banco de Portugal só aprovou a operação porque os CTT garantiram que se preparavam para fazer um aumento de capital no Banco CTT, o que veio a acontecer: no passado dia 26 de abril, os CTT anunciaram que se tinha “procedido a um procedeu-se a um aumento do capital social do Banco CTT em 110 milhões de euros”.

No entanto, os CTT não explicaram como tinham concretizado este aumento de capital.

Os segmentos “Expresso e Encomendas” e “Serviços Financeiros” registaram desempenhos díspares no primeiro trimestre de 2019 ao nível do EBITDA. O primeiro caiu a pique, -223,5% face aos primeiro trimestre de 2018, para -0,9 milhões de euros. O segundo subiu 108,3%, para 4,8 milhões, em igual período.

Ações a desvalorizar

Os CTT estrearam-se em bolsa no dia 5 de dezembro de 2013 a valer 5,58 euros. Em 23 meses, os títulos chegaram a valorizar 88%, para 10,49 euros, a 4 de novembro de 2015. Mas, no dia seguinte, caíram 9,44% e nunca mais atingiram a fasquia dos dez euros. Foi início da perda de confiança dos investidores que viria a afetar o Grupo CTT.

No dia em que João Bento assumiu a liderança dos CTT, os títulos até valorizaram 2,95%, para 2,3 euros. Mas João Bento não conseguiu ainda inverter a tendência negativa das ações do Correio, que já desvalorizaram 8,6% desde que tomou posse até esta terça-feira, 23 de julho, dia em que os títulos encerraram a sessão nos 2,046 euros.

De resto, foi já no reinado do homem forte de Manuel Champalimaud que os CTT tocaram em mínimos históricos, no dia 11 de julho, encerrando a sessão a valer 2 euros.

Qualidade do serviço postal criticada pela Anacom e Governo

A defesa de Francisco Lacerda perante as acusações da Anacom ditaram a perda de confiança de Manuel Champalimaud na homem que encabeçou os CTT durante o processo de entrada em bolsa da empresa. Em entrevista ao “Expresso”, Manuel Champalimaud explicou que não se mostrou “satisfeito” com a defesa de Francisco Lacerda quando, em março, o regulador acusou a gestão dos CTT de mentir. “Nesse momento a minha perseverança em manter o apoio a Francisco Lacerda ficou comprometida”, revelou Manuel Champalimaud.

O acionista maioritário disse, numa altura em que se fala da nacionalização dos CTT, que o Estado seria “bem-vindo” a entrar no capital dos CTT.

João Bento, na primeira intervenção pública desde que se tornou CEO dos CTT reconheceu que lhe era “indiferente a estrutura de capital que está na empresa” e que cabia “ao Parlamento tomar a decisão” sobre a possibilidade de o Estado voltar a ter uma participação qualificada na empresa.

O PTO prevê o encerramento de balcões dos Correios que não tenham muito tráfego, o que deteriora a qualidade do serviço postal universal, que os CTT têm a concessão até 2020. No decurso do PTO, elevando para 33 os concelhos que ficaram sem qualquer estação no ano passado, situação que preocupou não apenas a Anacom, como também o Governo.

Em abril, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, disse que o contrato de concessão poderia ser revisto, mas João Bento disse que as estações iriam ser reabertas.

Certo é que a qualidade do serviço postal baixou em 2018, ano em que dois milhões de cartas Correio Azul foram entregues fora do prazo estipulado pelo regulador, que impõe um prazo de entrega de um dia útil. Isto impediu novamente que os CTT cumprissem um dos principais indicadores de qualidade do serviço postal universal no ano passado. Segundo a Anacom, só 92,3% deste tipo de correio conseguiu ser entregue dentro do prazo, o que, mesmo assim, traduziu um desempenho melhor face a 2017.

Mas a situação não melhorou. Esta terça-feira o “Dinheiro Vivo” dava conta que entre 17 de junho e 17 de julho, deram entrada 936 queixas no Portal da Queixa, número que sobe para 3.632 no acumulado deste ano. Segundo o artigo, os CTT admitiram “constrangimentos” com a entrega de encomendas, e revelaram que as férias tiveram impacto “na dimensão e estabilidade das equipas”.

https://jornaleconomico.pt/noticias/joao-bento-ceo-dos-ctt-e-me-indiferente-a-estrutura-de-capital-da-empresa-455566

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