Cuidar significa garantir a preservação de algo, dedicar esforço e tempo com o objetivo de proporcionar bem-estar e segurança a outros. Engloba interações sociais e práticas culturais, indo para além da manutenção ou tratamento médico.

Para Angelika Fitz, diretora do Centro de Arquitetura de Viena, cuidar é trata de melhorar as nossas vidas e a forma como vivemos juntos, através de abordagens que permitam que todos se reconciliem com o seu próprio sentido de agenciadores no espaço e no lugar, encarando a interdependência como uma condição inerente ao ambiente construído que não pode ser isolado dos sistemas político, social e cultural.

Neste contexto, repensar a cidade e a arquitetura como prática de cuidar é fundamental para a cooperação social e a criação de valor a partir do envolvimento de cada um de nós. Cuidar é a ferramenta necessária para o sucesso dos processos cooperativos sociais sustentáveis, nos quais os arquitetos fornecem soluções socioespaciais para necessidades muitas vezes desvalorizadas ou incompreendidas pelos governos locais e instituições privadas.

A dimensão espacial e de representação é central no agir comum, no ato de tornar comum. Como afirma a arquiteta Joana Braga, “o comum é espaço utilizado e partilhado por todos os que o habitam, aberto a toda a gente que queira participar na sua continuada reconfiguração e que aceite as regras que forem coletivamente decididas”.

Nestes processos, os arquitetos expandem os seus papéis disciplinares, uma vez que utilizam o ativismo para responder para além da sua habitual prática profissional. O planeamento, conceção e construção são confrontados com uma variedade de experiências passadas, expectativas futuras, interesses, formas de conhecimento, atores e instituições, que exigem a imperativa renovação urbana equitativa e um novo contrato social entre a sociedade civil, o governo local e as instituições.

A arquitetura do cuidar é marcante pela sua empatia para com o contexto, os cidadãos e os recursos disponíveis no local. Uma visão de longo prazo que adota uma posição crítica em relação à atual atividade humana no planeta.  Para a arquiteta Melanie Dodd, os projetos espaciais do “aqui e agora” envolvem diversas práticas que abraçam o político e o ativista, mas também o performativo e o curatorial.

Cada vez mais temos casos nacionais e internacionais que respondem às crises que atravessamos com processos de cooperação e envolvimento dos cooperantes por meio da cocriação de soluções, segundo um conjunto de diretrizes ou regras de trabalho que se consolidam ao longo do tempo, e são, ou podem ser, replicados como prática em locais geográficos diferentes, por comunidades diversas e heterogéneas, no mesmo ou noutros contextos e domínios culturais.

Os Laboratórios do Património Cooperativo “OpenHeritage” são exemplos dos processos de cuidar através da governação inclusiva do património cultural (grupos comunitários, ONG, representantes do governo local, pequenas empresas e universidades), do desenvolvimento e capacitação das comunidades para processos de reutilização adaptativa e da exploração de modelos financeiros inovadores. O “Funding the cooperative City”, como plataforma aberta, tornou-se o espaço primordial para que diferentes grupos sociais possam encontrar-se de forma criativa para discutir questões sociais. Sem a sua existência nunca se encontrariam.