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Custo da dívida vai marcar ritmo do PSI20 em 2017

À semelhança do que aconteceu em 2016, a maioria dos analistas acredita que o PSI20 voltará a desiludir face aos pares. BCE e custo da dívida são as preocupações centrais.
  • Brendan McDermid/Reuters
2 Janeiro 2017, 09h53

As perspetivas dos analistas para a praça nacional, em 2017 são uma espécie de “sim, não, mas, talvez”. O consenso está longe de imperar entre os especialistas e o que é visto como fator de suporte num momento pode rapidamente transformar-se em fator de risco. A política monetária expansionista do Banco Central Europeu deverá continuar a a dar algum apoio aos mercados acionistas no próximo ano, PSI20 incluído, mas as perspetivas do fim do programa de compra de ativos, no final de 2017, deverão introduzir maior volatilidade no segundo semestre.

A subida das ‘yields’ soberanas deverá favorecer uma deslocação das carteiras da classe das obrigações para os mercados acionistas, mas uma potencial subida mais forte das ‘yields’ portuguesas poderá exacerbar o sentimento de risco em relação aos ativos nacionais. Já em relação aos títulos mais apelativos é caso para dizer: “Cada cabeça, sua sentença”.

Por um lado, o PSI20 sofre as influências das perspectivas globais. E aqui, Albino Oliveira, analista da Patris Investimentos, nota que “as perspetivas para os primeiros meses de 2017 parecem ser positivas para a generalidade dos índices de ações dos países desenvolvidos e, consequentemente, para o índice nacional PSI 20”. Isto num contexto de expectativas mais positivas para o crescimento nominal da economia mundial e de subida das ‘yields’ soberanas que, explica, “favorecem uma deslocação das carteiras da área das obrigações para a classe de ativos das ações”. Dito isto, Albino Oliveira identifica precisamente a expectável “subida mais forte nas ‘yields’ soberanas de Portugal como representando possivelmente o maior risco” para o mercado nacional. O custo da dívida pública promete mesmo voltar a ser tema em destaque no próximo ano.

De acordo com a equipa de ‘research’ do BiG, “o desempenho do PSI20 em 2017 estará muito dependente da evolução do prémio de risco da dívida pública portuguesa face às ‘bunds’, uma situação que se tem vindo a agravar nos últimos meses”. O ‘spread’ face à dívida alemã mais do que duplicou em 2016 e segue agora em 360 pontos base, depois da última reunião do BCE ter desiludido os “investidores domésticos” dada a manutenção dos limites da dívida pública de cada país que podem ser detidos pelo Eurosistema (33%).

Os especialistas do BiG consideram por isso que “esta situação torna o quadro de investimentos em Portugal particularmente frágil no contexto atual, tendo em conta a relativa proximidade dessa barreira – poderá ser atingida a partir de Junho de 2017 a manterem-se os ritmos atuais de compras mensais do BCE”. Além disso, as perspetivas da extinção do programa no final do ano deverão pressionar o índice no segundo semestre. A equipa do BiG nota ainda que a excessiva concentração do mercado nacional em torno de alguns títulos – quase 70% do índice é representado por seis títulos (EDP, Jerónimo Martins, Galp, NOS, BCP e EDP Renováveis) – aos quais atribuem um potencial de subida limitado, “poderá igualmente confinar a perspetiva de recuperação do PSI 20 a partir de determinado nível, não obstante a sua ‘underperformance’ face aos pares europeus em 2016”.

O índice de referência nacional termina o ano com uma queda superior a 12%, acompanhado apenas pela praça de Copenhaga, que registam assim a pior performance na Europa. Mas, “à semelhança deste ano, o índice nacional poderá voltar a apresentar alguma ‘underperformance’ face aos congéneres europeus, fruto das fragilidades apresentadas pela economia doméstica ou pelos principais parceiros”, afirma Marisa Cabrita, gestora de ativos da Orey Financial. Para esta especialista, “embora o programa de compra de ativos que o BCE irá manter até finais de 2017 contribua para manter o prémio de risco em níveis estáveis, com especial destaque para as economias periféricas, as perspetivas de crescimento económico e resultados são modestas”.

Já Eduardo Silva, gestor da corretora XTB, tem uma visão mais otimista para o mercado nacional. Afirma que a tendência é altista, suportada por um setor financeiro mais sólido, uma menor indefinição política um crescimento que deverá continuar firme e um euro pressionado pela política expansionista do BCE, o que beneficia as exportadoras. Ainda, também ele aponta para um segundo semestre mais volátil até que se perceba que rumo tomará a política monetária a partir de 2018.

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