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Da depressão aos milhões: os custos associados ao trabalho noturno e por turnos

Os trabalhadores noturnos e por turno têm aumentado desde a troika. Se há determinados setores de atividade económica que precisam deles, não é menos verdade que estes tipos de trabalhos têm impactos na qualidade de vida dos trabalhadores. No entanto, as empresas também podem ser afetadas negativamente.
25 Setembro 2018, 08h50

Em 2017, 16% da população ativa portuguesa tinha trabalhos por turno. Segundo o “Diário de Notícias”, estavam empregadas nestas condições cerca de 752 mil pessoas. E, em junho deste ano, o número aumentou para as 761 mil pessoas.

A acompanhar esta tendência, o número de pessoas a trabalhar durante o fim-de-semana também aumentou. De acordo com aquela publicação, mais de dois milhões de pessoas trabalhavam ao sábado enquanto mais de um milhão trabalhava ao domingo. Além disso, “olhando para os dados do primeiro semestre deste ano, o valor continua a subir”, lê-se, com mais 42 mil pessoas a trabalharem ao domingo em junho de 2018.

De acordo com um estudo de março de 2018, elaborado pela Ordem Profissional dos Psicólogos (OPP), quer o trabalho por turnos, quer o trabalho nocturno podem acarretar riscos psicossociais que “constituem uma das maiores ameaças à saúde física e mental dos trabalhadores, ao bom funcionamento e produtividade das organizações” e interferem “negativamente com o bem-estar dos colaboradores”.

Entre os riscos psicossociais, o estudo elenca os problemas de saúde física, as alterações nos ritmos circadianos e perturbações do sono e os problemas de saúde psicológica.

Em relação aos problemas de saúde física, a OPP alerta para perturbações gastrointestinais, o cancro e as doenças cardiovasculares. Entre estas últimas, o estudo revela que “quando existe exposição a regimes de trabalho nocturno e por turnos rotativos” é comum o enfarte do miocárdio. Paralelamente, no caso das mulheres, o trabalho por turnos ou nocturno pode causar “problemas reprodutivos”.

As alterações nos ritmos circadianos e perturbações do sono são causadores de “grande stresse fisiológico”. Além disso, o estudo refere que a “alteração forçada daquele que é ritmo natural diurno do ser humano” causa ainda outros problemas de saúde, como por exemplo, problemas digestivos, irritabilidade, fadiga e sonolência.

Além destes problemas, o trabalho por turnos e o trabalho nocturno causam ainda problemas de saúde psicológica, diz o estudo da OPP. Por exemplo, “a ansiedade, a depressão e as dificuldades em equilibrar a vida profissional com a vida familiar e social, nomeadamente com a parentalidade”.  O estudo alerta ainda para o facto de “os problemas de saúde psicológica podem afetar a forma como os colaboradores sentem, pensam e agem, interferindo na sua capacidade de realizar algumas tarefas ou manter relações com os outros”.

Quanto à depressão, a OPP cita outros estudos académicos que concluíram que entre os trabalhadores em regime por turnos, o risco de depressão aumentava cerca de 42%. “Se assumirmos que, numa empresa, a prevalência da depressão é equivalente à da população portuguesa, ou seja, 6,8%, e tomarmos como pressuposto que, em média, cada colaborador a tempo inteiro, com uma depressão que não seja tratada, custa à organização 8.794 euros por ano”, diz a OPP. Nesse contexto, “uma empresa com 250 colaboradores, pode ter 17 colaboradores com uma depressão que, se não for tratada, custará à empresa cerca 149.500 euros por ano”.

Mas os trabalhadores não são os únicos afetados – o trabalho por turnos e o trabalho nocturno tem impactos negativos não só nas organizações, como na sociedade em geral, diz a OPP.

Estes dois tipos de trabalho causam, igualmente, a “redução da produtividade e eficiência dos colaborares, um aumento das taxas de absentismo, assim como maior probabilidade de cometerem erros e terem acidentes”.

O estudo da OPP revela que o absentismo, a diminuição da produtividade e da qualidade do trabalho, os conflitos e a degradação do clima de trabalho, a necessidade de substituir os colaboradores e os custos com despesas na saúde dos mesmos constituem “consequências nefastas” para os empregadores e para a sociedade que “suporta igualmente custos com a saúde e o impacto económico da diminuição da produtividade”.

Em 2014, a OPP estimou o custo dos problemas de saúde no trabalhado em Portugal e concluiu que “os trabalhadores faltam 1,3 dias por ano devido a problemas de saúde psicológica” o que custa às empresas 48 milhões de euros. O ‘presentismo’ – trabalhador presente no local de trabalho mas que, devido a problemas psicológicos, não consegue desempenhar as suas funções – é de “cerca de dois dias por ano” e custa 282 milhões de euros às empresas nacionais. Finalmente, a perda de produtividade custa às organizações 329 milhões de euros por ano.

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