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Da Europa ao Sudeste Asiático. As reações à decisão de Trump sobre Jerusalém

Os líderes mundiais temem que a decisão possa fazer escalar os níveis de violência, numa cidade que alberga locais sagrados para muçulmanos, judeus e cristãos.
6 Dezembro 2017, 12h17

O plano do presidente norte-americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel está a provocar uma série de críticas da parte de diferentes países. Da Europa ao Sudeste Asiático, os líderes mundiais temem que a decisão possa fazer escalar os níveis de violência, numa cidade que alberga locais sagrados para muçulmanos, judeus e cristãos.

Apesar da controvérsia, Donald Trump está focado em avançar com a decisão e está previsto que, por volta das 13h00 locais (18h00 em Lisboa), seja anunciada a mudança da embaixada norte-americana no país (atualmente em Telavive) para a cidade de Jerusalém.

Caso se confirme esta decisão, os Estados Unidos passam a ser o único país do mundo a reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

 

Turquia urge EUA a reconsiderar decisão sobre estatuto de Jerusalém

O primeiro-ministro turco, Binali Yldirim, foi um dos primeiros a pronunciar-se sobre o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. O líder turco insta Donald Trump a reconsiderar a decisão tomada, tendo em conta que esta pode fazer estalar o verniz no Médio Oriente.

“Creio que este é um assunto que deveria ser reconsiderado”, afirmou. “Na minha opinião, a decisão de mudar a embaixada dos Estados Unidos a Jerusalém pode agravar os conflitos entre Israel e a Palestina e entre as religiões”.

Já na terça-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tinha deixado alguns avisos aos Estados Unidos em relação a este assunto: “Senhor Trump, Jerusalém é a linha vermelha dos muçulmanos. Esta situação pode levar à rutura das nossas relações diplomáticas com Israel”.

Recep Erdogan afirmou ainda que se Jerusalém for reconhecida por Washington como capital israelita, a Turquia convoca uma cimeira muçulmana que pode conduzir à rutura de relações diplomáticas com Israel.

 

Reino Unido acredita que solução para Jerusalém deveria ser negociada

O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, afirmou que está preocupado com a intenção de Donald Trump. O Governo britânico considera que o reconhecimento da cidade como capital de Israel deveria ser discutido entre as nações que reivindicam o controlo da região e sublinha que o país não tem intenção em seguir a iniciativa norte-americana.

“Vemos com preocupação a informação que ouvimos”, disse Boris Johnson, à chegada a uma reunião da NATO. “Acreditamos que Jerusalém deveria, é claro, fazer parte de uma solução final (para o conflito) entre israelitas e palestiniano, uma solução negociada”.

 

Síria condena reconhecimento de Jerusalém como “capital da ocupação israelita”

O Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio reagiu à notícia expressando a sua “forte” condenação à iniciativa. “A Síria condena fortemente a vontade do presidente norte-americano de transferir a embaixada norte-americana para Jerusalém ocupada e de reconhecer Jerusalém como capital da ocupação israelita”, pode ler-se na nota publicada.

O Governo sírio alerta para os perigos que podem estar associados a esta decisão, notando que esta pode provocar a ira das diferentes nações que reclamam a cidade como sua capital. “Esta iniciativa perigosa da administração norte-americana mostra claramente o desprezo dos Estados Unidos pela lei internacional”, sublinha.

 

Vaticano: Papa Francisco pede “sabedoria e prudência” a Donald Trump 

O líder da igreja católica afirma que não pode calar a sua “preocupação perante a situação que se criou nos últimos dias” e lembra que “Jerusalém é uma cidade única, sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, que ali veneram locais sagrados para as suas respetivas religiões, e ela tem uma vocação especial para a paz”.

O papa Francisco pede, por isso, aos Estados Unidos para que ajam com “sabedoria e prudência”. “Peço que todos se comprometam a respeitar o estatuto da cidade, em conformidade com as resoluções das Nações Unidas”, sublinhou, durante a audiência semanal, perante milhares de fiéis, no Vaticano.

ONU considera que estatuto de Jerusalém deve ser negociado

Da Organização das Nações Unidas (ONU) chega uma curta reação do enviado especial para o Médio Oriente, Nickolay Mladenov, que afirma que o futuro estatuto de Jerusalém deve ser assunto de negociações.

“O futuro de Jerusalém é um assunto que deve ser negociado entre israelitas e palestinianos em negociações diretas”, considerou durante uma conferência de imprensa realizada hoje em Jerusalém.

A Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos na região, também já alertou que a transferência da embaixada para Jerusalém poderá provocar “a ira dos muçulmanos”.

Portugal espera que anúncio dos EUA “não desperte escalada de violência”

O ministro dos Negócios Estrangeiros disse hoje esperar que o reconhecimento pelos EUA de Jerusalém como capital de Israel não ”desperte uma escala da violência”, salientando que a solução para o conflito passa pela “coexistência” entre Israel e a Palestina.

“Portugal entende que a solução dos dois Estados, o Estado de Israel e o da Palestina coexistindo lado a lado é a única solução capaz de ultrapassar o presente conflito israelo-palestiniano”, disse à agência Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE).

De acordo com Augusto Santos Silva, todos os que querem contribuir para uma solução dos dois Estados para ultrapassar a questão israelo-palestiniana deveriam abster-se de tomar decisões que apenas vão afastar uma solução para o conflito.

“Por isso, não podemos acompanhar a decisão norte-americana de transferir a sua representação diplomática para Jerusalém. A nossa representação diplomática está em Telavive e temos outra em Ramallah, na Palestina, e entendemos que o estatuto futuro da cidade de Jerusalém é um dos temas a ser discutido e resolvido no quadro mais geral de solução para o conflito israelo-palestiniano”, salientou.

 

China preocupada com “escalar de tensões”

A China disse hoje estar preocupada com o plano do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, afirmando temer um “escalar de tensões” na região.

“Estamos preocupados com uma possível escalada de tensões”, afirmou Geng Shuang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

“Todas as partes envolvidas devem ter em mente a paz e estabilidade regionais, ter cautela nas ações e declarações, evitar minar a base para uma resolução da questão palestiniana e abster-se de gerar um novo confronto na região”, afirmou Geng, em conferência de imprensa.

 

Liga Árabe convoca reunião de emergência

A Liga Árabe convocou hoje uma reunião de emergência dos ministros dos Negócios Estrangeiros da região para discutir a intenção dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

A convocação da reunião foi solicitada pela Jordânia, após um pedido da Palestina, e depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter comunicado a vários líderes árabes a intenção de mudar a sua embaixada de Telavive para Jerusalém.

 

Rússia preocupada com reconhecimento, admite “deterioração”

A presidência russa está preocupada com a intenção dos Estados Unidos de reconhecerem Jerusalém como capital de Israel e teme uma ”possível deterioração” da situação no Médio Oriente, disse à imprensa o porta-voz do Kremlin.

“A situação não é fácil”, disse Dmitri Peskov, porta-voz do Presidente Vladimir Putin, num encontro com jornalistas em Moscovo.

Segundo Peskov, Putin falou do assunto com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, na terça-feira à noite, e manifestou a sua preocupação com “uma possível deterioração” da situação na região.

Esta reviravolta na política externa dos EUA é uma promessa de campanha de Donald Trump e vai contra uma década de prudência dos norte-americano sobre esta questão.

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