Catarina Martins disse que todos os dias se arrepende da criação da ‘geringonça’. Também se arrepende?
Na vida pública, política, não uso essas expressões de arrependimento. Tento fazer o melhor, ficar de bem comigo próprio. Mas não sou sujeito a estados de alma dessa natureza. Agora, sei que uma grande maioria dos portugueses acha que esta foi a melhor solução governativa para o país. Acho que tem sido uma experiência positiva. Colocar o debate político entre os partidos que suportam esta solução governativa num plano de construção e não apenas no debate ideológico, obriga-nos a outro esforço, a todos nós. E acho que isso é um contributo irreversível desta experiência. Nada voltará a ser como antes, depois da experiência que vivemos nestes meses. Todos nós aprendemos a discutir – o que não acontecia há muitos anos – não apenas com base nas nossas posições de trincheira, mas numa proposta que tem de se transformar em realidade.
A sua área obriga-o a ter mais jogo de cintura?
Esta pasta é caraterizada por ter uma atenção especial às questões táticas. Já estive uns anos nesta pasta e negociei sete ou oito acordos de concertação social, alguns deles com todos os parceiros. Garanto que não é mais fácil do que ter acordos parlamentares nesta área. Os limites que mais sinto são os constrangimentos da economia. Há quem desvalorize o consenso social, mas eu acho que, nas áreas da proteção social ou das relações de trabalho, a existência de consensos é uma garantia do cumprimento da lei. Nestas áreas, além das agendas políticas, há que caldear isso com uma dose significativa de pragmatismo.
Vai convidar a direita a olhar para estas reformas?
A nossa Assembleia da República tem um passado muito recente nesta área. Quando falam de consenso na reforma da Segurança Social, não podemos esquecer-nos de que o que nós conhecemos são cortes nas pensões, caminho para a privatização, e plafonamento. Podem dizer “agora já não pensamos nisso”, mas é um pouco estranho. Portanto, a consistência das propostas do arco do semicírculo do lado direito da assembleia, tenho dificuldade em considerá-las sérias.
A polémica das viagens da Galp levou à criação de um código de conduta. Se lhe oferecerem prendas até 150 euros aceita?
Não julgo que alguém possa avaliar o meu comportamento como tendo qualquer possibilidade de ser influenciado por esse tipo de gestos. Tenho o bom senso para retribuir com simpatia quando sou tratado com simpatia. Se eu vou a um sítio e me oferecem um pote de mel, não vou devolvê-lo. Esses gestos de simpatia fazem parte da nossa cultura. A questão essencial é que as pessoas permaneçam sempre fiéis a uma visão de serviço público que não é compatível com outras formas de visão pessoal. Aí sou muito exigente.
A Santa Casa é da sua tutela. Está satisfeito com a gestão?
A gestão veio de trás. Este Governo apenas renovou a confiança nessa gestão. É uma instituição muito importante e cada pessoa que a gere imprime o seu cunho pessoal. Mas, no geral, eu identifico-me com uma grande parte das opções, para não dizer a totalidade, que a Santa Casa tem tomado. Desde logo, uma forte defesa da dimensão social da sua receita.
É um elogio a Pedro Santana Lopes, que é dado como possível candidato à Câmara de Lisboa. Já pensou num substituto?
Se ele decidir concorrer, logo se verá. Mas já o disse publicamente – e ele sabe o que penso – que achei que era uma boa opção a continuidade.
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