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“Depois da ‘geringonça’, nada será como antes”

Vieira da Silva considera que a so­lução governativa de esquerda – a famosa ‘geringonça’ – tem sido uma experiência positiva. E sublinha que a palavra “arrependimento” não consta no seu dicionário político.
16 Setembro 2016, 11h27

Catarina Martins disse que todos os dias se arrepende da criação da ‘geringonça’. Também se arrepende?
Na vida pública, política, não uso essas expressões de arrependimento. Tento fazer o melhor, ficar de bem comigo próprio. Mas não sou sujeito a estados de alma dessa natureza. Agora, sei que uma grande maioria dos portugueses acha que esta foi a me­lhor solução governativa para o país. Acho que tem sido uma experiência positiva. Colocar o debate político entre os par­tidos que suportam esta solução governativa num plano de construção e não apenas no debate ideológico, obriga-nos a outro esforço, a todos nós. E acho que isso é um contributo irreversível desta experiência. Nada vol­tará a ser como antes, depois da experiência que vivemos nestes meses. Todos nós aprendemos a discutir – o que não acontecia há muitos anos – não apenas com base nas nossas posições de trincheira, mas numa proposta que tem de se transformar em realidade.

A sua área obriga-o a ter mais jogo de cintura?
Esta pasta é caraterizada por ter uma atenção especial às questões táticas. Já estive uns anos nesta pas­ta e negociei sete ou oito acordos de concertação social, alguns deles com todos os parceiros. Garanto que não é mais fácil do que ter acordos parlamentares nesta área. Os limites que mais sinto são os constrangimentos da economia. Há quem desvalorize o consenso social, mas eu acho que, nas áreas da proteção social ou das relações de trabalho, a existência de consensos é uma garantia do cumprimento da lei. Nestas áreas, além das agendas po­líticas, há que caldear isso com uma dose significativa de pragmatismo.

Vai convidar a direita a olhar para estas reformas?
A nossa Assembleia da República tem um passado muito recente nesta área. Quando falam de consenso na reforma da Segurança Social, não podemos esquecer-nos de que o que nós conhecemos são cortes nas pensões, caminho para a privatização, e plafonamento. Podem dizer “agora já não pensamos nisso”, mas é um pouco estranho. Portanto, a consistência das propostas do arco do semicírculo do lado direito da assembleia, tenho dificuldade em considerá-las sérias.

A polémica das viagens da Galp levou à criação de um código de conduta. Se lhe oferecerem prendas até 150 euros aceita?
Não julgo que alguém possa avaliar o meu comportamento como tendo qualquer possibilidade de ser influenciado por esse tipo de gestos. Tenho o bom senso para retribuir com simpatia quando sou tratado com simpatia. Se eu vou a um sítio e me oferecem um pote de mel, não vou devolvê-lo. Esses gestos de simpatia fazem parte da nossa cultura. A questão essencial é que as pessoas permaneçam sem­pre fiéis a uma visão de serviço público que não é compatível com outras formas de visão pessoal. Aí sou muito exigente.

A Santa Casa é da sua tutela. Está satisfeito com a gestão?
A gestão veio de trás. Este Governo apenas renovou a confiança nessa gestão. É uma instituição mui­to importante e cada pessoa que a gere imprime o seu cunho pessoal. Mas, no geral, eu identifico-me com uma grande parte das opções, para não dizer a totalidade, que a Santa Casa tem tomado. Desde logo, uma forte defesa da dimensão social da sua re­ceita.

É um elogio a Pedro Santana Lopes, que é dado como possível can­didato à Câmara de Lisboa. Já pensou num substituto?
Se ele decidir concorrer, logo se verá. Mas já o disse publicamente – e ele sabe o que penso – que achei que era uma boa opção a continuidade.

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